"Temos que parar de achar solução pública em problema do setor privado e começar a achar solução privada para problema público". A afirmação é do presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, que participou, na tarde desta quinta-feira (5), de um evento em Vitória, transmitido on-line. De acordo com ele, é preciso entender que o setor privado vai ser um grande catalisador do desenvolvimento do país, já que as empresas estão avançado em diversos aspectos, principalmente, na tecnologia.
O presidente do BC participou do painel "A interface da política x mercado", junto ao governador Renato Casagrande, no "8º Fórum Liberdade e Democracia", que acontece até sexta (6), em Vitória, com transmissão pela internet. No painel, Campos Neto ainda afirmou que o país passa por uma recuperação em "V", em que a retomada é quase tão veloz quanto a queda.
De acordo com ele, a indústria está sendo fundamental para a retomada da economia, diante da crise causada pela pandemia do novo coronavírus. "O Brasil foi o país emergente que menos caiu durante a pandemia e é o que está se recuperando melhor", disse.
A maior parte dos recursos que foram investidos para minimizar os impactos da crise no país foram voltados às pessoas físicas, direcionados, principalmente, ao auxílio emergencial. Dos R$ 469,8 bilhões gastos pelo governo até 3 de novembro, R$ 228,8 bilhões (48,74%) foram aplicados no benefício. Os números estão no Siga Brasil, ferramenta do Senado para pesquisas sobre a execução do orçamento.
Campos Neto já havia dito, em outra ocasião, que o governo deveria passar a concentrar seus programas voltados ao alívio dos efeitos da pandemia nas empresas e não nas pessoas físicas. Naquele momento, ele apontou que há uma recuperação "muito grande" nas horas efetivamente trabalhadas. Isso, segundo ele, mostra uma recuperação da renda dos trabalhadores e do mercado de trabalho.
Outro ponto abordado pelo presidente do BC foi a autonomia do órgão. O Senado aprovou, na última terça-feira (3), um projeto de lei para que o banco não seja mais submisso ao governo federal. Com isso, a presidência da instituição passa a ter um mandato não concomitante com o Executivo.
"Isso faz também com que o Banco Central tenha poder de tomar medidas duras e impopulares, que talvez não tenham impacto a curto prazo. Você ainda remove uma parte de risco que está embutida nos juros a longo prazo e, com menos risco, barateia o custo do crédito no país", aponta.
No evento, Roberto Campos Neto também falou sobre o equilíbrio fiscal do país e o aumento dos gastos públicos em meio à pandemia. De acordo com o presidente do BC, o país vai sair dessa crise com um nível de dívida muito alto e com sérias preocupações, sendo que uma das variáveis que não vai voltar tão rápido é o emprego.
"O resultado do conjunto de medidas de enfrentamento à pandemia adotadas é uma enorme elevação da dívida pública. Em volume nominal, ela é superior à da 2ª Guerra Mundial. Porém, no cenário atual, mais arriscada para a credibilidade do Brasil. Entre os países emergentes, atualmente, apenas um país da África tem uma dívida maior que a do Brasil", conta.
O presidente do Banco Central lembrou também que os países com o equilíbrio fiscal mais frágil são aqueles com maior depreciação da moeda e ressaltou que é importante que o Brasil volte ao rumo.
"Hoje, o país vive um momento de juros baixos e alta liquidez. Se o Brasil fizer o dever de casa vai conseguir se recuperar. Em meio ao cenário atual, a credibilidade passa a ser mais importante do que o ganho que se pode ter injetando dinheiro na economia e piorando o equilíbrio fiscal", aponta.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, apontou, durante o painel, que União, Estados e municípios precisam cumprir o seu papel para que o país cresça. Ele lembrou que manter as contas equilibradas para ter recursos e investir em saúde, educação e desenvolvimento são fundamentais.
Casagrande ressaltou ainda que o governo do Estado está com as contas equilibradas, o que permite investir e atrair investimentos.
"Um Estado como o nosso, que quer ser competitivo, tem que ser eficiente. Além disso, temos que ampliar a nossa competitividade externa. Nunca teremos um mercado consumidor interno grande. Nesse item vamos ter dificuldade de avançar. O que vai nos ajudar é a eficiência e capacidade de comunicação e investimentos que fazemos em saúde e educação. Ainda temos muito o que avançar em outros setores. Estamos em quinto no ranking nacional de competitividade, mas podemos chegar em primeiro", afirmou Casagrande.
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