A impossibilidade de trabalhar e o enfrentamento de uma situação difícil dentro da própria família com os pais enquadrados no grupo de risco da Covid-19 e a irmã com dificuldades para se mover por causa de um recente acidente de moto não impediram que Andreia Daniella Cruz olhasse para as dificuldades do outro.
Há aproximadamente dez dias, a autônoma tem investido tempo e dinheiro para preparar marmitas e distribuí-las diariamente aos caminhoneiros, às margens da BR 101, no sentido Sul, perto do Pavilhão de Carapina, na Serra. Mais especificamente na altura do bairro André Carloni, sempre no final da tarde, por volta das 16h.
A motivação para ter essa atitude surgiu depois de um vídeo, feito por um caminhoneiro desconhecido, que chegou até ela por meio de um aplicativo de mensagens. Eu nunca vi ele na vida, mas ele estava chorando, falando que estava com fome. Fiquei muito comovida com aquilo, lembrou Andreia.
No dia seguinte, ela foi direto para a cozinha. Fiz um panelão de feijão, com linguiça e arroz. Eu nem tinha marmita, levei as panelas de bicicleta para a rodovia; mas como os caminhoneiros não tinham como parar, não consegui dar a comida. Acabei distribuindo no caminho de casa, para moradores de rua, contou.
Quando a família viu o cartaz que ela havia preparado para chamar a atenção dos motoristas, ela teve ajuda. Minha mãe me deu R$ 40, que usei para comprar as embalagens e alguns temperinhos. Um comerciante me doou arroz e outro me deu frango. Fiz uma galinhada e, dessa vez, sim, consegui distribuir, disse, orgulhosa.
Essa empatia e dedicação ao próximo vem acontecendo desde o último dia 25 de março. Eu faço tudo fresquinho. Começo a cozinhar por volta das 14h e levo tudo em uma caixa de isopor para não esfriar ou azedar. Também tomo todo o cuidado em relação à higiene. Não quero transmitir nada para ninguém, garantiu Andreia.
Só nesta sexta-feira (3), foram 18 marmitas distribuídas. Eu faço isso quando o semáforo fecha. Se o motorista diz que já comeu, pergunto se ele vai parar no posto para abastecer. Se sim, falo para ele levar e dar para algum caminhoneiro que precise por lá, porque não são todos que param nesse sinal, explicou.
Depois de dias nessa missão, foi Andreia que acabou ficando grata. Chegou até mim um vídeo de um caminhoneiro, me filmando e agradecendo pela minha atitude, logo depois de pegar uma das marmitas. Fiquei emocionada. Chorei de emoção, de felicidade, disse ela, com a voz embargada.
No começo, Andreia estava sozinha. Depois, teve a ajuda da família e, em poucos dias, também pôde contar com a mobilização de vizinhos e comerciantes. Uma moradora do primeiro andar do prédio se prontificou a fazer o arroz; um rapaz já me ajudou a distribuir as marmitas; e os vegetais foram doados pelos feirantes do bairro, revelou.
Porém, a ajuda mais inesperada veio de um homem de aproximadamente 30 anos, desconhecido, que deu a ela R$ 100. Isso foi ontem (quinta-feira). Ele passou na rodovia, me viu, fez o contorno e deu o dinheiro. Até parece que ele adivinhou que a comida ia acabar. Tudo que sei é que ele se chama Mateus, disse.
A solidariedade dela também chamou a atenção do servidor público Felippe Tonon Martinelli, que passou pelo local a pé e fez o vídeo que abre essa reportagem. Em meio a tantos temores, quando vemos um gesto nobre, que ainda existe amor, que ajuda o próximo, ficamos com esperança no Brasil, comentou.
Por medo do contágio e para poder conciliar com os cuidados da família, Andreia pretende fazer a distribuição em dias alternados a partir da próxima segunda-feira (6) isso, se conseguir mais doações, porque a comida e o restante do dinheiro são suficientes apenas para as marmitas que serão feitas até domingo.
Faço uma espécie de diário e passo para quem está me ajudando e que tenho o contato. O objetivo é que todos vejam o que estou fazendo e saibam para onde a contribuição está indo, comentou. Quem quiser ajudar pode transferir qualquer quantia para o picpay dela: o @andreia.daniella.
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