Há 22 anos longe do trabalho do campo após contaminação por agrotóxico, o agricultor aposentado por invalidez, Sebastião Bernardo da Silva, 68 anos, disse já ter tomado mais de 100 mil comprimidos para tratar uma série de doenças que se manifestaram no organismo dele ao longo de mais de duas décadas de vida. Guardadas em uma sacola plástica, as embalagens de medicamentos usados formam uma pilha que impressiona pela quantidade.
Morador do bairro Caratoíra, em Vitória, Sebastião era produtor de café e feijão em Boa Esperança, região no Norte do Estado. Ele contou que nasceu em Minas Gerais, mas chegou ao Espírito Santo com os pais quando tinha 3 anos. Aos 10, começou a trabalhar na lavoura de café com a família.
Durante a internação, Sebastião recebeu a notícia que transformou a vida dele. Os médicos disseram que ele teria de deixar a vida no campo e se mudar para a zona urbana. Para ele, a determinação caiu como uma bomba, já que toda a família era sustentada com o trabalho e a renda obtida com a venda dos produtos da terra dele.
Fui diagnosticado com esquizofrenia e epilepsia e os médicos disseram que eu tinha de mudar para Vitória para continuar o tratamento. No ano 2000, aposentei por invalidez permanente. Em 2008, um novo exame apontou que meu sangue estava contaminado com o agrotóxico. A cada ano eu ia descobrindo uma enfermidade diferente, lamenta.
Além da esquizofrenia e epilepsia, Sebastião diz que tem laudos que apontam que a exposição aos produtos químicos da lavoura provocaram depressão, pressão alta, diabetes, glaucoma, alteração do sistema nervoso central e artrose. A esposa dele se aposentou pelo trabalho no campo em 2017.
Sobre a contaminação, no dia a dia na lavoura, Sebastião contou que usava o agrotóxico para eliminar plantas indesejáveis que cresciam em meio a plantação de café. Segundo ele, o mato crescia em um período curto. Ao usar o produto, economizava tempo e poupava um maior esforço físico dele e dos demais familiares que trabalhavam na roça.
Quero deixar um recado para que as pessoas deixem de usar esse veneno. Ele destrói o ser humano. Quando não morre na hora, vai morrendo aos poucos assim como eu. A cada ano aparece uma enfermidade diferente no meu corpo. Hoje, se me derem qualquer valor em dinheiro para trabalhar com isso, eu rejeito, diz.
O agricultor aposentado é casado e pai de quatro filhos. Atualmente, mora com a esposa em Vitória. Já os filhos moram na Capital, em Nova Venécia e em Rondônia. Com renda mensal de um salário mínimo (R$ 1.039), Sebastião gasta R$ 500,00, em média, para comprar medicamentos. Ele conta com a ajuda dos filhos.
Ele conta que guardou as caixas de remédio desde que começou a pensar em processar a empresa que distribui o agrotóxico no Brasil. No caso dele, os produtos químicos eram comprados em uma loja em Pinheiros, no Norte do Estado.
Tenho 50 laudos médicos, tenho retrato da roça de quando eu usava o produto. O juiz aqui deu ganho de causa a meu favor, mas a empresa recorreu ao Tribunal de Justiça e eu perdi por 2 a 1. O caso foi para Brasília e eu perdi também. Aí o processo está arquivado, explica.
A Gazeta enviou um e-mail para a Roundup às 18h17 deste sábado (07) questionando sobre o caso do Sebastião. A reportagem questionou sobre a forma como a empresa lida com casos como o do aposentado e se há um canal aberto para reclamações ou questionamentos dos clientes. Quando houver retorno, o texto será atualizado.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta