O crescimento sustentado da economia do país, com a geração de novos postos de trabalho, dependerá de um amplo pacote composto pela aprovação de reformas macroeconômicas, pelas privatizações e por investimentos para garantir uma educação de qualidade. E, para que tudo isso ocorra, é necessário planejamento e metas bem definidos por parte do governo.
Essa é a avaliação das empresárias Maria Silvia Bastos Marques, presidente do Conselho Consultivo do Goldman Sachs no Brasil, e Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho de Administração da Magazine Luiza. Elas participaram nesta sexta-feira (04) do painel "Papo de CEO" no Vitória Summit, evento realizado pela Rede Gazeta.
Maria Silvia, que foi a primeira mulher a presidir o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), no governo de Michel Temer, ponderou que o primeiro passo para avançar na geração de empregos é investir na qualidade de ensino para que se tenha um aumento de produtividade.
Ainda sobre o mercado de trabalho, a executiva defendeu que o Brasil tem um grande potencial turístico e que este é um dos setores com muitas possibilidades de empregos ao longo dos anos.
O potencial brasileiro é muito grande. Aprendi isso durante a Olimpíada de 2016, realizada no Rio de Janeiro. Dependendo do número de estrelas de um hotel, um quarto pode gerar até cinco empregos, que vai de recepcionista e arrumador até um gerente. Temos a Pedra Azul, a Amazônia, o Pantanal, dentre tantos outros pontos turísticos. Isso sem contar as vagas que poderão ser abertas em companhias aéreas, nos serviços de restaurante e de táxis, avaliou.
Luiza, que durante o evento anunciou que abrirá uma loja do Magazine Luiza no Espírito Santo, concordou. Para ela, o turismo, aliado à digitalização, trariam "um mundo de oportunidades" para o Brasil.
"Um amigo me disse que não ia mais ter emprego com a digitalização e eu não concordo. Há um mundo de possibilidades. Portugal, por exemplo, se reergueu com o turismo. O Brasil tinha 6 milhões de turistas e Portugal recebe 15 milhões, com 10 milhões de habitantes. O turismo em um país pobre de educação e oportunidades, pode gerar milhares de empregos, que vão desde a pessoa que limpa o hotel até o dono do avião. Imagina uma união em torno do turismo brasileiro o quanto de possibilidades poderiam ser abertas", acrescentou.
Sobre a retomada do crescimento no pós-pandemia, Maria Silvia foi taxativa: não há milagre. Ela afirmou que a recuperação não virá apenas com uma aposta no aumento do consumo e com a garantia de investimentos públicos e defendeu a aprovação de reformas como uma maneira do país transmitir confiança para atrair investimentos, voltar a crescer, e gerar novas oportunidades de emprego.
Um exemplo é a reforma tributária. O que aconteceu nos últimos anos foi uma série de puxadinhos, com incentivo fiscal, subsídios, custo Brasil, entre outros. Isso não aumentou a nossa produtividade. É importante lembrar que gastamos recursos de forma equivocada. Se não fizermos o dever de casa, vamos continuar crescendo apenas para efeitos estatísticos, em torno de 1% e 1,5% ao ano. Isso não é suficiente para voltar a crescer e não vamos conseguir incluir pessoas no mercado de trabalho assim, ressaltou.
A executiva da Goldman Sachs esclareceu que o governo precisa ter uma agenda clara de reformas, como ocorreu em 2016, quando o Brasil passava por uma recessão e conseguiu aprovar a reforma trabalhista no Congresso Nacional, na gestão Temer. Ela cita as reformas tributária e administrativa.
As reformas são necessárias para gerar um ambiente seguro e saudável, para que o país volte a crescer de forma sustentável, que empresas retomem seus investimentos, gerem emprego, entre outros pontos. Além disso, a elaboração destes projetos precisa ser feita de forma clara e transparente. Por exemplo, no caso da tributária, uma das maiores dúvidas está no aumento de impostos para o contribuinte. Basta explicar para população o que realmente vão significar essas mudanças.
Já Luiza defendeu ainda uma reforma da gestão: "Faltam duas coisas no Brasil, além da união: gestão e digitalizar o país. Eles estão tão preocupados com a reforma administrativa, parecendo que vai tirar quem está lá há muito tempo. Vamos fazer uma reforma na digitalização e na gestão. Não dá para não ter planejamento estratégico do país nos próximos dez anos", destacou.
As duas executivas também defenderam que as privatizações avancem como forma de otimizar gastos e recuperar a eficiência de alguns setores do poder público
Vender esses ativos não significa retrocesso. Pelo contrário se a telefonia não tivesse sido privatizada, talvez não conseguiríamos ter encontros virtuais. A Vale e a CSN também foram empresas estatais e hoje estão entre as maiores do mundo, com um alto grau de competitividade. É importante deixar claro que a privatização não significa demissões, é aumentar a eficiência, oferecer tarifas mais justas, entre outros. Se não houver todas essas ações será difícil voltar a crescer, destacou Maria Silvia.
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