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Tarifaço de Trump: o que o ES tem a ganhar e a perder com a medida

Tarifaço de Trump: o que o ES tem a ganhar e a perder com a medida

Confira impactos nas medidas anunciadas pelo presidente norte-americano para os principais setores exportadores capixabas

Publicado em 4 de abril de 2025 às 17:56

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Rebocadores fazem buzinaço e jogam jato de água para comemorar recorde de exportação no Porto de Vitória
Medida protecionista dos EUA pode impactar a competitividade das exportações capixabas. (Vitor Jubini)

O tarifaço comercial elaborado pelos Estados Unidos, anunciado na última quarta-feira (2), colocou o Brasil no pacote da taxação dos produtos brasileiros em 10%, um dos menores da lista. A medida entra em vigor neste sábado (5). Para economistas, o índice acabou sendo favorável para o país. Mas, em geral, deve afetar negativamente a economia mundial, com risco de queda nos mercados financeiros e aumento da pressão sobre a inflação no Brasil.

A atitude do presidente Donald Trump busca atrair fábricas e empregos de volta ao país. Mas como fica a situação da parceria comercial entre Espírito Santo e os Estados Unidos? O Estado capixaba é um dos principais exportadores de ferro e aço, rochas ornamentais, celulose, minério e café.

Setores capixabas que mais exportam para os EUA

  1. Aço
  2. Rochas Ornamentais
  3. Papel e Celulose
  4. Minério
  5. Café

Os EUA também anunciaram tarifas mais altas para países com os maiores déficits comerciais com os EUA, como China (34%), União Europeia (20%) e Japão (24%), a partir de 9 de abril. No caso de aço, alumínio, e veículos e autopeças, prevalecerá a tarifa de 25%, anunciada recentemente.

Tarifaço de Trump - o que o ES tem a ganhar e a perder com a medida

O presidente da Federação das Indústrias do Espírito Santo (Findes), Paulo Baraona, avalia que, apesar de o Brasil estar entre os países com menor sobretaxa, ainda assim a medida protecionista pode impactar a competitividade das exportações capixabas e nacionais. 

Baraona lembra que os Estados Unidos são o principal destino das exportações capixabas, representando 28,5% do total. Além disso, lembra que, no Brasil, a balança comercial é favorável para os Estados Unidos, sendo também positiva no caso do Espírito Santo: US$ 3,06 bilhões em exportações versus US$ 2,05 bilhões em importações.

"Uma vez que a taxação encarece os produtos importados pelos consumidores dos EUA, a medida do presidente Trump pode desestimular, parcialmente, as vendas da indústria e da agropecuária capixabas para esse destino. Entretanto, se a indústria dos Estados Unidos não for suficiente para suprir a demanda local, os produtos do Brasil e, consequentemente do Espírito Santo, ao terem a incidência da taxação mínima, poderão ter alguma competitividade frente aos produtos de países com taxação mais elevada, como é o caso da China, da Índia, do Vietnã e da Indonésia", destaca Baraona.

A Findes lembra ainda que, entre os 20 países que os EUA mais compram no comércio internacional, de acordo com dados de 2024, o aumento de 10% esteve concentrado em três deles: Reino Unido, Singapura e Brasil. O restante do grupo teve reajustes acima dos 24%.

Para Pablo Lira, diretor-presidente do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), apesar de o Brasil não estar entre os países mais penalizados pela medida, os reflexos podem ser percebidos de diferentes formas. Entre os setores mais impactados, destacam-se o de aço, café, celulose, rochas ornamentais e petróleo, que são produtos de grande relevância para a economia do Espírito Santo.

Ele destaca que a diversificação dos mercados e a busca por novos parceiros comerciais serão essenciais para minimizar os impactos negativos e garantir a sustentabilidade econômica do Estado.

Diante desse cenário, detalha que a estratégia do Brasil deve ser de prudência e diplomacia, evitando retaliações precipitadas e explorando novas oportunidades comerciais que possam surgir desse rearranjo global.

