O novo dia de caos nos mercados internacionais diante do avanço do novo coronavírus (Covid-19) tem sua razão de ser. Na avaliação do economista Samuel Pessôa, sócio da consultoria Reliance e pesquisador associado do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), trata-se de um choque externo que deve provocar perdas ainda maiores na nossa economia.
Nesta quinta-feira (12), em meio ao aumento de casos do Brasil e as medidas globais na tentativa de controlar a doença, bolsas de todo mundo, inclusive a de São Paulo, operaram em forte queda. Para Pessôa, há dois problemas graves afetando a economia brasileira que certamente vão impactar o crescimento da atividade econômica neste ano, sendo o coronavírus o principal deles.
"O coronavírus é algo externo, um choque de fora da economia que vai gerar perda da atividade econômica em vários países do mundo. Em todos lugares quando o vírus chega, a economia para porque as pessoas ficam em casa, deixando de trabalhar, de consumir e evitando aglomerações. Então a atividade econômica do Brasil vai cair mais quando essa fase de contágio começar aqui e crescer menos do que se esperava", disse em entrevista para A Gazeta.
O economista explicou que o temor nos mercados por causa do vírus não se deve apenas pelo medo da doença, e sim dos impactos que seu avanço pode ter para empresas.
Em um cenário de contágio e da população em isolamento, como acontece na China e na Itália, por exemplo, companhias acabam tendo que fechar as portas. Sem operar, elas podem ficar sem liquidez para honrar seus compromissos e acabarem quebrando.
A outra incerteza, segundo o especialista, é institucional, com a crise política aguda que o país tem vivido com os embates entre governo federal, Congresso e Judiciário.
"É uma crise política que o Brasil passa desde a manifestação do general [Augusto] Heleno veio a público, uma fala que detonou um conflito aguda entre Legislativo, Executivo e Judiciário. Depois teve o convite do presidente [Jair Bolsonaro] para os atos deste domingo através de um vídeo. E ontem (quarta) teve a aprovação de uma pauta-bomba no Congresso lembrando aquelas do governo Dilma [Roussef] em 2015", comentou.
A pauta-bomba a qual o economista se referiu foi a derrubada do veto presidencial sobre o Benefício de Prestação Continuada (BPC) pelo Congresso, aumento a lista de quem tem direito ao pagamento e criando um impacto fiscal de R$ 20 bilhões ao ano segundo o governo.
De acordo com Samuel Pessôa, o episódio reforçou que a "crise entre Poderes tem aumentado, gerando uma paralisia no governo" justamente em um momento que as instituições precisam dar uma resposta firme e efetiva para o controle do coronavírus no país.
"O governo tem que agir rápido com relação ao coronavírus e o Congresso tem que votar uma dotação especial de recursos extra-teto, o que é possível e está dentro da responsabilidade fiscal, e abrir um crédito suplementar para combater esse problema de saúde pública grave e organizar um esforço coletiva de enfrentamento dessa crise".
O pesquisador ainda afirmou que a emenda constitucional que estabeleceu o teto dos gastos públicos "não introduz nenhum constrangimento financeiro para o país poder enfrentar a doença", com isso, não é preciso alterá-lo.
Na agenda doméstica, ele ainda pontuou outra necessidade: "É preciso que os Três Poderes sentem e passem a atuar de forma harmônica, pois se continuarmos com um clima de enfrentamento o país vai entrar numa recessão sem fim".
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