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Apagão no Ensino Superior: falta luz e até papel higiênico na Ufes

Apagão no Ensino Superior: falta luz e até papel higiênico na Ufes

Corredores às escuras, sujeira espalhada pelo chão e até banheiro sem papel higiênico: estudantes já sofrem com os impactos de anos seguidos de cortes no orçamento

Publicado em 16 de agosto de 2019 às 00:30

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Corredor sem luz na Universidade Federal do Espírito Santo. (Caíque Verli)

Corredores às escuras, sujeira espalhada pelo chão e até banheiro sem papel higiênico: estudantes da Universidade Federal do Espírito Santo já sofrem com os impactos de anos seguidos de cortes no orçamento do Ministério da Educação.

A situação tende a piorar com os efeitos das últimas medidas de contenção de gastos anunciadas pela Ufes para manter o funcionamento da universidade até o final do ano, já que 38% dos recursos que seriam usados pela instituição capixaba este ano continuam bloqueados pelo MEC.

A reportagem do Gazeta Online foi ao campus de Goiabeiras da Ufes, em Vitória, e confirmou vários problemas que são constantemente relatados por estudantes e servidores. Pelo menos em dois prédios com salas de aula, os banheiros sequer tinham papel higiênico e sabonete, itens básicos para a higiene dos alunos.

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MEDIDAS

O que não está bom pode piorar já que uma das medidas recém-adotadas pela Ufes inclui corte de 50% nas despesas de material de consumo e redução na frequência da limpeza de banheiros da área administrativa, de salas de aula, de salas administrativas e de professores, além dos corredores dos prédios.

Joyce Monteiro, que cursa biblioteconomia, também relata muitos prédios apresentam pelo menos um corredor sem energia. (Caíque Verli)

A falta de iluminação no campus provoca medo nos alunos, principalmente naqueles que têm aulas à noite, como a caloura de Artes Visuais, Mariane Nunes dos Santos. 

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Eu quando entrei tomei um susto, tudo um breu, não dava absolutamente para enxergar nada. Só não fiquei com muito medo porque ando em grupo, mas a pessoa sozinha não tem segurança nenhuma

Mariana Nunes dos Santos, estudante
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Joyce Monteiro, que cursa Biblioteconomia, também relata que muitos prédios apresentam pelo menos um corredor sem energia elétrica. "Os prédios precisam de reforma. O banheiro da lojinha do estudante não funciona à noite porque não tem luz. E com a falta de ar-condicionado, vamos sofrer com os mosquitos".

EQUIPAMENTOS QUEBRADOS

Equipamentos quebrados demoram para serem consertados na Universidade. Um aparelho de ar-condicionado que parou de funcionar em uma sala de aula onde estudava Ulisses Mantovani, que faz bacharelado em Música, demorou meses para ser trocado no primeiro semestre.

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"Estava muito quente. Mas o problema maior não é nem o calor. Como a gente está em uma área de mangue, um monte de mosquito entra na sala. Atrapalha muito porque você fica se batendo para espantar os mosquitos", lembra.

Desde o início deste segundo semestre, todos os aparelhos de ar-condicionado de salas de aula e setores administrativos deixaram de ser ligados, como uma das ações da universidade para cortar gastos. As exceções para essa medida são espaços que não possuem ventilação natural (janela), espaços cuja cobertura não seja de laje e nos laboratórios com equipamentos sensíveis a altas temperaturas.

A proximidade dos meses mais quentes assusta os universitários, como a Jéssica Ribeiro da Cruz, que também cursa bacharelado em Música.

"Há previsões de cortes na universidade, suspensão do ar-condicionado. Vamos ter muito calor e proliferação de mosquito, isso com certeza vai prejudicar as aulas", pontua.

O ar-condicionado dos laboratórios não será desligado, mas esses espaços de pesquisa também sentem os efeitos dos cortes no orçamento destinado às universidades federais. Para conseguir manter o funcionamento da universidade, a Ufes deixa de comprar equipamentos, como microscópios, para direcionar o valor para aquisição de materiais básicos.

"Temos economizado o máximo que podemos, já não ligando os ares-condicionados ou mesmo não acendendo as luzes durante o dia, mas vai chegando a um limite de não dar mais o que economizar. A verba destinada aos alunos e professores para apresentação de trabalhos em congressos fora do Estado também foi temporariamente suspensa, prejudicando em muito a divulgação científica dos trabalhos produzidos na UFES”, conta o professor universitário Ricardo Eustáquio da Silva, do departamento de Morfologia.

Procurada, a  Ufes apenas enviou um comunicado relatando as últimas medidas de contenção de gastos. Na instituição capixaba, o contingenciamento em 2019 foi de 38% em um orçamento previsto de R$ 72 milhões.

MEDO DE PERDER BOLSAS

O anúncio do corte deixou apreensivos os universitários que dependem de bolsas e auxílios para permanecerem estudando. A reportagem teve acesso a um e-mail enviado pela própria Universidade para alunos que são monitores bolsistas em cursos da área da saúde.

O texto dizia que, devido a falta de recursos financeiros, não haveria editais para cadastro, seleção ou substituição de monitores para o mês de setembro. O e-mail, que foi enviado no dia 12 deste mês, se espalhou para alunos de outros cursos, causando preocupação.

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O programa citado na informação, de Projetos Especiais de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão (Paepe), é o mesmo que patrocina alunos de toda a universidade que estão envolvidos com pesquisa.

As bolsas são de R$ 400. Ao ser questionada, a Ufes disse que houve uma falha de comunicação. “Na terça-feira, 13 de agosto, a direção do Centro de Ciências da Saúde enviou aos seus alunos um novo e-mail corrigindo a mensagem”, afirmou a Ufes, em nota.

Quanto aos editais, a universidade disse que está buscando alternativas de financiamento para o lançamento.

O aluno Rafael Portiucker, de 25 anos, é um desses bolsistas que estão com medo do que está por vir. Ele também ouviu rumores de que a bolsa que recebe para ser monitor acabaria no dia 31 deste mês e que não seria possível tentar continuar, pois não haveria outro edital.

Estudante de pedagogia, Rafael está no 7º período e conta com a bolsa para auxiliar nas despesas mensais, já que sua família mora em Pernambuco. “Esses R$ 400 que eu perderia pesariam muito no meu orçamento e minha família nem sempre pode me ajudar. Sem essa bolsa, mais da metade do que eu ganho vai ser para pagar o aluguel”, afirma.

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O aluno mora em Jardim da Penha, em uma república com mais três pessoas. A outra fonte de renda é um estágio na Secretaria de Estado da Educação, que faz pela manhã. Sem a bolsa do Paepe, o futuro pedagogo não sabe como faria para complementar a renda.

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