A atual crise do petróleo e também a pandemia têm provocado impactos profundos nas indústrias produtoras de etanol no Espírito Santo e no país. O setor tem sofrido um duplo efeito da turbulência econômica. Além de ser afetado pela queda no preço da gasolina, que tira a atratividade do álcool combustível, o segmento também viu o avanço do novo coronavírus derrubar ainda mais as vendas.
Atualmente existem três usinas no Estado: Alcon, Paineiras e Lasa, que juntas geram cerca de 15 mil empregos diretos e indiretos. Algumas têm diversificado a produção, fabricando cosméticos e até bebidas, e tem ainda exportado parte de seus estoques para manter os negócios de pé.
O isolmento social, ferramenta que tem sido adotada para evitar a propagação do coronavírus, levou a queda de 65% nas vendas, conforme antecipou A Gazeta. Os dados são da Secretaria de Estado da Fazenda. Nem mesmo a queda no preço do etanol fez com que as vendas aumentassem.
Para os motoristas não tem valido à pena abastecer com etanol por causa do baixo preço da gasolina. Influenciado pela briga entre Arábia Saudita e Rússia, o valor do barril de petróleo caiu consideravelmente e derrubou, junto, o preço do litro da gasolina inviabilizando a utilização do álcool como combustível automotivo. Nos últimos dias, a Petrobras até elevou o preço da gasolina, mas nada que trouxesse impacto no etanol.
Em todo o Brasil, estima-se que cerca de 25% das usinas de açúcar e álcool podem fechar as portas por causa da crise do coronavírus.
Hoje, os contratos que tínhamos foram todos cancelados pelos compradores. O preço despencou e nem assim está tendo venda. Daqui a três, quatro meses, vai ter que parar a safra. Quem só faz álcool não vai ter nem lugar para guardar o estoque disse o diretor-superintendente da Usina Alcon, Nerzy Dalla Bernardina Junior, que também produz açúcar.
O diretor-superintendente da Usina Paineiras, Antônio Carlos de Freitas, que atua mais no Sul do Estado, destaca que a crise vem desde anos passados, com a falta de chuvas na região. Como passamos por uma seca muito grande, a nossa produção ficou em 25% da capacidade instalada. Esse ano o clima está bom, mas veio o coronavírus que nos gerou um problema ainda maior, conta.
Um dos pedidos dos representantes do setor do etanol é a redução do ICMS cobrado pelo Estado na venda do etanol. A tributação paga pelas indústrias chega a 27% no Espírito Santo, enquanto nos Estados vizinhos gira em torno de 15% em São Paulo, por exemplo, o ICMS do etanol é de 12%.
Nós temos discutido uma ajuda do governo às indústrias, mas a dificuldade do governo é clara. O pão tem que ser dividido para muita gente, mas acreditamos que essa ajuda vai vir porque o governador Casagrande ficou muito sensibilizado quando levamos nossa proposta, disse o diretor-presidente da Lasa, Carlos Beltrão.
Entre os pedidos feitos ao governo estadual está a aplicação do crédito presumido do ICMS, benefício que já é aplicado a outros setores. Com isso, parte do valor do imposto que iria para o Estado deixa de ser pago, mas precisa ser investido em estratégias que culminam no crescimento do negócio.
A redução direta do imposto também é vista como uma saída positiva para o setor.
As usinas de álcool locais abastecem cerca de 60% do mercado capixaba de etanol logo, há espaço para o crescimento das indústrias locais. O restante do etanol usado no Espírito Santo vem de Estados vizinhos.
Se a gente tivesse menos imposto, conseguiria produzir mais. Assim, evitava que empresas de outros Estados jogassem o álcool deles aqui no Estado, aponta o diretor-superintendente da Alcon.
O Estado já chegou a contar com sete usinas de álcool. Hoje são apenas três. Enquanto o Espírito Santo perde unidades, a Bahia trabalha com a importação de álcool de outros Estados. Lá eles estão aumentando o número de usinas, destaca Beltrão.
Questionado sobre a possibilidade de reduzir os impostos para o setor de etanol no Espírito Santo, o secretário de Estado da Fazenda disse que tal redução não está na pauta do governo. Em um momento de queda de arrecadação e dificuldade do Estado, adequar medidas que gerem perda de arrecadação não é adequado, justifica Rogelio Pegoretti.
O governo tem ciência das dificuldades do setor. Por isso, desde o ano passado estamos estudando medidas para buscar apoiar a indústria de álcool aqui no Estado, principalmente para concorrer com as empresas de fora do Estado, ponderou.
Nossa prioridade é que nossa indústria seja mais competitiva e isso está sendo construído junto com o setor e temos como objetivo que 100% do etanol consumido no Estado seja produzido aqui, concluiu.
Com a queda do preço e da venda do etanol, as usinas estão buscando novas alternativas para continuar em atividade. A mais comum é o desvio da cana para a produção de açúcar.
É isso que estamos fazendo, segurando a cana para fazer açúcar, porque ele eu consigo vender. O preço também não está bom porque praticamente todas as usinas do Brasil estão fazendo isso, mas ainda assim é melhor do que o álcool, comenta Nerzy Dalla Bernardina Junior.
Carlos Beltrão, da Lasa, disse que uma saída tem sido a exportação principalmente para quem negocia em dólar, com o preço da moeda americana batendo recordes diários. No fim do mês vamos embarcar o primeiro navio para os Estados Unidos, mas também estamos tentando vender para o mercado interno, destaca.
A gente conseguiu diversificar muito nossa produção fazemos álcool como bebida, cosmético, energia, também produzimos CO2. Com esse mix de produção nós conseguimos ratear as despesas, porque a cana que chega é uma só, o resto é tudo subproduto. Mas, infelizmente, quem só faz álcool carburante vai passar por um desastre, conclui Beltrão.
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