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Super El Niño vem aí? Como evento pode afetar produção de alimentos no ES

Super El Niño vem aí? Como evento pode afetar produção de alimentos no ES

Cientistas dos EUA alertam para intensificação do evento de variação climática durante o inverno, o que provocar aquecimento de até 2,5°C e alterar o padrão de chuvas

Publicado em 23 de junho de 2023 às 12:03

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Imagem feita por satélite da NASA mostra formação do El Niño
Imagem feita por satélite da NASA mostra formação do El Niño. (Sentinel-6 Michael Freilich / Nasa)
Felipe Sena
Estagiário / [email protected]

Cientistas norte-americanos emitiram um aviso, na última quinta-feira (8), sobre a formação do El Niño. Segundo os especialistas, há 56% de chances de que esse evento de variação climática seja considerado forte, com um marco de aquecimento de 1,5°C. Porém, calcula-se uma possibilidade de 25% de o fenômeno atingir proporções gigantescas, como um "Super El Niño", quando a temperatura aumenta em 2,5°C.

De acordo com o comunicado do Centro de Previsão Climática, uma divisão da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional (NOAA) dos Estados Unidos, os meteorologistas confirmaram as condições para o fenômeno, que deve se intensificar durante o inverno. Isso poderá fazer de 2024 o ano mais quente já registrado.

A cientista climática Michelle L'Heureux, que integra o Centro de Previsão Climática dos Estados Unidos, fez um alerta. Segundo ela, o aquecimento global pode estar por trás do Super El Niño. "As mudanças climáticas podem exacerbar ou mitigar certos impactos relacionados ao El Niño. Por exemplo, o El Niño pode levar a novos recordes de temperaturas, particularmente em áreas que já experimentam temperaturas acima da média durante o fenômeno", afirma a cientista, no comunicado divulgado pela NOAA.

No Espírito Santo, os efeitos do fenômeno costumam ser moderados. Mesmo assim, especialistas alertam para o risco de a seca se agravar, caso o El Niño se intensifique, o que poderia afetar diretamente o agronegócio, uma das forças econômicas do Estado. A pecuária corre risco de ser muito impactada.  Com a redução das chuvas, o pasto não se desenvolve como deveria, oferecendo um alimento mais escasso e menos nutritivo ao gado.

Isso porque o El Niño provoca alterações no padrão das chuvas. Assim, enquanto algumas regiões devem encarar um período de seca, prejudicando o cultivo de alimentos e a produção pecuária, outras podem enfrentar tempo chuvoso. O problema está na intensidade. Mesmo nas áreas com chuva, podem ocorrer inundações que prejudicam as lavouras, provocam erosão do solo e reduzem a produtividade agrícola.

Por enquanto, o El Niño ainda está em desenvolvimento. Institutos climáticos internacionais estimam que o fenômeno atingirá o seu pico entre outubro deste ano e fevereiro do próximo. A duração prevista é de 9 a 12 meses. Mas os efeitos do evento podem ser sentidos por até dois anos.

Qual o impacto do El Niño no ES?

Agropecuária
Produção pecuária é a mais sensível aos possíveis efeitos de um Super El Niño. (Valter Campanato/Agência Brasil)

A coordenação de meteorologia do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) confirmou, por nota, a alta probabilidade das condições que podem levar ao El Niño. O instituto é responsável por elaborar estudos para viabilizar o desenvolvimento rural do Estado. 

"De acordo com os modelos objetivos de previsão climática, os resultados já indicam a alta probabilidade do desenvolvimento das condições oceânicas e atmosféricas do El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal do Oceano Pacífico Equatorial, causando mudanças do comportamento dos ventos e do regime de chuvas em algumas áreas do planeta", diz o texto enviado à reportagem.

