A expressão popular quando dói no bolso, o brasileiro entende nunca fez tanto sentido para os negros capixabas. O resultado da comparação entre os salários recebidos por pessoas autodeclaradas pretas e por brancas, no setor público e na iniciativa privada, revelam um abismo financeiro.
Dados da Relação Anual de Informações Sociais (Rais) de 2017, da Secretaria do Trabalho, do Ministério da Economia, apontam que um homem autodeclarado preto em cargo público ganha 32,1% a menos do que um branco no mesmo segmento. Enquanto um homem preto recebe R$ 6.114,22, um branco ganha R$ 9.006,05.
No caso das mulheres nos órgãos públicos, a discrepância atinge 41,2%. As autodeclaradas pretas ganham R$ 3.007,54 enquanto as brancas recebem R$ 5.122,05. Na análise, entram apenas trabalhadores que atuam de carteira assinada ou que são funcionários públicos.
Com base nos salários de 873 mil pessoas do Estado, a Rais revela que o maior valor pago a uma pessoa branca chega a R$ 110 mil em um cargo de direção na indústria. Para uma pessoa preta, o vencimento máximo é de R$ 47.212,63, na função de gerência de vendas.
Autodeclarada negra, a servidora pública estadual Ironilda Rangel reclama da falta de representatividade. Hoje sou concursada, mas quem olha pensa que é só meritocracia, não sabe o que aqueles que nos antecederam sofreram para que a gente pudesse ter oportunidade. Quem dera existisse igualdade.
O sambista Carlos Augusto, o Lajota, buscou alternativas para não sofrer com o preconceito e se encaixar em um mercado de trabalho que "costumava excluir em vez de concentrar quem era considerado diferente. Corri atrás, busquei meu espaço".
O economista Ricardo Paixão destaca que a diferença salarial está diretamente relacionada ao histórico social, às condições de acesso às instituições de ensino e também às oportunidades de qualificação profissional.
Um exemplo é a disputa ao cargo de auditor da Receita Federal. Os brancos, que geralmente estudam em escolas mais bem estruturadas, disputam com poucos negros, que muitas vezes não tiveram o mesmo nível educacional. A concentração de brancos que está melhor preparada para cargos nobres é maior.
Paixão destaca outras características que podem impulsionar os brancos em situação de vantagem no mercado de trabalho, mesmo quando o nível de escolaridade é semelhante. Para especialistas e representantes do Movimento Negro, as cotas raciais no acesso às universidades são uma das principais ferramentas de combate à desigualdade.
Para fins de esclarecimento, tanto o Movimento Negro quanto o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que negro é a junção de pretos e pardos. Em alguns casos, a utilização da terminologia negro, para mencionar uma pessoa preta ou parda, pode modificar os dados de uma pesquisa.
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