Mesmo após a pandemia, período que muitas empresas mandaram os colaboradores realizarem suas atividades profissionais de casa, o modelo de trabalho remoto continua sendo adotado por organizações capixabas. No Espírito Santo, 164 mil profissionais estão em home office, de forma habitual ou ocasional.
O número representa 7,1% dos trabalhadores ocupados do Estado, enquanto a média nacional é de 7,7% nessa condição. Entre esses profissionais, 138 mil estão no teletrabalho, executando as atividades por meio de equipamentos de tecnologia da informação e comunicação. Eles chegam a ganhar três vezes mais do que aqueles que atuam presencialmente.
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Os dados fazem parte do inédito módulo Teletrabalho e Trabalho por Meio de Plataformas Digitais da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua), divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O estudo analisa as novas formas de trabalho no país em 2022.
A investigação se deu no 4º trimestre de 2022 e considerou o home office em pelo menos um dia, nos 30 dias do período de referência. Entretanto, não configura trabalho remoto aquele em que a pessoa atua por conta própria, isto é, o empreendimento não tem um escritório.
As estatísticas são experimentais, ou seja, estão em fase de teste sob avaliação. O estudo é fruto de um Acordo de Cooperação Técnica com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Ministério Público do Trabalho (MPT).
Aliado às melhorias tecnológicas, o home office ganhou espaço no mundo corporativo em função da crescente demanda por flexibilidade, redução de custos, menos tempo em deslocamentos, entre outros benefícios. A ideia do IBGE é fornecer informações sobre tendências, impactos e perfis de pessoas ocupadas. Enquanto muitos colaboradores voltaram ao trabalho presencial, outros tantos continuam a exercer as atividades de forma remota.
O rendimento médio mensal das pessoas que realizaram o teletrabalho no Espírito Santo foi de R$ 6.348, enquanto que, para os que não o fizeram, foi de R$ 2.410. Desse modo, a remuneração do trabalho remoto foi 2,6 vezes maior, o que representou uma diferença de R$ 3.938.
Conforme os dados da Pnad Contínua, o perfil predominante das pessoas em home office está relacionado com maiores rendimentos, em razão de fatores diversos, tais como: ocupações relacionadas à maior nível de escolaridade; empresas inseridas em atividades que pagam maiores salários; e existência de estrutura para o teletrabalho no próprio domicílio.
Já o número de horas trabalhadas entre os modelos foi bem próximo: 40,3 horas para os que atuaram remotamente e 39,4 horas para os que vão para o escritório.
A jornalista Laísa Oliveira Rasseli trabalha em home office todos os dias da semana desde 2019. O fato de o seu marido já atuar desta forma ajudou na adaptação.
Para ela, trabalhar em casa é não perder tempo no deslocamento e ter a liberdade de comer comida caseira. "A rotina organizada ajuda até no desempenho do trabalho," avalia.
A gerente de governança e conformidade da Vix Logística, Michele Patricio de Arruda Campello, trabalha em casa uma ou duas vezes por semana. Para ela, essa modalidade é muito assertiva para equilibrar a vida pessoal e profissional dela e da equipe.
“Acredito que trabalhar todos os dias em home office cria um distanciamento e o engajamento fica mais difícil. Os membros da equipe atuam presencialmente três vezes por semana e nesses dias consigo avaliar questões sensíveis como a saúde mental deles. Essa política funciona bem”, afirma.
Michele avalia que o teletrabalho ajuda a melhorar a qualidade de vida, além de ser considerado um benefício para os colaboradores. “O modelo dá supercerto, com entregas de acordo com o esperado”, comenta.
A gerente executiva da Vix Logística, Letícia Amaral Ruggiero, também acredita que não há prejuízos na hora de adotar o teletrabalho algumas vezes por semana, pois a tecnologia é uma grande aliada neste processo.
O modelo de trabalho no Brasil tem cada vez mais se adaptado às mudanças e exigências do novo cenário econômico, como ressalta a psicóloga e diretora de Liderança, Cultura e Diversidade do Ibef-ES, Gisélia Freitas. Segundo ela, entre as vantagens deste formato estão a possibilidade de realizar suas tarefas de qualquer lugar, eliminação da necessidade de deslocamento diário para o trabalho e uma melhor organização do tempo.
“Sem a necessidade de se deslocar para o escritório, os profissionais economizam em custos de transporte e alimentação, além de poderem utilizar seu tempo de forma mais eficiente. Isso pode ser especialmente benéfico em grandes cidades, onde o trânsito congestionado pode consumir horas preciosas do dia”, pontua Gisélia.
Ao adotar o trabalho remoto, tanto empregadores quanto funcionários devem ter cuidados específicos. A advogada Patrícia Pena da Motta Leal, especialista em Direito do Trabalho, salienta que os empregadores precisam formalizar um acordo por escrito, pois deve haver um contrato ou um adendo que estabeleça claramente as condições do home office, incluindo horas trabalhadas, compensação, reembolso de despesas e expectativas de desempenho.
A empresa deve garantir ainda que os colaboradores tenham os recursos necessários para realizar suas tarefas remotamente, como computadores, acesso seguro à rede e ferramentas de comunicação.
“Também é fundamental implementar medidas de segurança cibernética para proteger informações confidenciais e dados da empresa e monitorar o cumprimento das leis trabalhistas”, orienta Patrícia.
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