Novos dados das atividades produtivas comprovam a tendência de recuperação em V da economia capixaba. No terceiro trimestre de 2020, o Produto Interno Bruto (PIB) do Espírito Santo avançou 10,3% em relação ao período anterior, segundo projeção do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN). No trimestre passado, a queda foi de 11% frente ao primeiro trimestre.
Os números indicam que o Estado está se recuperando rapidamente. Entretanto, a retomada ainda carece de consolidação nos próximos meses. Os resquícios da crise provocada pelo novo coronavírus só devem realmente desaparecer por completo por volta de 2022, após a vacinação em massa da população capixaba.
"O resultado anualizado vai depender muito da economia do quarto trimestre. Os primeiros resultados de outubro, que acompanhamos pelo IBGE, nos mantêm otimistas. Mas ainda precisamos ter alguns cuidados em relação à saúde, para que continuemos nessa tendência de recuperação da atividade econômica", observou o coordenador de Estudos Econômicos do IJSN, Antônio Rocha.
No acumulado do ano, o recuo do PIB capixaba foi de 7%, na comparação com o mesmo período de 2019 superior à média nacional, de 5%. Em relação ao terceiro trimestre do ano anterior, a retração foi de 4,6%; o resultado também supera a marca do país, que registrou queda de 3,9% nesta comparação.
O Espírito Santo tem uma ligação muito forte com o comércio exterior, cerca de duas vezes a abertura do Brasil. Isso nos coloca em situação privilegiada de poder alavancar a produtividade da economia. Por outro lado, também significa que temos maior volatilidade em relação aos ciclos mundiais de comércio. Num momento em que a economia global está crescendo, a gente tende a se beneficiar. E, num período de crise, temos um desempenho pior em relação ao país, observou o o diretor-presidente do IJSN, Daniel Cerqueira.
O PIB é o valor de tudo o que é produzido na economia. A contração recorde do indicador do segundo trimestre marcou o auge das medidas de isolamento social adotadas para combater o avanço da doença que já infectou mais de 220 mil e levou a mais de 4.600 mortos apenas no Espírito Santo em cerca de nove meses.
À época da divulgação dos resultados do segundo trimestre, Cerqueira já havia previsto que as chances eram de uma recuperação rápida nos meses seguintes. É justamente essa rapidez da recuperação, após uma queda abrupta, que caracteriza a retomada em V, conforme demonstrada no gráfico acima.
A melhora do cenário é decorrente da flexibilização das atividades econômicas, que permitiu, principalmente, a retomada dos setores de comércio, e, ainda que em menor ritmo, o de serviços, que foi um dos mais penalizados pela crise.
"De modo geral, foi um crescimento bastante expressivo em relação ao terceiro trimestre. Claro que temos que colocar prudência em relação à Covid-19. Mas o pior parece já ter passado. Mesmo que o setor de serviços ainda levante certa preocupação, vemos elementos muito fortes para continuar alavancando a economia capixaba: a volta da Samarco, o aumento da produção da Suzano com a nova fábrica, o aumento da produção siderúrgica. Isso tudo vai movimentar a indústria, que tem puxado nossas perdas já há algum tempo", observou o diretor-presidente do IJSN.
Ele chama a atenção para a relação do Estado com o comércio exterior, que faz com que as oscilações no mercado internacional sejam sentidas mais fortemente pelo Espírito Santo, que é grande exportador de commodities. Ao cenário, que já vinha fraco desde 2019 em nível global, e foi agravado internamente pela tragédia de Brumadinho, em Minas Gerais, somou-se a pandemia, que fez com que o desempenho das indústrias recuasse substancialmente.
Entretanto, o mercado externo volta a ficar aquecido, o que aumenta a demanda pelos produtos do Estado. Ao mesmo tempo, há um entendimento maior sobre como lidar com a pandemia, o que tem permitido que os resultados das demais atividades melhore gradualmente.
O diretor de Integração e Projetos Especiais do IJSN, Pablo Lira, observa que a primeira fase da pandemia teve um efeito traumático na economia. Agora, há um novo aumento de casos, mas os impactos não devem ser os mesmos.
"No início da pandemia, a taxa de transmissão chegou a 3,4 ou 3,6 no Estado. E era um momento ainda em que estávamos aprendendo ainda a conviver, a enfrentar o problema. Estávamos expandindo o sistema de saúde, aprimorando o tratamento. Com o passar do tempo, vimos uma maior segurança, que possibilitou uma retomada gradativa. Outros estados retomaram várias atividades de uma vez só, o que não foi bom. Veja o exemplo do Rio de Janeiro. Nós retomamos gradativamente, e essa taxa chegou a 0,6%. Tivemos um aumento nos meses de outubro, novembro, mas o cenário agora é diferente. E existe ainda a perspectiva de chegada da vacina para os grupos prioritários nos próximos meses."
No terceiro trimestre de 2020, o PIB capixaba foi estimado em R$ 35,2 bilhões, segundo o IJSN. No acumulado em quatro trimestres, totalizou 137,9 bilhões. Ainda segundo o instituto, a atividade econômica estadual apresentou retração em três das quatro bases de comparação temporal.
Contribuíram para o resultado de -7% no acumulado do ano: a retração de -18% da indústria geral, e -8,3% nos serviços. As perdas foram suavizadas pela expansão de 2% do comércio varejista ampliado.
Também houve oscilações nas transações com o comércio exterior. As exportações caíram 45,25% no acumulado do ano. As importações, por outro lado, cresceram 3,98%.
Mais informações em instantes.
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