Uma onda de violência tem assustado os estudantes do campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), em Vitória, que são obrigados a conviver com a sensação de medo em sua rotina de estudos. Na última terça-feira, um bandido armado invadiu uma sala de aula e assaltou duas alunas. Já no começo do mês, um homem foi vítima de estupro na universidade.
O abuso sexual aconteceu no prédio IC 1, no Centro de Ciências Exatas (CCE). A Administração Central da Ufes informou que, assim que foi comunicada sobre o caso, encaminhou a vítima para o Hospital Universitário Cassiano Antônio Moraes (Hucam), em Maruípe, Vitória, onde ele recebeu atendimento clínico e psicológico.
Ainda segundo a Ufes, representantes da universidade acompanharam a vítima na delegacia, onde foi registrado um boletim de ocorrência. O titular da Delegacia de Goiabeiras, Izaias Tadeu Vieira da Silva, informou que está com o caso. A vítima já foi ouvida. Já recebemos as imagens de videomonitoramento da universidade que foram encaminhadas para a perícia. Agora o material vai ser editado para tentar melhorar a imagem. Assim o suspeito poderá ser identificado, explicou o delegado.
Na última semana, outra situação de violência assustou estudantes. Um bandido armado entrou em um prédio do Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) e invadiu uma sala onde estavam duas alunas de Serviço Social. Ele anunciou o assalto e roubou os pertences das jovens. A equipe de segurança da Ufes foi acionada, mas o suspeito conseguiu fugir do local. Além desse, outros seis casos de assalto foram noticiados por A GAZETA no último ano.
A Administração Central da Ufes informou que as estudantes foram encaminhadas para registrar um boletim de ocorrência. Ainda segundo a universidade, as imagens de uma câmera de segurança flagraram a ação do bandido, que foi identificado. Os vídeos foram cedidos à polícia. O caso do assalto também foi registrado na Delegacia de Goiabeiras. As imagens também já foram encaminhadas para a perícia, afirmou Izaias.
Na avaliação do delegado, a segurança na universidade é muito frágil. Há um trânsito de pessoas estranhas no campus. Essas pessoas não são paradas, abordadas, então o lugar fica propício para a criminalidade. Os alunos ficam vulneráveis. A Ufes é muito grande, tem muitos espaços escuros.
ALVOS
Os bandidos que vem aqui já procuram um público certo que são mulheres. Eles ainda aparecem depois das 18h porque aí já está escuro, comentou o estudante de Gemologia Álvaro Curtis Peixoto Junior, 22.
Com receio de se tornar mais uma vítima de bandidos, a universitária Yasmim Dias, 22, que estuda no CCJE, nem cogita escolher uma disciplina no turno noturno. Meu curso é vespertino, mas tem disciplina optativa que é à noite, só que não tem a menor condição. É muito perigoso, à tarde é mais tranquilo com a luz do dia.
Para um grupo de alunas do primeiro período de Gemologia, o sonho de estudar em uma universidade federal infelizmente está sendo acompanhado de medo. Nós evitamos andar sozinhas. Andamos sempre juntas para não correr tanto risco de sermos assaltadas, comentou a universitária Aline Lacerda Silva, 19.
Um dos fatores que aumenta a sensação de insegurança é que qualquer pessoa pode entrar na universidade, já que as cancelas e as portarias não contam com vigias. Não temos um número suficiente de seguranças. Não temos certeza que as câmeras funcionam. De noite não temos luz, é muito complicado. Os alunos reclamam muito de roubo de bicicleta em todos os lugares mesmo durante o dia, e até perto de lanchonetes, afirmou a aluna de Psicologia Heloisa Maria Silva, 20.
"É PRECISO CONTROLAR AS ENTRADAS 24 HORAS"
Além do trabalho de ronda já realizado pelos seguranças patrimoniais da Ufes, os especialistas ouvidos pela reportagem sugerem que a universidade faça o controle de quem entra e sai da universidade dia e noite. Eles propõem que outros agentes privados fiquem nos pontos de acesso aos campi para inibir a ação dos criminosos.
É preciso fazer o controle nas entradas e saídas 24 horas. A presença de vigilantes tem efeito de dissuasão dos criminosos, inibe a prática de crimes, explica o professor de segurança pública Pablo Lira.
Segundo Lira, outras intervenções estratégicas podem aumentar a segurança, como a poda de árvores e aumento da iluminação artificial, já que a noite o risco aumenta, segundo os estudantes. Na região do planetário e da gráfica, por exemplo, a iluminação não dá conta, diz.
