Para ampliar a assistência domiciliar e, ao mesmo tempo, liberar leitos de modo a atender pacientes de maior complexidade nos hospitais, a rede pública no Estado vai começar a implantar o programa "Melhor em Casa". No município de Vila Velha, o serviço estará disponível a partir de março.
Atualmente, os municípios dispõem de profissionais que integram a Estratégia de Saúde da Família (ESF), realizando nas residências atendimento de pessoas com problemas crônicos de mobilidade e acamadas. A proposta agora é ampliar as equipes para o serviço e, mais do que isso, contribuir no processo de desospitalização, liberando leitos para outros pacientes e aumentando a capacidade de atendimento hospitalar.
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), segundo a assessoria, trabalha como uma das prioridades implantar o programa, cuja finalidade é melhorar e ampliar a assistência a pacientes que possam receber atendimento humanizado, em casa, e perto da família. Além de desospitalização e otimização do uso do leito, a perspectiva é de que possa gerar economia à gestão estadual e municipal.
Para tanto, no final de 2019 a proposta foi apresentada aos representantes dos municípios classificados como prioritários para compor o Melhor em Casa no Espírito Santo. Foram selecionados para a primeira etapa, e aceitaram integrar o programa, Cachoeiro de Itapemirim, Cariacica, Colatina, São Mateus, Serra, Vila Velha e Vitória. Para a escolha das sete cidades, foram considerados, entre outros aspectos, a maior concentração hospitalar e unidades de pronto-atendimento, ou seja, onde há mais demanda.
Na Grande Vitória, o programa já foi habilitado pelo Ministério da Saúde em Vila Velha, que está em fase final de estruturação das equipes para que, no próximo dia 2, comece a atuar. A coordenadora do Melhor em Casa no município, Vivian Marli Siqueira, diz que se trata de uma estratégia complementar ao trabalho de atenção domiciliar já realizado por profissionais de saúde da família, que atendem por demanda da população.
Agora, são os gestores que vão identificar os pacientes internados, que podem receber alta, para ter a assistência em casa com médicos, enfermeiros, assistentes sociais e técnicos de Enfermagem. "São pessoas que estão ocupando um leito, de hospital ou de Pronto-Atendimento (PA), apenas para tomar um antibiótico, ou para fazer curativos em uma ferida que precisa de cuidado mais intensivo, por exemplo. Elas vão para casa e é lá que darão prosseguimento ao tratamento até concluí-lo", explica Vivian Siqueira.
Vila Velha vai dispor de duas equipes e, cada uma, tem capacidade para atende, por dia, até 60 pacientes que morem na cidade. O trabalho dos profissionais será das 7 às 19 horas, diariamente. "Serão pacientes dinâmicos dentro do sistema: entrou, terminou o tratamento em nível hospitalar, pode ir para casa para concluir a assistência. Assim, garantimos a continuidade do atendimento, ao mesmo tempo em que liberamos leito", pontua a coordenadora.
Vivian Siqueira acrescenta que os profissionais que atuam dentro das unidades de emergência do município, nos PAs de Cobilândia e da Glória, estão sendo treinados para avaliar o perfil do paciente e indicar a alta precoce, quando for possível fazer o atendimento domiciliar.
Na Serra, o atendimento domiciliar é feito pelo médico da Estratégia de Saúde da Família (ESF). O subsecretário Aldo Lugão disse que haverá um processo para expansão das equipes - hoje são 55 que abrangem todas as regiões. Quanto ao programa Melhor em Casa, ele acredita que, até abril, o ministério vai habilitar as duas equipes para o município.
Cariacica também tem profissionais de ESF nas regiões de 12 unidades de saúde. Além disso, o município já aderiu ao Melhor em Casa e aguarda a habilitação do ministério para preparar a equipe. No município, um dos focos deste atendimento será a pacientes que precisem de cuidados paliativos, ou seja, para aqueles que não têm mais recuperação e que poderão receber a assistência em casa até a sua morte.
"O objetivo principal é a desospitalização precoce desses usuários dos pronto-atendimentos e hospitais de referência, garantindo assistência à saúde por equipe multiprofissional qualificada além de promover o cuidado humanizado envolvendo os familiares", destaca a Secretaria Municipal da Saúde, por meio da assessoria.
As visitas domiciliares em Vitória são realizadas de acordo com o planejamento da equipe, conforme necessidades e prioridades estabelecidas. A ideia é acompanhar as condições de saúde das pessoas que estão cadastradas nas unidades, pontua a assessoria da Secretaria Municipal da Saúde (Semus). Ainda não há informações sobre o Melhor em Casa.
