O processo de simplificação dos impostos no Brasil já venceu algumas etapas positivas para o contribuinte e até agora não trouxe mudanças que vão derrubar excessivamente a arrecadação do Espírito Santo. A próxima fase da reforma tributária, no entanto, pode ser decisiva para os capixabas. Por isso, o governo estadual quer a alteração de quatro pontos nas regras, que vão estabelecer o novo modelo de cobrança e de divisão de receitas.
A ideia é trabalhar para que o Senado mude dois itens que constam no texto aprovado recentemente pelos deputados federais. Os outros dois tópicos que o Estado quer uma nova redação fazem parte de proposta que ainda engatinha no Congresso e que vai definir a forma de administração das receitas municipais e estaduais.
Na semana passada, a Câmara votou e aprovou uma das regulamentações, o projeto 68/24, estabelecendo série de regras para a cobrança do Imposto sobre Bens e Serviços (IBS), que unifica o ICMS e o ISS; do Imposto Seletivo (IS); e da Contribuição Social sobre Bens e Serviços (CBS), que toma o lugar das atuais taxas federais, como PIS, Cofins e IPI.
Segundo o secretário da Fazenda do governo do Espírito Santo, Benício Costa, uma das preocupações é com a falta de uma norma para a substituição tributária do ICMS, principal modelo hoje de arrecadação dos Estados, que permite a taxação do item ainda na fábrica e nas distribuidoras, antes de chegar ao consumidor final. Ele levanta ainda a necessidade de se incluir no texto a isenção das compras governamentais.
O maior movimento de alerta, contudo, na visão de Costa, é o projeto de lei complementar 108/24. A regulamentação estabelece as atribuições do Comitê Gestor (CG-IBS) que vai arrecadar e distribuir os recursos entre Estados e municípios.
O órgão foi criado pela emenda constitucional 132/2023, principal texto da reforma tributária, sancionado no final do ano passado, que trocou a principal fatia da tributação da origem para o destino, algo que afeta diretamente o Executivo capixaba. O modelo deixou o governo estadual em vigilância, pois Estados menos populosos, como o Espírito Santo, poderiam ter redução de verbas. Mas com ajustes que foram sendo feitos nas matérias legislativas ao longo das discussões, a leitura é de que não haverá perdas.
Ajustes, porém, são necessários, de acordo com Costa. Além de elaborar metologia e cálculos de alíquota, o comitê terá atribuições, como definir a participação de cada ente subnacional na fatia da arrecadação, aplicar as punições aos contribuintes e resolver o contencioso administrativo (sistema de solução de conflitos de ordem administrativa) e atuar em cooperação com a Receita Federal.
O formato do custeio é que precisa ser repensado, afirma o secretário, ao acrescentar que o projeto de regulamentação que tramita na Câmara deveria instituir o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no lugar da Selic para o financiamento das despesas da instituição fazendária. Além disso, o fundo de combate à pobreza pode ser desfalcado se não houver mudança no percentual dos recursos que serão repassados.
As mudanças nos impostos aprovadas na Câmara não são imediatas. O texto ainda será analisado pelo Senado, e haverá uma transição da reforma, que começa em 2026 e só deve estar plenamente implementada em 2033. O novo modelo, somado, deve cobrar, no máximo, 26,5% de imposto sobre o preço.
Uma das preocupações do Espírito Santo com a reforma é o fim dos incentivos fiscais em 2032, o que pode acabar afastando investimentos importantes para a economia do Estado.
Embora ainda não seja possível calcular, a perda dos incentivos pode acabar sendo compensada lá na frente pela inserção de uma gama de bens e serviços na lista que hoje não são tributados nem por ICMS ou ISS e que passarão a ser. Um exemplo disso é a locação de carros.
"É importante frisar que durante três anos, de 2026 a 2028, haverá uma alíquota de teste. Durante esse período, a gente vai conseguir mensurar base de incidência do imposto e com mais precisão a alíquota. Porque hoje há dificuldade de se calcular esse impacto", detalha.
Nessa análise sobre a incidência do imposto, será possível entender melhor os impactos, por exemplo, das alíquotas zeradas para 22 alimentos previstos na nova cesta básica do projeto, e também outras reduções no imposto previstas para alguns setores. Mas na opinião de Benício Costa, o diferencial dessa reforma é a simplificação da cobrança de impostos. E quando as exceções vão sendo aplicadas, isso acaba indo na contramão e deixando a tributação complexa.
Outra questão discutida é a questão do impacto da inserção do petróleo e gás e mineração dentro do Imposto Seletivo (IS), setores importantes para a economia do Espírito Santo. Para Benício Costa, no primeiro momento, isso teria impacto positivo para o Estado. Ele explica que apesar dessa mudança reduzir possivelmente a participação especial recebida por Estados e municípios, a tributação de alguns bens e serviços pode compensar.
Outro ponto que também pode pesar junto à reforma tributária é de uma proposta encabeçada pelo presidente do Senado, Renato Pacheco, que prevê a renegociação de dívidas dos entes subnacionais, privilegiando duplamente Estados superendividados com grandes operações de consumo.
Com uma população maior, esses governos podem ter um aumento de arrecadação após a simplificação dos impostos, além de ter mais prazo para pagar as dívidas, como é o caso de Minas Gerais.
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