O aumento de 4% no preço da passagem dos ônibus do Sistema Transcol, a partir do próximo domingo (05), vai consumir cerca de 18% da renda de quem vive com um salário mínimo, já considerando o novo valor de R$ 1.039. Um gasto que chegará a R$ 187,20 todo mês, contados seis dias de trabalho semanais.
Com o reajuste autorizado pelo Conselho Gestor dos Sistemas de Transportes Públicos de Passageiros da Região Metropolitana da Grande Vitória (CGTRAN-GV), o valor cobrado de segunda-feira a sábado nos ônibus convencionais vai passar de R$ 3,75 para R$ 3,90. Já no domingo, a passagem salta de R$ 3,25 para R$ 3,40.
A nova tarifa pegou de surpresa alguns usuários que ainda sentiam no bolso o reajuste de janeiro do ano passado, de 10,29%, quando a passagem cresceu R$ 0,35. Agora, o acréscimo foi de R$ 0,15. É o caso de Maria do Rosário Mendes Caridade, trabalhadora doméstica que gastaria quase R$ 190 de passagem, por mês, se continuasse usando o sistema Transcol.
Mas desde o último aumento, para economizar, ela decidiu ir de bicicleta para o trabalho. Gasta, por dia, quinze minutos para ir para o trabalho e outros quinze para voltar, distância percorrida entre Rio Marinho, onde mora, e Vale encantado, onde trabalha, ambos em Vila Velha. "Foi até melhor, uma vez que de ônibus levo cerca de 25 minutos. Com o dinheiro da passagem pago outra conta, como a de luz, por exemplo. Enfrento sol e chuva para economizar. A sorte é que o trecho é bem acessível", relata.
A mesma sorte não teve Lucinéia Rocha Gomes, que mora em Palmeiras, na Serra-Sede, e trabalha em Vitória. Para ela, a única alternativa é o ônibus do Transcol. Para bancar a passagem seis dias por semana, com o aumento, ela vai precisar de dois dias de trabalho. "Tenho que fazer duas faxinas por mês para pagar somente a passagem. E a minha sorte é que minhas filhas já trabalham e conseguem custear seus próprios gastos", conta.
Para ela não é possível se deslocar para o trabalho, em Vitória, de bicicleta. "É muito complicado e distante. Precisaria vir pela BR 101. De carro ou aplicativo fica ainda mais caro", pondera, acrescentando que, apesar do aumento, ainda continua enfrentando as dificuldades de sempre no coletivo. "Já era caro, ficou ainda mais caro, mas o ônibus continua andando cheio, quebrando no caminho por falta de manutenção e estamos com frequência sendo assaltados. Melhorias nenhuma, só aumento", desabafa Lucinéia, que ainda ajuda o marido desempregado.
No ano passado, o principal argumento foram as melhorias a serem aplicadas, incluindo a renovação da frota. Este ano o motivo se deve principalmente ao aumento no diesel e no salário de motoristas e cobradores, acordado em dezembro do ano passado. Além da inflação, houve os 5% de aumento no combustível, o reajuste salarial de 3,04% da classe rodoviária e a questão do material rodante, que também teve um acréscimo em 2019, afirmou o secretário de Mobilidade e Infraestrutura, Fábio Damasceno.
Com o aumento, os preços do seletivo passam a ser de R$ 6,35, R$ 6,95 e R$ 7,35, dependendo da linha (antes eram de R$ 6,05, R$ 6,65 e R$ 7,05). O valor do Bike GV sobe R$ 0,10, passando a ser de R$ 1,95. O conselho é formado por representantes do governo, das empresas de ônibus, dos estudantes, dos rodoviários e lideranças da sociedade. Na reunião, o único voto contrário ao aumento da passagem foi do líder estudantil Raphael Reis, que representa o Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Ufes.
De acordo com o governador Renato Casagrande, apesar de o percentual de reajuste da tarifa ficar acima dos 3,5% que serviram de base para o reajuste do salário dos servidores públicos estaduais, os 4% de aumento estão abaixo da inflação fechada para 2019, que foi de 4,05%. O chefe do Executivo destaca que o reajuste no valor da passagem é "adequado aos investimentos feitos no ano passado no setor."
De acordo com a doutora em Ciências da Engenharia de Transporte, Nadja Lisboa da Silveira Guedes, com o crescimento das cidades e sua metropolização, os bairros vão ficando cada vez mais distantes e, em geral, são as populações com menor renda que habitam essas áreas. E há poucas alternativas para se resolver o problema de transporte que não contemple uma integração.
Até mesmo a escolha de um tipo de modal, como o uso de bicicletas, por exemplo, pede a integração com o transporte urbano. "A pessoa pode fazer um trecho de bicicleta e completar com ônibus", pondera. O que nem sempre pode resultar em uma redução do valor da passagem. "Para alguns locais é possível fazer o percurso de bicicleta, até utilizando o ônibus para o transporte delas, mas pode não ser adequado em todos os bairros", explica.
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