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Renata Barreto: 'Não existe país desenvolvido com taxa de juros alta'

Renata Barreto: "Não existe país desenvolvido com taxa de juros alta"

Economista especialista em mercado de capitais avaliou o atual patamar das taxas de juros no Brasil e criticou excesso de estatais

Publicado em 1 de novembro de 2019 às 10:09

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Renata Barreto é economista especialista em mercado de capitais . (Siumara Gonçalves)

"Não existe país desenvolvido de verdade com taxas de juros altas." A afirmação foi feita pela economista Renata Barreto que visitou Vitória na tarde desta quinta-feira (31) e participou do 7° Fórum Liberdade e Democracia, que ocorre até esta sexta-feira no Centro de Convenções, no bairro Santa Lúcia. De acordo com a especialista em mercado de capitais, para o Brasil deixar de ser um país subdesenvolvido é preciso que ele continue reduzindo suas taxas de juros,  o que deve atrair mais investimentos.

Na tarde da última quarta-feira (30), o Comitê de Política Monetária (Copom) reduziu a Selic, conhecida por ser a taxa básica de juros, pela terceira vez seguida após 16 meses de estabilidade. Com isso, a taxa chegou a 5%, seu menor patamar histórico.

Renata explica que dois pontos devem ser levados em consideração quando se fala nessa redução. A primeira é o lado do investimentos tradicionais, que estão perdendo rentabilidade. Já a segunda e mais importante, de acordo com ela, é o mercado de economia real. “Para os mercados desenvolvidos, as taxas de juros são muito mais baixas do que aquelas que temos aqui. Essa é a primeira vez que temos uma taxa (Selic) tão baixa como 5%. Porém, ela ainda tem que reduzir mais”, aponta.

A manutenção da taxa de juros baixas vai ajudar o país a atrair investimentos, de acordo com Renata. Segundo ela, para o Brasil se tornar um país desenvolvido não dá para ter a taxas de juros maior do que a atual. Isso porque se o investidor não ver vantagem em arriscar seu capital, ele dificilmente fará investimento com algum tipo de risco envolvido.

“Não existe país desenvolvido de verdade com taxas de juros altas. Para que a economia real prospere necessariamente a taxa de juros tem que ser menor. Isso vale para as outras coisas, para crédito agrícola ou para a pessoa física. Finalmente a gente está indo para um caminho um pouco mais “civilizado”, digamos assim, no ponto de vista de juros. Se a gente continuar com a trajetória de: ajustes fiscal, melhora do ambiente de negócios, do risco-país, da percepção do investidor internacional em relação ao Brasil, da insegurança jurídica e crescimento de investimentos, temos tudo para continuar em uma trajetória de juros mais baixos sim”, expõe.

Renata ainda aponta que, para o poupador, ter taxas baixas significa a necessidade de tomar mais risco para aumentar o retorno. Com isso, ele passará a diversificar a carteira com fundo imobiliário, multimercados, ações, crédito privado e outros tipos de títulos de renda fixa não atrelados somente aquele "basiquinho" que ele já tinha - como os títulos de Tesouro Direto, por exemplo. “Mas isso também significa que ele vai ter que se educar um pouco mais financeiramente para não fazer coisas que não entende e cair em algumas pegadinhas”, enfatiza.

A especialista em mercados de capitais ainda acredita que a Selic deva se manter em um dígito por um longo período desde que o país continue um uma trajetória de reformas. “A gente tem até a possibilidade dessa taxa cair para menos de 5%. Hoje, já está meio que precificado, inclusive nas curvas de juros futuras, da Selic continuar caindo para 4,5%, talvez 4% no ano que vem”, aposta

GUERRA

Sobre as crises políticas que rodeiam o governo Jair Bolsonaro e os impactos dessas para o crescimento da economia nacional, a economista Renata Barreto expôs apenas que o Brasil vive um processo transitório. “São anos e anos de socialdemocracia, anos e anos de um governo de esquerda. Bolsonaro veio mais ou menos como um remédio para um câncer. Um remédio amargo e difícil de engolir muitas vezes. Ele sabe e já falou que não tem trato político com muitas questões, mas dentro da economia e em muitas áreas, como infraestrutura e etc, foram nomeados ministros técnicos e isso é mérito dele”, comenta.

Ainda de acordo com ela, é “normal essas desavenças políticas” e que muita gente foi eleita na base da popularidade do Bolsonaro e há muitos oportunistas no meio, que se disseram liberal para conseguir os votos e não eram nada disso.

“O próprio Bolsonaro nunca foi liberal e ele se tornou um pouco mais favorável a isso porque sabe que não tinha outra maneira para o país. Por sorte, ele colocou uma pessoa extremamente técnica para estar ao lado dele, que foi o Paulo Guedes. Nós estamos passando por um momento de transição e é impossível pensar que vai ser uma transição tranquila e fácil e que vai acontecer tudo de uma maneira linear. Vai tudo ser uma guerra, mas acho que a gente está mais no caminho positivo do que no negativo”, afirma.

LIBERDADE ECONÔMICA

Ainda segundo Renata, se o Estado diz o tempo todo com quem as pessoas e empresas se pode ou não fazer negócio isso não é liberdade de fato. “A liberdade de mercado significa que as pessoas são livres para fazer negócios com quem elas quiserem, no âmbito da pessoa física pequena, ou da jurídica grande”, argumenta.

DESESTATIZAÇÃO

Renata defendeu também a desestatização das empresas públicas. De acordo com a economista, ela é importante porque o governo brasileiro se chama de “governo empresário” e não saber fazer um monte de coisas e toma a função de comandar empresas para si.

“Acaba sendo um mercado extremamente favorável à corrupção, aos desmandos, à indicações políticas ao invés de técnicas. O que eu sempre digo é o seguinte: você sempre gasta o seu dinheiro muito melhor do que um terceiro faria. O Estado basicamente faz isso quando ele tem um número sem fim de estatais que não sabe gerir. Ele está lá basicamente para ser cabide de emprego".

"A gente viu a Petrobras aí com a maior dívida corporativa do mundo e com um número gigante de funcionários sem necessidade. Atualmente o governo tem participações em mais de 600 empresas e quase 140 empresas são dele. Isso é totalmente desnecessário e elas têm que ficar para a iniciativa privada. O Estado tem que parar de atrapalhar”, finaliza

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