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Sem direito, mais de mil servidores do Estado ganham auxílio emergencial no ES

Sem direito, mais de mil servidores do Estado ganham auxílio emergencial no ES

Pelos critérios do programa, benefício foi pago irregularmente para ativos e inativos do governo do Estado. Alguns foram contemplados de forma automática por estarem no CadÚnico. Outros se inscreveram para ter direito

Publicado em 19 de junho de 2020 às 06:00

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Auxílio emergencial do governo federal
Aplicativo usado para pedir o auxílio emergencial do governo federal. (Siumara Gonçalves)

Pelo menos 479 servidores ativos do governo do Espírito Santo e 604 aposentados do Estado receberam irregularmente o auxílio emergencial do governo federal. Segundo as regras do programa, pessoas que tenham emprego ou que recebam benefícios previdenciários (como a aposentadoria) não poderiam ser contempladas com a ajuda financeira de R$ 600.

O auxílio foi criado para fornecer um mínimo de renda às pessoas desempregadas, trabalhadores informais e microempreendedores durante o isolamento social que trouxe restrições ao funcionamento da economia. Elas compõem a parcela da população mais afetada pela crise econômica provocada pela pandemia do novo coronavírus.

A reportagem de A Gazeta obteve essas informações cruzando nome e CPF dos beneficiários do programa e da folha de pagamento do governo do Estado. Ambas as bases de dados são públicas.

Os 1.083 servidores ativos e inativos receberam juntos R$ 719,4 mil em benefícios. Entre eles, 388 não estão inscritos no CadÚnico, o cadastro de famílias brasileiras em situação de pobreza. Para obter o benefício, essas pessoas tiveram que ativamente se cadastrar. Ao todo, no Estado, 989 mil receberam a primeira parcela do programa entre abril e maio, segundo os dados abertos do governo federal.

Os demais têm o cadastro e não precisaram fazer o pedido. Segundo o Ministério da Cidadania, essas pessoas recebem automaticamente o recurso caso se enquadrem nas regras. Contudo, uma falha no sistema do governo federal fez com que elas recebessem o dinheiro mesmo tendo fonte de renda. Até maio, apenas duas pessoas havia devolvido o dinheiro aos cofres do governo.

Não foram considerados na análise os estagiários, bolsistas, monitores, conselheiros e voluntários, pois eles não têm vínculo empregatício com o Executivo estadual.

PROFESSORES E CONTRATOS TEMPORÁRIOS SÃO MAIORIA

Entre os 479 com vínculo ativo, cerca de 200 são professores, a maior parte deles, de designação temporária. A remuneração para esse cargo é entre R$ 1,2 mil e R$ 3,7 mil, dependendo do grau de formação do profissional.

Outros cargos com salários menores também aparecem diversas vezes na lista como técnico de enfermagem (40), auxiliar de secretaria escolar (27) e cuidadores (27).

Contudo, entre os servidores que receberam irregularmente o auxílio também é possível encontrar três médicos e até um investigador da Polícia Civil, cargos com remunerações que podem chegar aos R$ 8 mil.

APOSENTADOS

Já entre os aposentados, 75% estavam cadastrados no CadÚnico, ou seja, receberam o auxílio emergencial mesmo sem fazer o pedido.

Há, contudo, algumas exceções como sargentos e tenentes da Polícia Militar e um delegado. Este último recebe uma aposentadoria que ultrapassa os R$ 20 mil.

SERVIDORES MUNICIPAIS

Um relatório feito pela Controladoria-Geral da União (CGU) em parceria com o Tribunal de Contas do Estado mostrou que os servidores municipais também estão recebendo o benefício emergencial de forma irregular.

Os órgãos identificaram 2,6 mil pessoas que tinham vínculos ativos com o Estado ou com municípios. O documento afirma que quem pediu o auxílio emergencial mediante fornecimento de informações falsas está cometendo crime de falsidade ideológica e estelionato. Quando o ato é praticado por servidores, o fraudador pode ainda ser punido administrativamente.

ESTADO PROMETE NOTIFICAR SERVIDORES E PUNIR INFRAÇÕES

A Corregedoria-Geral do Estado informou que, embora não tenha tido acesso aos dados, vai indicar o ressarcimento imediato do auxílio emergencial por parte de servidores públicos, tenham eles recebido inadvertidamente ou não.

Segundo o órgão, as pastas serão orientadas a notificar os servidores envolvidos. A Corregedoria esclareceu ainda que eles, além da infração criminal, podem responder administrativamente.

"O recebimento de auxílio emergencial por qualquer servidor público, seja ele efetivo ou temporário, é ilegal. São recursos que devem chegar rapidamente aos mais afetados pela calamidade pela qual passamos", disse em nota.

O Ministério Público Federal (MPF) também foi questionado por A Gazeta e informou que vai avaliar quais são as providências mais adequadas a serem adotadas uma vez que obtiver acesso aos dados.

FRAUDES SE MULTIPLICAM

Enquanto muitos capixabas que precisam e cumprem os requisitos para receber o auxílio têm encontrado dificuldade, as fraudes se multiplicam. O Tribunal de Contas da União estima que há o risco de 8 milhões de brasileiros estarem recebendo o benefício de forma irregular.

Um dos exemplos mais simbólicos no Estado é o do chefe da organização criminosa que comanda o tráfico de drogas no Bairro da Penha, em Vitória. Mesmo sendo um dos bandidos mais procurados do Estado, Fernando Moraes Pereira, o Marujo, conseguiu receber pelo menos uma das parcelas do auxílio emergencial.

O QUE DIZ O GOVERNO FEDERAL

O Ministério da Cidadania, responsável pela gestão do auxílio emergencial, afirma que trabalha para aperfeiçoar a concessão do benefício.

“É importante destacar que a Controladoria-Geral da União (CGU) analisou 30,5 milhões de pagamentos do auxílio emergencial e encontrou inconformidades em 160 mil, o que representa 0,5% deste total”, disse em nota.

O órgão ressaltou que aqueles que tentam burlar a legislação terão que devolver o dinheiro e podem, ainda, responder civil e criminalmente.

“Qualquer indício de ilegalidade, em especial na ótica criminal, é imediatamente informado à Polícia Federal. A CGU e a Advocacia-Geral da União (AGU) também estão atuando na fiscalização e no ajuizamento de ações, respectivamente, em todo o processo de pagamento do auxílio emergencial.”

Não há, no entanto, clareza sobre como o governo federal vai separar os servidores que fraudaram o benefício daqueles que ganharam sem pedir por estarem no CadÚnico.

COMO DEVOLVER O DINHEIRO

 O ministério disponibiliza um site para a devolução dos recursos do auxílio emergencial.  Basta inserir o CPF do beneficiário que deseja fazer o retorno do dinheiro aos cofres públicos e escolher a opção que for mais conveniente: gerar uma Guia de Recolhimento da União (GRU), que pode ser paga no Banco do Brasil, ou uma que pode ser recebida em toda a rede bancária.

A ferramenta permite que ambas as guias possam ser recebidas nos guichês de caixa das agências bancárias, nos terminais autoatendimento e também no site ou aplicativo do banco.

O ministério ressalta que o canal para registro de denúncias de fraudes é o sistema Fala.Br ou pelos telefones 121 ou 0800–707–2003.

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