O economista-chefe do Sicredi, André Nunes, afirmou em evento realizado em Vitória, na quinta-feira (3), que, no caso do café, pode ser uma oportunidades para o mercado capixaba. No ano passado, o Estado atingiu recordes de venda do produto para o mercado internacional e, com estoques baixos no mundo, os preços permanecem elevados.

Além do Brasil, o Vietnã também é um grande exportador de café para os Estados Unidos. Mas o país asiático recebeu uma das maiores taxações americanas, chegando a 46%. "O café brasileiro amanheceu 40% mais barato para os americanos", destacou Nunes.

Impactos e oportunidades

Para a Associação Brasileira de Pedras Naturais (Centrorochas), o impacto direto para o setor de rochas naturais brasileiro ainda é incerto, mas, diante da proposta de taxação de 10% sobre os produtos nacionais, o Brasil pode estar em posição menos desfavorável em comparação a outros países fornecedores de superfícies, principalmente aqueles relacionados à superfícies de quartzo, material artificial que concorre diretamente com as pedras naturais.

Alguns, a exemplo da Índia e do Vietnã, grandes exportadores desse material e concorrentes diretos do Brasil, foram taxados com tarifas significativamente mais altas.

"Essa configuração pode representar uma oportunidade para as rochas naturais brasileiras, caso a demanda americana por materiais de revestimento se mantenha estável. No entanto, o cenário macroeconômico global — com possível aumento de juros e desaceleração na construção civil — impõe um grau elevado de incerteza sobre os efeitos práticos da medida", afirma a entidade.

Já o Sindicato do Comércio de Exportação e Importação do Espírito Santo (Sindiex) diz receber com preocupação a imposição de tarifas de 10% pelos Estados Unidos sobre as importações de produtos brasileiros e avalia os impactos que a determinação deve causar na economia capixaba.

"Diante desse cenário desafiador, o Sindiex acredita que poderão surgir oportunidades para diversificar os mercados de destino, destacando também a importância estratégica de o Brasil estabelecer o acordo comercial com a União Europeia", afirma. 

Impactos nos setores

AÇO E MINÉRIO DE FERRO 

O setor do aço é um dos mais vulneráveis às novas tarifas, pois já havia sido alvo de medidas protecionistas durante o primeiro governo Trump. O imposto de 25% sobre a importação de aço foi mantido, o que pode afetar diretamente as exportações capixabas para os EUA. No entanto, há uma possibilidade de reação do mercado internacional, com a busca por novos compradores, especialmente na Ásia.

O minério de ferro, por sua vez, também enfrenta um cenário desafiador, pois os Estados Unidos são um dos principais destinos do produto. Contudo, a China, que já é um grande parceiro comercial do Brasil, pode ampliar sua demanda pelo produto, ajudando a mitigar as perdas com o mercado norte-americano.

CAFÉ

Para o setor cafeeiro, as novas tarifas podem representar uma vantagem competitiva. O Vietnã, um dos principais concorrentes do Brasil, foi alvo de tarifas mais elevadas, na casa dos 46%, o que torna o café brasileiro mais atrativo para o mercado norte-americano.

ROCHAS ORNAMENTAIS 

O mercado de rochas ornamentais também pode encontrar oportunidades, uma vez que há forte relação comercial do setor com a União Europeia e a China. Embora os Estados Unidos sejam um importante destino das exportações capixabas, a diversificação dos mercados pode minimizar os efeitos negativos da medida de Trump.

CELULOSE E PETRÓLEO 

A celulose e o petróleo são outros dois produtos de grande relevância para a economia capixaba. Apesar do impacto da tarifa de 10%, ambos possuem uma rede diversificada de compradores, o que pode amenizar os prejuízos. O mercado asiático, que já é um grande consumidor desses produtos, tende a ganhar ainda mais espaço nas exportações capixabas.

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