Pensar no outro em tempos difíceis para todos. É isto que alguns capixabas começaram a fazer nesta semana, quando as medidas de restrição por causa do novo coronavírus se tornaram mais severas no Espírito Santo. Em avisos colocados no elevador dos condomínios, eles se oferecem para fazer compras aos idosos e pessoas do grupo de risco – evitando, assim, que os mais suscetíveis a quadros graves da doença se exponham ao sair de casa.
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O comprador Vinícius Fernandes Melo implementou a ideia no prédio dele, em Colina de Laranjeiras, na Serra. “Eu sei que tem muitos idosos aqui. Eu estou de home office e tenho carro. Para buscar algo é muito mais tranquilo para mim”, disse ele, ao explicar que a ideia surgiu por causa de outros trabalhos voluntários que fazia.
O cartaz de solidariedade no elevador surtiu efeito e a primeira boa ação aconteceu já nesta quinta-feira (19). “Por volta das 11h30 um senhor me interfonou. Eu subi até o apartamento dele, peguei o dinheiro e comprei o que ele pediu: arroz, carne e álcool em gel, que, por sorte, tinha acabado de ser reposto”, lembrou.
Vizinho de Vinícius, o técnico em planejamento André Mandato foi o primeiro a abraçar a ideia. “Eu já vinha pensando em como ajudar, já que o mundo ainda não tinha passado por uma situação tão delicada. Pensava muito nas pessoas que não tinham como sair de casa”, contou ele, que tem uma mãe nessa situação, para a qual já realizou três compras no supermercado.
Com aulas suspensas, férias coletivas dadas por empresas e trabalho remoto, toda a família de André deve ficar dentro de casa a partir da próxima segunda-feira (23). “A vida está totalmente diferente. É uma situação meio apocalíptica. Nessas horas, cada vez mais as pessoas só pensam em si, mas temos que lembrar que tem quem esteja em situação mais difícil que a nossa”, defendeu.
Fechando a lista dos três primeiros voluntários do condomínio na Serra, está o atendente Bruno Santos de Paula. “Eu tenho moto e consigo fazer algo rápido para as pessoas, ir até uma farmácia ou um mercado. Quando vi a ideia dele (de Vinícius) achei legal e segui a onda. É importante ajudar”, afirmou.
Até um mês atrás, a mãe dele, que é hipertensa, morava sozinha no Rio de Janeiro. Após ela sofrer um pequeno infarto, porém, ele a convenceu de vir ao Espírito Santo, morar com ele. “Ela está no grupo de risco. Se fosse o contrário, eu ia gostar muito que alguém ajudasse ela no Rio. Me coloquei nesse lugar também”, revelou.
No entanto, a solidariedade não se restringe a uma vizinhança ou a uma só cidade. No bairro Jardim Camburi, em Vitória, a supervisora de vendas Kátia Fassarella fez o mesmo. “Eu vi uma postagem na internet, achei a ideia bacana e resolvi fazer. Coloquei o cartaz na quinta-feira (19), e hoje um vizinho já tinha se inscrito para ajudar também”, contou.
Nesse meio tempo, ela ainda não foi chamada para fazer nenhuma compra, mas recebeu uma ligação surpreendente. “Pouco tempo depois de ter feito isso, na tarde do mesmo dia, uma moradora que tem diabetes me ligou agradecendo”, contou ela, nitidamente satisfeita por estar podendo fazer algo pelos outros em tempos difíceis de pandemia.
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