O carnaval é um dos períodos mais lucrativos para o turismo capixaba e não é à toa. É nesse momento festivo do ano que turistas de diversos Estados vêm ao Espírito Santo e movimentam hotéis e pousadas, além de restaurantes, bares, quiosques, lojas e ambulantes. Porém, neste ano, com a pandemia do novo coronavírus, as festividades foram canceladas e algumas empresas e prefeituras nem sequer deram folgas aos funcionários.
Devido ao cenário de incertezas, muitas pessoas adiaram os planos de viajar, ou não conseguiram se programar a tempo. Com isso, o número de turistas que o Estado receberá deve ser bem menor do que em anos anteriores. O setor, que está no vermelho desde o início de 2020, já espera um resultado negativo no carnaval 2021.
O secretário de Estado de Turismo, Dorval Uliana, lembra que as empresas do ramo já estavam descapitalizadas, por conta da baixa movimentação gerada pela pandemia, desde o primeiro trimestre de 2020. "Elas entraram o verão em uma situação ainda pior. A grande temporada de sol e praia ficou comprometida neste ano. Mesmo tendo sol o ano todo, depois do período do carnaval, o fluxo de turismo reduz e, por conta da pandemia, ele acabará sendo ainda menor", comenta.
Para o diretor de Integração e Projetos Especiais do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), Pablo Lira, o Estado deve manter a redução das atividades do turismo no primeiro trimestre de 2021. Ele pontua que isso ocorrerá também em função da suspensão necessária dos eventos oficiais de carnaval.
Lira lembra que o turismo capixaba vinha em uma tendência de expansão em 2019. Já no início de 2020 as restrições aeroviárias em função da ameaça do coronavírus alcançaram o Brasil e a receita com o turismo despencou.
O presidente do Conselho Estadual de Turismo (Contures), Fernando Otávio Campos, explica que em alguns locais do Estado a situação do setor de turismo é ainda mais grave.
"Para fazer a economia girar, a ilha (Vitória) precisa do movimento do pré-carnaval, dos eventos de rua e dos desfiles no Sambão do Povo, que abrem o calendário oficial do carnaval brasileiro", conta.
Já o litoral do Estado oferece mais do que os blocos e trios no carnaval. Em alguns casos, a praia é o que atrai os turistas. Porém, neste ano, esses municípios também estão sendo impactados.
"Isso porque muitas empresas não decretaram ponto facultativo ou avisaram em cima da hora para o funcionário, além de algumas prefeituras funcionarem também, o que acabou estragando a programação das famílias", diz.
Fernando comenta ainda que, até a última segunda-feira (8), nenhum dos 40 quartos do hotel que tem em Guarapari havia sido reservado. "A hotelaria do município vendia pacotes de quatro dias, mas teve que dividir a hospedagem praticamente em diárias e reduzir o preço para conseguir ter um movimento. Eram pacotes de R$ 1,8 mil a R$ 2,2 mil que agora estão saindo de R$ 800 a pouco mais de R$ 1 mil. A redução da procura e do preço vão fazer a receita do setor de hotelaria cair este ano", conta.
O litoral do Estado precisa ser redescoberto para o turismo sair da crise em que se encontra. Essa é o opinião do presidente do Contures, Fernando Otávio Campos. Ele cita Guarapari como exemplo, que tem mais de 57 praias, porém, apenas quatro são amplamente conhecidas (Praia do Morro, Setiba, Meaípe e Bacutia).
"É preciso redescobrir os cantos e montanhas para atrair e distribuir os turistas no município. Esses novos destinos frequentados por um volume menor de pessoas estão sendo os mais procurados atualmente. Precisamos pensar ainda no turismo responsável e seguro para receber as pessoas, seguindo todos os protocolos de segurança para dar confiança. Itaúnas já tem mudado a forma como os turistas a enxergam deixando de ser conhecida apenas pelo forró e passando a atrair quem quer um lugar tranquilo", conta.
O secretário de Estado de Turismo concorda com Fernando e complementa que é preciso começar o reposicionamento da imagem que os municípios projetam aos turistas desde já. De acordo com ele, é necessário ter alternativas permanentes para que a atividade econômica não seja dependente apenas de uma festividade.
"Queremos que eles desenvolvam novas alternativas para o turista, como eventos e festivais. Elas serão pensadas com base nas características de cada cidade. Agora é se preparar porque, quando a população for imunizada, já estaremos com tudo pronto para recebê-la, tendo qualidade e oferta de serviços que acompanhem a nova imagem da cidade", explica.
Pablo Lira lembra que não ter carnaval foi uma medida necessária para controlar a curva epidemiológica da Covid-19 no Estado e ter uma ampliação na velocidade da vacinação.
"Com uma massa de imunizados crescendo, vamos ter uma maior segurança de, quem sabe, em 2022 voltar a realizar o carnaval no Estado, evento que vem sendo destaque no Brasil e gerando bons resultados para a economia do Espírito Santo. Essa é a nossa esperança", aponta.
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