O perigo à noite, inclusive, fez o Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas (CCJE) reduzir o horário de funcionamento de áreas administrativas, em fevereiro. As secretarias dos cursos fechavam às 19h, segundo publicado pela coluna Leonel Ximenes na época.
RONDAS
Desde agosto passado, a Polícia Militar é autorizada a fazer rondas dentro do campus de Goiabeiras. Essa era uma demanda antiga dos alunos e professores. No entanto, os casos de roubo e estupro seguem acontecendo.
Lira aponta fatores que facilitam a ação dos bandidos como a localização do campus, com saídas para o mangue e para o Canal de Camburi, e até a geografia dos prédios, que são muito espaçados. São características que potencializam o crime, principalmente a noite.
O especialista de segurança pública Jorge Aragão concorda que a Ufes não é um local protegido. Quem não conhece os caminhos, pode acabar no meio do mangue, ou em um local ermo e escuro, e ser alvo fácil dos bandidos, diz.
Para ele, a reitoria tem que ver com as autoridades competentes para que se abra uma possibilidade de contratar mais segurança privada.
UFES CONTA COM 415 CÂMERAS DE SEGURANÇA
O campus de Goiabeiras da Ufes conta com vigilantes armados próprios e terceirizados, segundo a Administração Central da Universidade. Além disso, 415 câmeras foram instaladas e funcionam 24 horas, sendo monitoradas em tempo real pela equipe de segurança da instituição.
Em caso de movimentação suspeita, vigilantes são imediatamente acionados, informou a universidade, por meio de nota.
Ainda segundo a Ufes, o campus está inserido na programação de rondas da Polícia Militar. Procurada, a PM informou que atende ocorrências no local quando é acionada via Ciodes.
Já em relação à iluminação, que é uma reclamação constante dos estudantes, a Prefeitura Universitária explicou que já levantou os pontos onde há deficiência de iluminação para providenciar o reparo.
Ainda segundo a prefeitura do campus, em caso de roubo ou de ameaça à segurança as pessoas devem comunicar à Gerência de Segurança por meio do telefone 4009-2727, que funciona 24 horas. A equipe também pode ser acionada pelo aplicativo Alerta Ufes, no qual os usuários enviam um alerta para a central de videomonitoramento avisando sobre qualquer problema, desde a deficiência na iluminação de determinada área até a ocorrência de um acidente ou situação suspeita.
CASOS RECENTES
Junho de 2018
Um homem foi estuprado e duas alunas do curso de Serviço Social foram assaltadas por um bandido armado dentro de uma sala, em Goiabeiras.
Maio de 2018
Uma estudante do curso de Cinema e Audiovisual teve o celular roubado em Goiabeiras por dois bandidos quando ia para a teria aula.
Dezembro de 2017
Bandidos armados saíram do mangue e renderam três trabalhadores do Departamento de Engenharia Ambiental do Centro Tecnológico. Como não tinham celulares e dinheiro, foram agredidos com socos na cabeça.
Setembro de 2017
Um professor de Engenharia Ambiental foi assaltado por três criminosos armados que saíram do mangue, em Goiabeiras. Celular, relógio e notebook foram roubados.
Agosto de 2017
DENTRO DA SALA
Bandidos armados saíram do mangue e assaltaram uma pesquisadora de Engenharia Ambiental dentro de uma sala, em Goiabeiras.
FARDADOS
Bandidos armados e com fardamento do Exército assaltaram dois seguranças do campus de Maruípe. As vítimas tiveram as armas, coletes e radiocomunicadores levados pelos assaltantes.
FACA
Uma doutoranda em Química teve o celular, o computador, e cartões de crédito roubados por dois bandidos que saíram do mangue, em Goiabeiras. Um dos bandidos a ameaçou com uma faca.
POLÍCIA DIZ QUE SÓ VAI A CAMPUS QUANDO É ACIONADA
Apesar da Administração Central da Ufes informar que o campus de Goiabeiras faz parte da programação de rondas da Polícia Militar, a PM respondeu, por meio de nota, que apenas vai ao local quando recebe um acionamento via Ciodes, pelo número 190.
Questionada sobre a quantidade de rondas, de ocorrências, de detidos e se o campus de Maruípe também faz parte da programação de rondas, a PM se limitou a responder que atende ocorrências no local todas as vezes que há um acionamento. Por isso é importante que, em casos de suspeita ou ocorrência de crime, uma viatura seja acionada.
A reportagem também perguntou à PM se há algum plano de segurança sendo elaborado para solucionar os problemas de violência que têm perturbado os estudantes e servidores, mas a corporação não respondeu sobre o assunto.
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