Apesar de não vir ao Espírito Santo há pelo menos cinco anos, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, mantém uma casa no bairro Porto de Cariacica, em Cariacica. É nesse local que milhares de pessoas já foram atendidas por ele, que costumava vir duas a três vezes por ano ao Estado.
A reportagem apurou que a casa foi doada ao médium há cerca de 20 anos e está em nome dele. Segundo quem conviveu com ele, João não vem mais ao lugar porque diz estar doente. Lá há uma peça de roupa do médium.
No local não ocorrem atendimentos espirituais como os feitos em Abadiânia, em Goiás. A casa funciona como um centro espírita que, aos sábados, realiza uma reunião pública doutrinária, das 15h às 16h30.
Muitas pessoas ainda se lembram das curas do médium, como a caseira do local, Marinalva Mendes da Silva, de 77 anos. Ela mora no imóvel há 13 anos e disse que foi curada de uma úlcera.
Fui em vários médicos, mas todos receitam remédio e a dor voltava em alguns dias. Foi João de Deus que me curou, mas ele não aparece mais aqui e ninguém fala se ele voltará, relata.
DENÚNCIAS
Nos últimos dias, surgiram centenas de depoimentos de mulheres que acusam o médium de abusos sexuais enquanto estava sozinho com elas. Os casos teriam acontecido dentro da Casa de Dom Inácio de Loyola, centro espiritual em Abadiânia, Goiás. As denúncias foram reveladas no programa Conversa com Bial da TV Globo e também pelo jornal O Globo.
Diante dos casos, a Federação Espírita do Espírito Santo decidiu se pronunciar nesta segunda (10). A instituição afirma reprovar que os atendimentos sejam feitos de forma individual.
O Espiritismo, codificado por Allan Kardec, orienta a atenção material e espiritual aos que lhe buscam a assistência fundada na Ética Evangélica, que sentencia: Amai-vos uns aos outros como eu vos amei, disse em nota.
E completa: Conquanto respeite compreensão contrária, desaprova a realização de atividades, particularmente as mediúnicas, isoladas ou de caráter individual. Os que as realizam estão distantes da orientação espírita e não detêm qualquer vínculo com o Movimento Espírita Federativo", diz a nota.
REGISTROS
A reportagem foi até o centro, em Cariacica, e questionou as pessoas que moram próximas sobre relatos de possíveis abusos. Ninguém sabia de casos no Espírito Santo. A gente não tem nada o que falar sobre o assunto que saiu na mídia, diz uma das integrantes da casa no Estado, que não quis se identificar.
A Polícia Civil foi procurada e respondeu, por nota, que não há registros de denúncias contra do médium João Teixeira de Faria no Estado. Já o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) disse apenas que acompanha o caso. Informa que possíveis vítimas devem denunciar por meio do telefone 127, e-mail [email protected] ou presencialmente no Núcleo de Enfrentamento às Violências Domésticas de Gênero em Defesa dos Direitos das Mulheres (Nevid).
MP DE GOIÁS RECEBE 40 DENÚNCIAS EM SETE HORAS
Quarenta mulheres entraram em contato, em um período de sete horas, nesta segunda (10), com o Ministério Público de Goiás (MP-GO) se identificando como vítimas de abusos sexuais cometidos pelo médium João de Deus. Segundo os promotores, 35 dos relatos foram feitos pelo e-mail criado exclusivamente para as denúncias: [email protected]. Elas devem ser ouvidas até o fim de semana.
O advogado Alberto Toron, que defende o médium, afirmou que o cliente nega as acusações e que ele está à disposição da Justiça para esclarecimentos. O MP de Goiás montou uma força-tarefa para esclarecer o caso.
O Ministério Público de São Paulo (MP-SP) também montou uma força-tarefa. Mulheres que procuraram o MP devem começar a ser ouvidas nesta quinta-feira. O MP paulista disponibilizou um endereço de e-mail para as mulheres que queiram fazer denúncias: [email protected].
Com base em posts em redes sociais nos últimos dias, a promotora estima que haja cerca de 20 vítimas no estado de São Paulo nem todas se dispuseram a prestar depoimento. As provas serão compartilhadas com o MP de Goiás.
INQUÉRITOS
A Polícia Civil de Goiás tem dois inquéritos em andamento contra o médium João de Deus , que estão em estágio avançado e perto de serem concluídos. De acordo com a Secretaria Estadual de Segurança Pública, outros dois inquéritos foram formalmente abertos ontem, tendo como base novas denúncias recebidas logo após o caso vir à tona.
Todos os quatro inquéritos tratam de suspeita de abuso sexual. Um deles é do ano de 2016. O segundo, que envolve uma vítima do estado de São São Paulo, foi aberto em 2018. Em um dos processos (a polícia não revela qual), João de Deus já foi inclusive ouvido pela polícia.
Segundo a delegada Marcela Orçai, da coordenadoria de Comunicação da PC de Goiás, duas mulheres procuraram a instituição ontem para também denunciar abusos do médium.
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