O secretário estadual de Saúde, Nésio Fernandes, ressalta que o governo vai publicar uma portaria, com normas para financiar as equipes nos municípios selecionados que ainda não foram credenciados pelo ministério. Segundo ele, já são duas habilitadas e mais 10 serão até o final do ano. O Estado vai repassar R$ 50 mil por mês para os municípios e, quando forem habilitados, o recurso vai ser redirecionado a outras cidades para ampliar a abrangência do programa.
Para Nésio, o Melhor em Casa é uma importante estratégia de assistência em saúde, sobretudo quando os municípios assumem o processo. "Ter os serviços na máxima potência municipalizados é bom para o paciente, e é bom também para o gestor municipal que coordena o cuidado do indivíduo sem ter que consultar ninguém. Se é dono do processo, ele consegue regular rapidamente e dar agilidade na assistência", argumenta.
O secretário avalia que, se hoje o Melhor em Casa já tivesse implantado na Grande Vitória, haveria ao menos 150 pacientes que poderiam ser desospitalizados, e a pessoa, em vez de ficar presa em um leito hospitalar ou de PA, teria a atenção na própria residência, e os leitos seriam destinados a outros doentes.
Além das articulações para o Melhor em Casa, a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) está implementando o programa de medicina hospitalar, que visa aprimorar a gestão nas unidades e, entre outras finalidades, também vai otimizar o uso dos leitos. O trabalho será realizado em 12 hospitais. Recentemente, 17 médicos concluíram a formação de seis meses para atuar como supervisores.
Atualmente, segundo conta Nésio Fernandes, o paciente que está internado em uma hospital recebe hoje o atendimento de um médico, amanhã outro o avalia e assim por diante. As condutas muitas vezes são diferentes, o que gera a fragmentação do cuidado e a redução do desempenho do hospital.
"O que estamos implantando resgata o antigo médico internista, que ficava de segunda a sábado no hospital, todos os dias cuidava dos mesmos pacientes", compara.
Nésio Fernandes diz que serão formados médicos e enfermeiros hospitalistas que vão fazer a gestão do leito, programação para alta segura, preparação da família para essa alta, conciliação medicamentosa, dieta, tudo isso discutindo cada situação com os especialistas de referência para o caso do paciente. Todo esse trabalho, entre outros benefícios, vai permitir que tempo de permanência no leito seja apenas o realmente necessário.
A partir de março, os hospitais Silvio Avidos, em Colatina; Dório Silva, na Serra; Infantil, em Vitória; e Antônio Bezerra de Faria ou Hospital Estadual de Vila Velha (HESVV - antigo Ferroviários), começam a receber os supervisores que vão coordenar a implantação da medicina hospitalista e do núcleo de regulação. E será lançado o edital de curso de formação para a especialidade.
O presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Hospitalar (Sobramh), André Wajner, ressalta que a implantação da especialidade é uma mudança profunda no modelo assistencial dos hospitais, padronizando a atenção ao mesmo tempo em que consegue atender a um grande perfil de pacientes com mais qualidade.
O hospitalista planeja a entrada do paciente, os procedimentos pelos quais vai passar, o tempo de internação. Um idoso que entre com uma perna quebrada, exemplifica Wajner, não receberá apenas o atendimento de um ortopedista, caso apresente outros distúrbios de saúde, como diabetes, problemas cardíacos ou pulmonares. A atenção será integral, compartilhada por ambos especialistas.
O modelo, já bastante difundido nos Estados Unidos, Canadá e países da América Latina, chegou ao Brasil em 2007 e o Rio Grande do Sul é o Estado que há mais tempo implantou a especialidade.
"Os números são muito consolidados. Comparando antes e depois da medicina hospitalista, vimos uma diminuição importante do tempo que o paciente fica hospitalizado com significativa melhora da qualidade do atendimento", aponta Wajner. "Se antes eram 10 dias de internação, cada leito era ocupado por apenas três pacientes num mês. Se diminuo para sete dias, consigo atender quatro. Em média, em muitos hospitais no Brasil, a medicina hospitalista diminuiu tempo de internação em até 35%, gerando um aumento significativo da capacidade de atender. Com os mesmo leitos, mais pessoas são assistidas. Para o sistema público, é o modelo assistencial perfeito", acrescenta.
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