Um perfil criado no Instagram por alunas dos cursos de engenharia da Ufes reúne muitos relatos e tem gerado um grande engajamento por parte das mulheres. O @ouvinoct começou a funcionar há pouco mais de 10 dias e tem como objetivo denunciar o assédio e machismo sofrido por meninas dentro do Centro Tecnológico (CT), sejam eles praticados por colegas de curso ou mesmo professores.
A página, na primeira semana de criação, superou os 1 mil seguidores. Nas publicações, o @ouvinoct compartilha frases que foram ouvidas pelas próprias meninas dos cursos de engenharia e que foram divulgadas por elas com o intuito de se ajudarem e ajudarem outras mulheres.
"Fiquei sozinha com meu professor fazendo prova, ele pediu meu número", dizia uma postagem. "Se você vem de vestido pra aula, onde só tem homem, tem que aceitar comentários, olhadas e investidas em você". "Mulher biologicamente é menos apta às ciências exatas", são alguns dos exemplos dados pelas integrantes.
A estudante de engenharia civil, Carolina Maia, de 25 anos, é uma das administradoras do perfil na rede social. Ela conta como surgiu a ideia e reforça a importância de ter um espaço desse em que as mulheres possam denunciar o desrespeito sofrido no dia a dia.
"A gente tinha um grupo de Whatsapp com cerca de 200 alunas das engenharias da Ufes. E foi lá que surgiu o primeiro relato de assédio e depois disso outras meninas foram criando coragem e dando seus depoimentos. Tem relato de professor que liga para a aluna, tem relato de gente que trata a mulher engenheira como sendo menos inteligente que o homem engenheiro e diversos outros exemplos que envolvem machismo e assédio. Nossa ideia é continuar com as postagens e também nos reunir pessoalmente para debatermos o tema e esclarecer o que é assédio, o que é machismo. Muitas vezes você sofre alguma violência dessas e nem sabe que está sofrendo um assédio. É importante todas nós, mulheres, termos essa consciência", reforça Carolina.
Além de alunas da Ufes, meninas de outras instituições de ensino do Espírito Santo, e até mesmo de fora do estado, já fizeram contato via Instagram para contribuir e compartilhar experiências.
"Nós já recebemos algumas mensagens no nosso perfil de meninas de outros cursos da Ufes, do Ifes e outras faculdades daqui e até de Minas Gerais que relataram situações que aconteceram com elas também. A ideia é incentivar mais e mais mulheres a não se calarem, para a gente começar a mudar essa realidade", reforça a estudante.
A Universidade Federal do Espírito Santo, questionada sobre o perfil criado por alunas da instituição que denunciam na internet assédio e machismo dentro do campus, enviou a seguinte nota:
De acordo com o Ouvidor Aureo Banhos dos Santos, nenhuma denúncia formal sobre situações de assédio no Centro Tecnológico chegou à Ouvidoria até o momento. A Ufes mantém o canal Ouvidoria da Mulher, criado justamente para recolher e tratar informações relacionadas ao assédio e à violência contra a mulher no âmbito da Ufes, oferecendo atendimento diferenciado, realizado por uma servidora capacitada. Tal canal visa desconstruir o receio das mulheres em se manifestar, auxiliando a Administração da Universidade a tomar ciência dos fatos para que possa agir no sentido de combater as situações de assédio.
Quando alguma reclamação ou denúncia chega à Ouvidoria da Mulher, havendo elementos suficientes para o prosseguimento, como autoria e materialidade, é encaminhada a documentação ao gestor hierárquico superior ao denunciado, como os diretores dos Centros de Ensino ou o Reitor, para apuração e providências. Dependendo da situação, a Ouvidoria sugere a abertura de procedimento de sindicância e, se for o caso, posterior processo administrativo disciplinar (PAD).
O Ouvidor lembra que a Ouvidoria da Mulher segue o regimento da Ouvidoria da Ufes, atendendo tanto a comunidade universitária quanto a sociedade em geral. Porém, os atendimentos são restritos aos casos ocorridos no âmbito das dependências da Universidade ou aqueles que envolvam membros da comunidade acadêmica em atividades da Universidade fora de suas dependências. O Ouvidor ressalta, ainda, que a Ufes apura as denúncias no âmbito administrativo.
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