O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), realizado no último domingo (03), despertou o debate acerca de um tema pouco valorizado no país: o acesso à cultura, mais especificamente ao cinema. Apesar da democratização do cinema ir muito além de espalhar salas para exibição de filmes, o fato de apenas 11 dos 78 municípios capixabas possuírem cinemas convencionais mostra como o acesso a esta arte está distribuído de forma desigual. Os dados fazem parte do Perfil dos Municípios Brasileiros (Munic) 2018, do IBGE. Confira quais são as cidades que possuem cinema no ES.
Enquanto na região metropolitana, que concentra grande parte dos cinemas do Espírito Santo, a população conta com diversas opções na Capital e arredores, no extremo norte do Estado, moradores de Ecoporanga precisam se deslocar mais de 150 km até a sala de exibição mais próxima, que fica em São Mateus.
Para o professor de Comunicação Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Alexandre Curtiss, a falta de espaços deste tipo demonstra que é dada pouca importância à cultura em muitos lugares do país. A situação é mais crítica fora dos grandes centros, onde, por questões comerciais, grandes empresas não têm interesse e nem mesmo incentivo de se instalarem.
Mas possuir cinema perto de casa não é sinônimo de democratização. Mesmo nos 11 municípios que possuem salas convencionais, o acesso só é possível para parte da população. O alto preço de ingressos, que pode chegar a mais de R$ 30 (inteira), impossibilita muitas pessoas de usufruírem desta opção cultural.
Em um cinema de Vitória, por exemplo, uma família de quatro pessoas, sendo duas crianças, gastaria quase R$ 100 reais só para ver um filme. O cálculo não considera o valor do transporte e alimentação.
Com o cinema tradicional longe de cumprir o papel de democratizar, projetos alternativos buscam reduzir as distâncias levando esta arte a locais onde ela não chega. Atualmente, iniciativas capixabas investem na descentralização da exibição de filmes, levando cinemas para praças, parques e praias do Espírito Santo e de todo o Brasil.
"A gente encontra ao longo do trabalho pessoas que nunca foram ao cinema ou nem sabem que existe. O cinema itinerante traz uma linguagem muito popular, que dialoga com todos os públicos de forma gratuita", comenta a diretora do Festival de Cinema de Vitória e coordenadora do cinema itinerante, Lúcia Caus. Há mais de 19 anos, a iniciativa percorre municípios do litoral capixaba durante o verão.
A diretora do Instituto Marlin Azul, e coordenadora do projeto Revelando os Brasis, Beatriz Lindenberg, ressalta que levar um filme para a tela de cidades onde o acesso é limitado pode mudar realidades.
Além de exibir filmes de produção nacional para pequenas cidades de todo Brasil, o projeto Revelando Brasis também leva oficinas de capacitação para a população destes locais. Com isso, moradores são capacitados para produzir seus próprios filmes e contar suas próprias histórias.
"Só de levar a tela já é importante, mas permitir que pessoas produzam e mostrar que elas são capazes de produzir é emocionante. Quando a gente apresenta o filme que foram feitos naquelas cidades, a gente vê uma identificação enorme das comunidades de ver o trabalho delas na tela. Isso promove um efeito de autovalorização em cada cidade que a gente passa. É dessa forma que a gente caminha para a democratização do cinema", finaliza.
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