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Sem carne, famílias do ES comem partes de boi e frango antes descartadas

Sem carne, famílias do ES comem partes de boi e frango antes descartadas

Preços elevados fazem com que capixabas de baixa renda optem por partes como cartilagem e pele de frango para arcar com outros gastos essenciais

Publicado em 10 de fevereiro de 2022 às 13:14

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Sem carne, famílias comem partes antes descartadas no ES. (Ari Melo)

Com o preço dos alimentos disparando sem parar e, ao mesmo tempo, a queda na renda das famílias, o consumo de carne diminuiu. O ano de 2021 teve o menor consumo de carne por pessoa nos últimos 16 anos. Nessa situação, é comum que famílias coloquem no prato partes do boi e do frango que antes eram jogadas fora, como carcaça e pele.

A aposentada Marlene Silvino, do bairro Nova Canaã, em Cariacica, na Grande Vitória, mora atrás da própria lanchonete, que só abre de vez em quando para vender salgados ou para preparar o almoço para a família.

A aposentada Marlene Silvino está tendo como proteína apenas o joelho do boi
A aposentada Marlene Silvino está tendo o joelho do boi como única proteína do dia a dia. (Ari Melo)

A refeição, porém, é preparada com uma cartilagem do boi, que fica no joelho do animal. O "catuni" tem sido o prato dos dias para a família.

"Se pudesse [comeria menos cartilagem], mas não tem como. A carne hoje está ouro. No lugar da carne temos que comprar outras coisas, porque está tudo caro. Luz, remédio, água. E o nosso salário não dá. Não tem como", disse Marlene.

Com dívidas, Marlene e o marido têm que se virar para sustentar o filho de apenas 3 anos. A proteína rotineira é o ovo. O "catuni" é, na verdade, servido quando ela quer variar a refeição da casa, quando quer aproveitar o pouco da carne bovina presa à cartilagem.

"É bastante ovo. Omelete, moquequinha de ovo, e a gente vai levando. Mas quando dá vontade de comer um 'catunizinho', pra variar, encomendamos. Primeiro ele era doado, mas hoje tudo é comprado", afirmou a aposentada.

CONSUMO DE FRANGO

Junto com outras partes do boi, a cartilagem costumava ser descartada por ser um pedaço da carcaça do animal. No caso do frango, o dorso, pés e também o pescoço são partes que eram desperdiçadas, mas agora tem sido bastante procuradas.

A Tuania Picoli, que é dona de um mercado em Alto Lage, também em Cariacica, diz que tem aparecido pessoas que decidiram trocar a carne bovina pelo frango para economizar. Há pessoas, porém, que vão até lá sem condições para comprar outra opção que não sejam as carcaças dos animais.

"Aumentou [consumo das carcaças] devido à situação que o Brasil ficou com a pandemia, com pessoas desempregadas. Então recorreram bastante para partes mais baratas. São as partes com mais osso", afirmou a comerciante.

As peças, embora partes da carcaça, são vendidas. O que antes era apenas descartado e agora também é pedido no mercado é a pele do frango. Tuania tenta ajudar como pode.

"Às vezes ocorre de eu ter pele, pois alguns clientes vêm comprar coxa e sobrecoxa e pedem para tirar a pele. Mas nem sempre eu armazeno, eu descarto. Às vezes têm pessoas que procuram e eu acabo doando", disse Tuania.

Voluntária da Central Única das Favelas (Cufa), Fátima Aparecida disse que toda essa situação contada pela Tuania e vivida por Marlene é a mesma de várias famílias capixabas.

"Nós temos um grupo de mães, e eu fiz essa pergunta lá: 'como está a comida de vocês?'. Elas até brincam e dizem não gostar de carne de boi, e que compram carcaça de frango que é uma delícia, pé de frango e ovo. Elas vão no que dá para comprar, que é o catuni, a carcaça de frango, ovos, a salsicha, que não é muito saudável, mas entra porque é acessível. E colocam quando tem", disse Fátima.

*Com informações do G1 ES e de Elton Ribeiro, da TV Gazeta

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