Especialistas avaliam que o novo patamar histórico da Selic, em 2,25% ao ano, é uma faca de dois gumes. Ao mesmo tempo em que afasta investidores estrangeiros do país, a nova taxa de juros incentivará o gasto do setor produtivo. Além disso, com a Selic tão baixa, o Brasil pode ver um cenário de aumento do dólar e redução mais forte dos ganhos com aplicações financeiras de renda fixa.
O Conselho de Política Monetária do Banco Central do Brasil (Copom) confirmou no final da tarde desta quarta-feira (17) o novo corte da Selic. Conforme já previam analistas, a taxa básica de juros da economia caiu de 3% ao ano para 2,25%. Este é o oitavo corte consecutivo da taxa no atual ciclo, após período de 16 meses de estabilidade.
A Selic é um dos instrumentos que o Banco Central usa para controlar a inflação e a entrada de investimentos estrangeiros. Além disso, ela também é a média de juros que o governo brasileiro paga pelos empréstimos tomados dos bancos. Se a Selic aumenta, por exemplo, os bancos preferem emprestar ao governo, porque ele paga bem. Porém, quando ela é cortada, os bancos são "empurrados" para emprestar dinheiro ao consumidor.
O economista José Márcio de Barros avaliou a atitude do Banco Central como corajosa. De acordo com ele, cada vez que a taxa de juros é cortada há um desincentivo para os investidores estrangeiros investirem no país.
"Esses investimentos representam a introdução de dólares no país. Se o Brasil tem uma oferta maior de dólares circulando no mercado, a tendência é que o preço dele caia. Mas, por outro lado, quando você afugenta o investidor, se cria um problema porque se não vier dólares para o mercado a tendencia é que o valor aumente", explica.
No cenário interno, a taxa de juros baixa é um estímulo aos investimentos por parte de empresas e pessoas físicas. Segundo ele, isso ocorre porque o valor que se pagaria em juros em um empréstimo, por exemplo, é muito menor, o que incentiva a tomada de dinheiro.
Ainda de acordo com o economista, o Copom pode cortar ainda mais a Selic até o final do ano. Isso vai depender se o anúncio dessa quarta-feira (17) tiver resultado ou não. "Dentro do próprio seio do Banco Central se fala em mais cortes. O que as pessoas vão procurar agora analisar a ata da reunião desta quarta (17), quando ela sair. Como ela em mãos, o mercado vai tentar ver o que está nas suas entrelinhas", diz.
Ele lembra que o Banco Central tem dado constantes "choques" de redução da Selic e a economia não respondeu a eles. Dessa forma, enquanto o mercado não responder, o Copom deve continuar cortando a taxa. "Até que ela faça sentido e as pessoas comecem a investir", aponta.
A nova redução da Selic, de 3% para 2,25% ao ano, fará a rentabilidade do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) ser maior do que a da taxa. Por lei, o fundo rende 3% ao ano mais a TR (taxa referencial que está zerada).
O corte também consolida para o investidor, pessoa física ou jurídica, um cenário de menos rentabilidade em alguns tipos de investimento. Quem estava acostumado a obter ganhos significativos com renda fixa, já vem sendo obrigado a sair da zona de conforto e apostar em correr riscos maiores.
Desde os primeiros cortes da Selic, em meados de 2019, tem ocorrido migração significativa de recursos da renda fixa tradicional para os fundos de ações, imobiliários ou de créditos, que ofereçam no longo prazo, maiores rentabilidades.
O CFO da Veritas Capital Management, Flavio Rietmann, aponta que "a festa do ganho fácil acabou no mundo e agora também no Brasil". Segundo ele, as tomadas de decisões de investimentos ou mesmo de captação de recursos (endividamento) deverão ser mais analíticas e mais prudentes.
Embora algumas instituições projetem a Selic próximo a zero até o final de 2020, Rietmann ainda não acredita que isso vá acontecer.
"A questão fiscal será acompanhada e monitorada e caso não caminhe bem, haveria o risco de o quadro de juros e inflação baixa mudar de maneira drástica e catastrófica", afirma. Por isso, "é o momento de todos - gestores de recursos, banqueiros, empresários, investidores e, principalmente, o governo -, serem sérios, responsáveis e resilientes", conclui.
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