Ainda de acordo com o Incaper, no Brasil, as evidências mais conhecidas são provocadas pela modificação do regime de chuvas na parte norte da região Nordeste, no leste da região Amazônica e na região Sul. Ao longo do tempo, muitas pesquisas tentam buscar respostas cientificamente relevantes sobre os impactos do evento no Espírito Santo. No entanto, ainda não há uma descrição relativa do regime de chuva e de temperatura no Estado, sob a influência desse fenômeno.

O professor do Departamento de Engenharia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e doutor em Engenharia de Recursos Hídricos Antônio Sérgio Mendonça explica que, na região Sudeste, onde está o Espírito Santo, uma das tendências que pode influenciar o agro é o aumento de temperatura.

 "Em várias ocasiões de El Niño forte, intenso e prolongado, ocorreu diminuição das chuvas e da vazão da água dos rios", lembra o professor.

Antônio Sérgio ressalta que os efeitos são mais intensos no Sul e Nordeste do país, mas cita ocasiões em que as consequências do El Niño puderam ser observados por aqui, como em 1998 e na crise hídrica de 2014.

O presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Espírito Santo (Faes), Julio Rocha, também recorda que, historicamente, houve redução das chuvas no Espírito Santo, nos períodos de grave intensidade do El Niño.

"Quando falamos de El Niño, falamos de uma alteração tanto no regime de eventos quanto no regime de chuvas. Não temos uma previsão concreta sobre isso, mas, historicamente, esse fenômeno tem provocado a redução de precipitação (chuva) no Espírito Santo. Como já estamos entrando nesse período de seca, é possível que isso se agrave com a sua chegada", explica Julio. 

O presidente da Faes disse que, especificamente sobre o El Niño, não há um tipo de monitoramento ou estudo para prever os impactos na agricultura. "Temos aqui, no Espírito Santo, estudos acumulados de precipitação, bem como de disponibilidade hídrica ao longo do tempo, que nos mostram alguns cenários possíveis", aponta.

"Nossas ações são adotadas a partir dos relatórios disponibilizados pelo Incaper com dados sobre precipitação, disponibilidade hídrica, além de um acompanhamento junto à Defesa Civil. Para que, em qualquer evento climático, seja de chuvas excessivas ou seca prolongada, estejamos preparados para alertar os produtores rurais sobre as intervenções necessárias, com o objetivo de minimizar os impactos dessas ocorrências. Também buscamos parceiros, notadamente os do Espírito Santo, para fortalecer o apoio à construção de pequenas barragens", ressalta Julio Rocha.

Quais culturas podem ser as mais afetadas

Espinafre
Em período de seca, há redução na disponibilidade e qualidade de hortaliças folhosas. (Shutterstock)

Com a possibilidade de um período de seca agravado, o agronegócio acaba sendo um dos primeiros impactados, como explica o presidente da Faes. "Todas as culturas são impactadas, exceto aquelas irrigadas, como muitas aqui no Estado. Culturas hortícolas, como as folhosas, tendem a reduzir a disponibilidade e a qualidade", explica.

Para Júlio, o ideal seria implementar um programa sustentável de construções de barragens e de caixas secas para atenuar o déficit hídrico. Contudo, segundo o presidente Faes, a área mais afetada com diminuição na disponibilidade de água é a pecuária.

"A área que historicamente sofre maior perda é a pecuária. Com a redução das chuvas, o pasto não se desenvolve como deveria, oferecendo um alimento mais escasso e menos nutritivo ao gado. Por isso, o investimento em silagem é uma boa opção, assim como as capineiras, de capim e cana, para manter a alimentação regular e a produção do leite em dia durante essa época do ano", orienta.

Julio Rocha também fez um alerta aos produtores acerca da administração dos recursos para enfrentar o período de seca. "Também é de suma importância saber gerir a propriedade rural durante essa escassez para minimizar as perdas de produção. Para isso, o produtor rural dispõe, durante 2 anos e meio, da Assistência Técnica e Gerencial (ATeG), ofertada pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Espírito Santo (Senar-ES), que contempla a propriedade como um todo", ressalta.

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