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Sem macarrão: como substituir o arroz sem afetar o bolso e a saúde

Sem macarrão: como substituir o arroz sem afetar o bolso e a saúde

Especialistas apontam que, diante da alta no preço do cereal, as massas não são boas opções financeira e nutricional

Publicado em 15 de setembro de 2020 às 05:03

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arroz
Preço do arroz disparou nos supermercados . (Roberto Costa/Código 19/Folhapress)

A inflação atingiu fortemente os alimentos, principalmente aqueles que compõem a cesta básica. O arroz, produto mais emblemático, teve alta de 21,66% na Grande Vitória, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O preço do pacote de 5 kg já ultrapassa os R$ 20 e beira R$ 30 em alguns supermercados e, segundo a Associação Capixaba de Supermercados (Acaps), deve continuar assim pelo menos até o ano que vem.

Diante dessa realidade, que impacta principalmente os brasileiros mais pobres, o presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), João Sanzovo Neto, sugeriu, na última semana, que o grão seja substituído por macarrão.

"Vamos estar promovendo o consumo de massa, macarrão, que é o substituto do arroz. E vamos orientar o consumidor que não estoque", disse. A sugestão vem do fato de que, enquanto o grão sofreu alta, o preço do macarrão ficou estável no Brasil e caiu 1,72% na Grande Vitória.

Contudo, segundo especialistas e análises feitas pela reportagem, o macarrão não é o substituto mais adequado, tanto do ponto de vista financeiro quanto nutricional.

A Gazeta analisou o preço dos dois produtos no aplicativo Menor Preço Brasil, que utiliza dados oficiais obtidos junto à Secretaria de Estado da Fazenda (Sefaz). Segundo a pesquisa, o preço do pacote de 500 gramas de massa tipo espaguete nos supermercados da Grande Vitória varia entre R$ 2,89 e R$ 5.

Considerando uma média entre esses valores, o quilo do espaguete custaria cerca de R$ 7,89. Em comparação, o quilo de arroz, quando comprado o pacote de 5 kg, fica entre R$ 5 e R$ 6. Ou seja, mesmo considerando a alta no valor do arroz, ele continua uma opção mais barata que o macarrão. 

Outra questão que precisa ser analisada é o rendimento. O arroz, uma vez cozido, tem um rendimento levemente superior ao do macarrão, o que faria dele uma opção mais rentável entre os dois.

"É muito difícil falar de substituição quando se fala de produtos que são muito básicos para o consumidor brasileiro. Esse princípio econômico de fazer substituição de produtos se dá quando se fala de um item de marca para item sem marca. Mas quando se pensa num cardápio que faz parte da cultura e que integra a cesta básica, é difícil a gente falar em substituição", afirma o economista Eduardo Araújo

Ele lembra que a parcela mais pobre da sociedade já sofre com uma alimentação mais deficitária, o que é ainda mais agravado com a alta nos preços dos produtos mais básicos.

"Um estudo de pesquisadores da USP apontou que as famílias de renda mais baixa deveriam ter acréscimo de 70% nos rendimentos para que conseguissem alcançar uma alimentação equilibrada. Para quem tem renda baixa, itens como frutas são de luxo e, do ponto de vista nutricional, deveriam ser parte de toda dieta", diz.

OS SUBSTITUTOS PARA O ARROZ

Financeiramente desvantajoso, o macarrão é ainda nutricionalmente pior que o arroz. De acordo com a professora de Nutrição da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutora em Ciências Fisiológicas Maria Del Carmen Molina, a combinação de arroz com feijão forma uma proteína de alto valor biológico que se compara a uma proteína de origem animal, pois cada um tem aminoácidos que se complementam.

"O macarrão não substitui de jeito nenhum, porque não tem as mesmas propriedade do arroz. Ele é um carboidrato que não tem esses aminoácidos, por isso ele não pode substituir do ponto de vista nutricional a combinação arroz com feijão", afirma.

Outro problema em tirar o arroz é o impacto que essa alteração na dupla mais tradicional da vida e da cultura culinária das famílias provoca nos demais alimentos que compõem o prato.

"O arroz e feijão não é só uma questão nutricional, é uma questão social, cultural. Eles são a base da alimentação do brasileiro. Tirando o arroz, abre portas para substituir por outros alimentos que podem ter peso energético maior, alimentos mais calóricos. Pode entrar o miojo, o macarrão com molho branco e queijo, o purê de batata (que tem manteiga) ou a batata frita", explica a nutricionista Fernanda Pignaton.

A falta do cereal tem também o potencial de alterar toda a configuração do prato-feito tradicional. Sem arroz no prato, muitas pessoas poderão deixar de comer feijão, por exemplo. Comendo macarrão, podem acabar eliminando as saladas.

"Acho que dá para substituir (o arroz) do ponto de vista nutricional se o preparo for pensado de uma forma simples, ou seja, o alimento mais natural possível. Mas do ponto de vista cultural, perde-se muito", opina a nutricionista.

Para tentar contornar esses problemas, a professora da Ufes propõe uma substituição parcial. Ou seja, reduzir a quantidade de arroz no prato e complementar com outros carboidratos, como batata, inhame ou aipim. Com isso, o pacote de arroz rende mais tempo e o prato continua tendo os mesmos benefícios.

"Se tiver que complementar, não o faça com macarrão que passa por vários processos industriais. Melhor complementar com um tubérculo que é fonte de energia e que tem nutrientes, vitaminas e minerais que melhoram a qualidade nutricional. Pode incluir a batata doce, o aipim ou o inhame, por exemplo. O capixaba também tem o hábito de incluir banana, que também pode ser um complemento", diz Molina.

Essas opções, além de mais saudáveis, pesam menos no bolso. Segundo o aplicativo Menor Preço Brasil, o quilo de batata doce e do aipim, por exemplo, custam cerca de R$ 3. Já o Inhame, cerca de R$ 4, e a banana da terra, R$ 5 o quilo.  É bom lembrar que, nesses casos, o peso cozido e cru é praticamente inalterado.

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As especialistas lembram de optar sempre por métodos de preparação que não agreguem gordura ao alimento, como cozinhar em água ou assar no forno.

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