Vontade de fazer a diferença, querer o melhor para seus iguais e lutar para ter direitos cumpridos eram sensações comuns entre os cerca de 30 adolescentes que participaram do encontro para debater direitos das Crianças e Adolescentes promovido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e com apoio da Rede Gazeta, na tarde de sexta-feira (01), em Vitória. São jovens que possuem iniciativas próprias dentro das escolas ou das comunidades onde residem na tentativa de concretizar direitos e mudar o meio onde vivem.
O encontro faz parte da sucessão de eventos para a comemoração dos 30 anos da criação da Convenção Internacional sobre Os Direitos da Criança e do Adolescente. Uma das convenções mais ratificada pelos países no mundo, o Brasil foi um dos primeiros a assiná-la e no ano seguinte aprovou o Estatuto da Criança e do Adolescente. "A convenção foi um divisor de águas. Uma nova forma da sociedade e dos governos olharem para as crianças e adolescentes nas garantias e nos direitos deles, os reconhecendo enquanto sujeitos de direito", explicou Immaculada Prieto, especialista em comunicação do Unicef na região Sudeste do Brasil.
Em decorrência do marco de 30 anos, o Unicef está propondo um calendário de ações. No dia 13 de novembro haverá um ato solene no Congresso Nacional para chamar atenção e dar luz na discussão de como vivem as crianças e os adolescentes no brasil e qual compromisso precisa ser reafirmado. "Antes disso, temos eventos em diferentes estados. Queremos transformar o marco dos 30 anos numa oportunidade do Brasil, do Espírito Santo e de cidades como Vitória, refletirem quais foram os avanços em relação a direitos de crianças e adolescentes e quais os desafios daqui pra frente", explica Immaculada.
Uma campanha do Unicef também ganhará as redes sociais.
No Espírito Santo, o Unicef em parceria com a Rede Gazeta pretende vai promover o "Ativaço" no dia 22 de novembro. "O objetivo é valorizar a participação dos adolescentes, assumindo esse ativismo no meio social e que isto seja respeitado pelos adultos. Vamos promover um encontro para diálogo e interação com gestores públicos", descreveu a especialista em comunicação. Serão convidados os secretários de Direitos Humanos, de Educação, vice-governadora, empresários e outros atores sociais para conversarem com os adolescentes, uma vez que tomam decisões importantes que impactam a vida desses jovens.
A própria Convenção Internacional prevê a participação dos meninos e meninas nas decisões que geram consequências na vida deles. "Ou seja, crianças e adolescentes devem ser ouvidas e consideradas dentro de casa, na escola, na comunidade e até nas decisões do poder público. O direito a participação é quando chegamos em decisões, escolhas e soluções, que estão mais perto da vida como ela. Para isso, é necessário ouvir quem sofre os desafios, abrindo espaço para as propostas de quem está protagonizando isso no dia a dia para encontrar caminhos que realmente se sustentam e trazem resultado", detalhou Immaculada Prieto.
Espaço no mercado de trabalho. Na visão do estudante Benjamim Vicente Nascimento, 17 anos, esta é um dos desafios para quem é jovem. "Ainda é muito difícil para quem é adolescente estar no mercado de trabalho, mesmo as empresas sendo obrigadas a destinar vagas para esse público, ainda mais quando são adolescentes negros, GLBT ou moram em bairros perigosos. Eles são cortados dessas vagas", pontua o garoto que integra o Fórum Estadual de Juventude Negra (Fejunes). "Precisamos mostrar as políticas públicas que existem para muitos de nós e onde podemos correr atrás", acrescenta Benjamim.
O evento contou com um bate-papo com o editor de Performance da redação de A Gazeta, Aglisson Lopes, falando sobre a democratização da informação a partir das mídias digitais e como a informação pode transformar realidades. "A informação traz conhecimento e junto dele mil possibilidades de quebrar preconceitos e ciclos de dificuldades. Aqui vimos que as próprias redes sociais deixaram de ser lazer e passaram a ser locais de mobilização de jovens com interesses em comum. Eles estão antenados e podem transformar a realidade em que estão inseridos com a ajuda do mundo digital utilizando-se apenas de um smartphone, por exemplo. É dar voz ativa para quem não tinha", observou Lopes.
A estudante Josiely Cassimiro Ferreira, 16 anos, faz parte do Projeto Adolescentes em Ação e diz que ainda falta muito espaço para o adolescente ser ouvido. "Queremos que nos ouçam, que escutem a nossa voz, para participarmos da sociedade como um todo. Ainda falta dar voz ao adolescente nos espaços públicos", diz a jovem que colabora com pessoas que estão em conflito com a autoestima ou deprimidas.
Atuantes no projeto de Lideranças Dom Bosco, as amigas Blenda Amanda Lima e Ludmila Pereira, ambas de 16 anos, se dividem em duas frentes: Blenda é do aprendizado da área técnica e Ludmila de teatro e dança com temas de combate à violência doméstica. "O objetivo é fazer intervenções na vida dos jovens. Ações como a desta sexta-feira nos faz ter um momento para falar o que precisamos, expor isso e dividir esse pensamento", observou Blenda.
Integrante do projeto Serenata Canto Coral, a jovem Pâmela Assis Vieira Rodrigues. 16 anos, trouxe a filha Isis, de 2 meses, para não perder o encontro. "Ainda lutamos por respeito para pessoas da nossa idade e para a diversidade. Há muito a ser conquistado ainda", pontuou.
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