O volume de recursos injetados na economia do ES pelo auxílio emergencial e pelo benefício de redução de jornada e salário (BEm) superou a queda na massa de rendimento dos trabalhadores entre abril e setembro deste ano, período mais crítico da pandemia e quando foram criados os programas de socorro aos profissionais formais e informais.
Os repasses já somam cerca de R$ 3,8 bilhões. Do total, cerca de R$ 3,28 bilhões se referem ao pagamento do auxílio, que beneficiou 1,29 milhão de capixabas, segundo informações do Portal da Transparência do governo federal.
Além disso, já foram emitidas cerca de 632 mil parcelas do BEm no Estado, que somam R$ 506,2 milhões, de acordo com a Secretaria Especial de Previdência e Trabalho, do Ministério da Economia.
Até o mês passado, 178,2 mil trabalhadores no Espírito Santo tiveram a jornada e o salário reduzidos em 25%, 50% ou 70%, ou tiveram o contrato temporariamente suspenso. A medida foi autorizada pelo governo a fim de aliviar os gastos das empresas com folha de pagamento e evitar o maior número de demissões durante a pandemia do novo coronavírus.
Como forma de compensação pelas reduções, o governo federal arca com uma parte do salário, equivalente ao percentual que o trabalhador receberia de seguro-desemprego.
Já a perda de massa de rendimentos dos trabalhadores no Estado alcançou R$ 2,89 bilhões entre abril e setembro, segundo dados das Pesquisas Nacionais por Amostra de Domicílios (Pnad) Covid e Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É essa a diferença entre os rendimentos normalmente recebidos e os valores efetivamente recebidos.
Desta forma, observa-se um que há um ganho extra de quase R$ 900 milhões. A principal contribuição nesse sentido foi o auxílio emergencial, que elevou a renda de milhares de pessoas e reduziu a pobreza, ainda que temporariamente, conforme já mostrado por reportagens de A Gazeta.
"Com esses benefícios, o governo tentou compensar perdas. A intenção não era exatamente aumentar os rendimentos, mas aconteceu. Houve um impacto acima do esperado", avalia o economista Marcelo Loyola Fraga.
Ele destaca que essa é uma das explicações para o aumento da inflação e a falta de alguns produtos no mercado, como é o caso dos alimentos. "O produtor estava esperando uma queda, mas o aumento de rendimento da população, somado ainda a outros fatores, acabou pressionando os preços."
Nos últimos meses, tem sido observada uma tendência de redução dessas diferenças. A perda de massa salarial, que chegou a atingir R$ 715 milhões em maio, caiu para menos da metade no último mês, passando para R$ 324 milhões.
Um dos fatores que contribuem para esse resultado é a retomada gradual das atividades econômicas, que implica em novas contratações e também na diminuição de acordos de redução ou suspensão de jornada e salários.
"A gente sabia que os benefícios ajudariam a amortecer os efeitos da crise, mas não tinha uma dimensão real do impacto. A tendência é que a gente tenha um final de ano até melhor do que se pensava", avaliou o economista Ricardo Paixão.
Por outro lado, ele observa que o auxílio emergencial não apenas teve o valor cortado pela metade, para os pagamentos a partir deste mês, como os critérios para permanência na segunda fase do programa se tornaram mais rígidos, o que significa que será repassada uma quantia menor para um número ainda menor de pessoas.
"O auxílio não foi pensado para durar para sempre, claro. O país nem tem condições para tanto. Mas o governo deveria ir reduzindo gradativamente, em vez de fazer um corte tão brusco. Vai haver um impacto negativo muito forte, e a população vai sentir isso no bolso. Mas não acredito que a queda vá ser na mesma proporção do ganho", reforçou Paixão.
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