A saída do ex-juiz federal Sergio Moro do Ministério da Justiça e Segurança Pública deve aprofundar ainda mais a crise econômica no Brasil, segundo avaliam especialistas da área. Com a insegurança se formando em torno do governo federal há quem defenda que esta crise seja o começo fim do governo Bolsonaro os investimentos estrangeiros deverão se afastar, aumentando o preço do dólar e atrasando uma possível retomada econômica.
A saída do Moro, tal como se deu, aprofunda a crise na Economia. Ela coloca mais uma variável desconhecida no cenário nacional. Já havia dúvida sobre quanto tempo durará a pandemia, quão profunda será a recessão, qual o efeito do pacote de medidas anunciado pelo governo, e agora mais essa dúvida.
Tudo isso deixa o mercado agitado. O dólar sobe, a Bolsa cai e isso descolado dos indicadores internacionais, já que algumas bolsas em outros países já estão se recuperando, mas aqui segue caindo. Já é bastante difícil lidar com a crise sanitária e econômica. O que não precisávamos agora era de uma crise política para se sobrepor às outras duas.
Gesner Oliveira, professor de economia da FGV e sócio da GO Associados
Que o presidente é autocrata, que não é democrático já está posto. O problema é que ainda é pouco transparente o jogo político que ele faz. Nos parece que ele esteja conduzindo o governo conforme os interesses do grupo familiar e daqueles que o apoiam e isso é um problema institucional gravíssimo.
O impacto disso na economia é esse cenário de instabilidade que tem sido observado ao longo do dia. O mercado, a economia, não se dão bem com dúvida e incerteza. E isso tudo acontece num momento em que a economia nacional já está parada. Certamente, essa instabilidade vai atrasar ainda mais a recessão na economia brasileira e atrasar a possível recuperação."
Arilda Teixeira, economista e professora da Fucape
Essa é uma crise institucional e que pode dar início a um processo de impeachment do presidente. Essa situação cria instabilidade e afasta muitos investidores que poderiam vir de fora do Brasil. Existe a possibilidade de que o país possa deixar de lado as reformas estruturantes que estavam sendo aguardadas, isso porque no cenário atual cria-se certa expectativa sobre a continuidade ou não do ministro da Economia, Paulo Guedes.
É lamentável que tenhamos que passar por mais este fator de instabilidade, num momento em que o país já passa pelo problema do coronavírus."
Eduardo Araújo, economista
O nervosismo que o mercado apresenta hoje é reflexo de uma crise política que está instalada e poderá levar ao afastamento do presidente. Acho que o processo de impeachment do Bolsonaro começou hoje.
Porém, vejo esses impactos econômicos como temporários caso ele seja, de fato, afastado. Assim que ficar clara a sucessão natural, que deve ser com o general Mourão, a parte econômica deverá começar a se normalizar.
José Luís Oreiro, economista e professor da Universidade de Brasília
A economia do Brasil está se tornando uma economia militarizada. Isso não agrada investidores que têm uma percepção mais democrática da sociedade. Isso é triste, porque é um momento em que vamos precisar de investimento internacional para nos reerguer e esses investidores podem se afastar do país.
A saída do Moro também coloca em questionamento a continuidade do ministro Paulo Guedes, porque ele vem apresentando essa mesma postura divergente que vimos no Moro e no ex-ministro Mandetta.
Antônio Marcus Machado, economista e professor da UVV
A gente já vive uma crise de saúde com forte impacto na economia. Agora, vem uma crise política que deve piorar ainda mais a situação. O governo Bolsonaro era formado por dois pilares: Moro e Guedes. Como um dos pilares caiu, precisamos esperar para ver se o segundo pilar também vai ser afetado.
Outra questão importante é que o presidente não tem boa relação com o Congresso e, nesse momento, o Congresso será muito importante para definir uma saída para a nossa economia. Todas essas questões contribuem ainda mais para a incerteza econômica e política pela qual estamos passando.
Marcel Balassiano, pesquisador da área de Economia Aplicada do FGV IBRE
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