Na identidade, ele é Carlos Alberto Pereira da Silva Chacrinha, mas no Jaburu, em Vitória, ele é apenas o Carlinhos, de 17 anos. Com bom humor, sorriso fácil e fala rápida, o adolescente divide o dia entre as aulas do 3º ano do ensino médio com o cargo de diretor de comunicação do Fórum Estadual de Juventude Negra (Fejunes) e de coordenador de comunicação do Fórum de Juventude do Território do Bem, que abriga nove comunidades da Capital: Jaburu, Floresta, Gurigica, Bonfim, Consolação, São Benedito, Bairro da Penha, Itararé e Engenharia.
Carlinhos é um dos adolescentes com boas ideias e disposição de ajudar pessoas. O viés de protagonista social de Carlinhos começou quando ele ainda era apenas um aluno de um projeto social de jiu-jítsu. Aos 11 anos, a indignação bateu à sua porta. Eu tinha que atravessar dois bairros para chegar ao projeto. Eu já era auxiliar do professor, chorei e disse que outras pessoas queriam participar no meu bairro e, assim, montamos uma turma um ano depois, em um espaço de uma igreja próximo ao mirante do Jaburu, conta o garoto.
Atualmente, 20 crianças e 30 adultos fazem aulas de luta marcial, entre eles o próprio Carlinhos, que se tornou o coordenador do projeto. Mas ele quer fazer muito mais. O estudante quer dar visibilidade às aspirações de jovens da comunidade onde vive e da região vizinha.
A informação demora para chegar ao jovem que mora no alto do morro, como demorou para mim. Um jovem que não tem esse engajamento, não consegue ter informações sobre seus direitos, temos potências dentro das comunidades, queremos desenvolver os ideais de pertencimento, territorialidade e potencialidade do lugar onde vivemos, fala com propriedade o estudante.
No Fejunes, o garoto busca, com outros jovens, criar sugestões de políticas públicas voltadas para a juventude negra. O desafio é levar para essa camada da população o conhecimento sobre seus direitos e como ter acesso a eles.
Debatemos saúde, educação e segurança no último encontro estadual. O objetivo é entregar as ideias para o governador Renato Casagrande para que ganhem efetividade, explica Carlinhos, que impressiona pela maturidade com que se expressa ao falar dos seus planos. O rapaz concilia todos os eventos com o Varal de Ideias, base para projetos desenvolvidos no Território do Bem, que mobiliza as comunidades. E, ainda, dedica-se à escola.
Verdade que pareço cansado na escola, mas esse ano acaba. Pretendo fazer curso técnico e depois faculdade de Pedagogia, provavelmente. Ainda tenho namorada, que me acompanha nas ações sociais e, de vez enquanto, meu tio cobra a minha presença em casa. Mas dá para dar conta de tudo sim, conta o adolescente entre risos.
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