Quase nada restou da casa da diarista Chirley Janey Souza Correia, 47 anos, após o desabamento das caixas-d'água do Residencial São Roque, na manhã desta quarta-feira (30) em Cariacica. O apartamento número 104, localizado no primeiro andar do bloco 6, para o qual ela se mudou no último Natal, está destruído.
Agora, as vésperas do ano-novo, ela viu seu sonho e a espera dos últimos três anos desmoronar em questão de minutos. O desespero passou a ser um sentimento comum entre os moradores.
Duas caixas-d'água que atendem aos edifícios do Residencial São Roque I e II, condomínio do programa Minha Casa Minha Vida (MCMV), no bairro Padre Gabriel, Cariacica, se romperam na manhã desta quarta-feira (30).
O empreendimento foi inaugurado no dia 14 de dezembro, após quase três anos em obras, e custou mais de R$ 40 milhões. Ele atende pessoas de baixa renda que se enquadram na Faixa 1 do MCMV, que é composta por famílias mais carentes, que possuem renda mensal de até R$ 1,8 mil.
Ao todo, 496 famílias foram beneficiadas com os imóveis do local, segundo o governo federal. Porém, desde a sua entrega, elas vem enfrentando problemas, como a rede de internet que ainda não foi instalada e a falta d'água, problema que persistirá já que os dois reservatórios se romperam.
Ainda não há previsão para o reestabelecimento desses serviços básicos no residencial e, para piorar a situação, 40 famílias ficarão sem casa. São moradores dos blocos 6 do Residencial São Roque I e 5 do São Roque II, que foram interditados. Eles tiveram que deixar seus lares ou, no caso de quem ainda iria mudar para lá, não poderá ir.
A diarista Chirley conta que se mudou no dia 23 de dezembro para o condomínio. Moram com ela o namorado e os dois filhos, um de 9 anos e outro de 3 anos e 8 meses, que tem síndrome de Down.
A diarista lembra ainda que no momento em que soube do ocorrido, decidiu voltar para casa e ao chegar chegou viu a imagem da destruição.
"O meu ventilador eu comprei na quarta-feira (23) para vir para cá, a cama novinha está toda molhada, as portas do guarda-roupas destruídas. Até o sofá mudou de lugar. Além do buraco na parede. O Natal eu passei na mudança. Agora, no ano-novo, que íamos poder respirar e aproveitar um pouco do apartamento, aconteceu isso", desabafa.
A empregada doméstica Senamara Coveiro da Silva Leandro, 49 anos, também viu seu sonho ser despedaçado na manhã desta quarta. A moradora do bloco 5 do São Roque II chegou há sete dias no novo endereço. Antes morava de aluguel.
A filha de Senamara mora no bloco 6 do São Roque I, que também foi interditado. Agora a mãe, que está desempregada, e a filha estão desalojadas. "Fiz a inscrição há três anos e fiquei aguardando para receber uma moradia. Agora na virada de ano vou ficar sem casa. Foi um sonho despedaçado. Mas Deus proverá."
Sem gravar entrevista, a filha de Senamara contou que ela estava na casa da mãe na hora em que a torre que fica ao lado da casa dela desabou. Com o barulho, ela desceu para o térreo e pouco depois a caixa-d'água ao lado da casa de Senamara também veio ao chão.
A estudante de pedagogia Anilda Correia dos Santos, 45 anos, também passou um sufoco nesta manhã. Ela mora com os três filhos (duas meninas, uma de 19 anos e outra de 13 anos, e um menino de 5 anos) no segundo andar do bloco 5 do São Roque II.
Anilda conta ainda que desde que se mudou, no dia 18 de dezembro, o condomínio vem enfrentando diversos problemas por causa das caixas-d'água, entre eles vazamento e falta dela durante alguns dias. "Esperei dois anos na fila para conseguir ter o apartamento e agora estou nessa situação. Posso ficar na casa da minha mãe, mas serão mais quatro pessoas com ela", diz.
A Cobra Engenharia, responsável pela execução do empreendimento, afirmou que "está fornecendo os cuidados necessários para os moradores, incluindo fornecimento de água potável e alimentação e hospedagem. Está providenciando carros pipa para o condomínio e já trabalha na solução para o restabelecimento do fornecimento de água".
Segundo a construtora, uma empresa paulista foi a responsável por projetar, produzir e montar as torres d'água. "[A empresa] foi acionada desde o momento do acontecido estando a Cobra Engenharia no aguardo de posicionamento acerca das razões do incidente e providências por parte da responsável". O nome dessa empresa não foi divulgado.
A Cobra Engenharia lamentou o ocorrido e afirmou que "vem trabalhando incansavelmente na solução dos problemas e buscando as causas do infortúnio e se compromete a acompanhar e cobrar ações para a resolução, o mais breve possível, para a volta da normalidade dos moradores" e que "vem colaborando com as autoridades na busca da resolução dos problemas com a maior brevidade possível".
A Caixa informou que enviou equipe técnica ao local e acionou a construtora Cobra Engenharia para prestar atendimento às famílias e implementar as medidas emergenciais necessárias. Segundo o banco, é de responsabilidade da construtora o atendimento emergencial às famílias, bem como as providências necessárias ao restabelecimento do abastecimento de água e demais reparos nas edificações.
"Informamos ainda que o banco, na condição de representante do Fundo de Arrendamento Residencial FAR, realizará perícia técnica para identificar as causas do problema e as responsabilidades, bem como continuará acompanhando a situação do empreendimento até a sua solução plena, dando o suporte técnico necessário para resguardar o patrimônio e segurança das famílias", afirmou a Caixa.
O Ministério do Desenvolvimento Regional informou que "as equipes técnicas do MDR e da Caixa estão trabalhando em conjunto com a construtora responsável pela obra, para o atendimento emergencial às famílias, a rápida apuração das causas do desabamento, bem como a apresentação de soluções que serão empregadas para o restabelecimento da infraestrutura".
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