"Agora só falta contarem o que fizeram com o corpo do meu pai". O desabafo é de Fabrício Freitas, filho de Carlos Batista, ambos advogados. Muito emocionado, ele relata que foram foram décadas de espera por Justiça e pela prisão dos condenados por assassinarem o seu pai.
Freitas relata que foi surpreendido na tarde desta quinta-feira (17) com matéria de A Gazeta relatando que o motorista João Henrique Filho, o Joãozinho, foi preso no estado do Acre, no último dia 7. Foragido desde o ano 2000, ele foi condenado pelos assassinatos do advogado Carlos Batista de Freitas e de mais duas pessoas.
A prisão ocorreu após cumprimento do mandado de prisão, fato já comunicado aos Juizados da 1ª Vara Criminal de Vitória e o da 3ª Vara Criminal da Serra. Foi informado ainda que Joãozinho foi encaminhado para a Unidade Prisional Francisco de Oliveira Conde, em Rio Branco.
O filho, que ainda mora no apartamento que pertenceu a Carlos Batista, já adiantou que vai solicitar à Justiça que o executor seja trazido para o Espírito Santo. "Ele precisa retornar, cumprir pena aqui. E tem que confessar onde sepultou o meu pai. É a única coisa que falta para fechar este ciclo", desabafou.
Fabrício Freitas recebeu a informação da prisão do assassino de seu pai por intermédio de um amigo. "Um policial militar que sempre me ajudou. Corri muito atrás desta prisão, para que fosse cumprida a decisão da Justiça", explicou.
Ele conta ainda que, ao longo dos anos, a sua luta por Justiça foi mal interpretada por muitas pessoas. "Chegaram a avaliar que eu estava com problemas psicológicos. Mas isso nunca foi verdade. Minha luta sempre foi pela realização do julgamento, condenação dos executores e mandantes, e pela prisão deles. Agora sinto que a Justiça está acontecendo", disse.
O filho estava com dez anos quando Carlos Batista desapareceu. Brincava em uma praça com amigos quando uma vizinha o chamou e mostrou um jornal com a notícia de que ele tinha sido morto. Naquele dia, Fabrício correu para casa e se trancou no quarto. "Jurei que faria Direito para lutar pela condenação daqueles que tiraram o meu pai", relata.
Dos tempos de infância, ele se lembra de um pai amoroso e sempre presente na vida do único filho. "Uma semana antes dele morrer, me presenteou com dois sacos de bola de gude. A minha história poderia ter sido outra se ele ainda fosse vivo. Provavelmente, estaríamos trabalhando juntos, advogando juntos. Ele não pôde me ver crescer e nem conhecer o neto", conta Fabrício, muito emocionado, acrescentando que agora espera seguir com a sua vida.
O assassinato do advogado Carlos Batista de Freitas - cujo corpo nunca foi encontrado - teve origem com o duplo assassinato do ex-prefeito da Serra José Maria Feu Rosa e do motorista dele, Itagildo Coelho, em 8 de junho de 1990, em Itabela, Bahia.
Os dois foram executados a tiros quando seguiam para a fazenda de Feu Rosa por um grupo de pistoleiros, em sua maioria policiais e ex-policiais militares. Logo após o duplo homicídio, ocorreram pelo menos oito crimes e a suspeita era de queima de arquivo.
No ano seguinte, em 24 de janeiro de 1992, o advogado Carlos Batista de Freitas foi assassinado. Segundo o Ministério Público Estadual (MPE), ele tinha sido contratado pelos mandantes do assassinato do ex-prefeito da Serra e de seu motorista para defender os acusados. Mas como os seus honorários não foram pagos, havia o temor de que ele divulgasse um dossiê contando os detalhes da morte. Joãozinho foi um dos condenados por este crime, como executor do advogado.
Pelo assassinato de Carlos Batista foram condenados, além de Joãozinho, o soldado da PM Geraldo Antônio Piedade Elias, que está preso, e o ex-prefeito da Serra Adalton Martinelli, que cumpre pena em regime aberto. Joãozinho foi julgado à revelia, por ter fugido da Casa de Custódia de Vila Velha pela porta da frente, no ano 2000.
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