Três meses após ser inaugurado, o Contorno de Iconha, na BR 101 Sul, tornou-se um alívio tanto para motoristas quanto para moradores da região. As viagens tiveram seu tempo reduzido com o fim dos constantes engarrafamentos dentro da cidade e pedestres têm mais tranquilidade e segurança na travessia da estrada que corta Iconha e que antes era parte da rodovia.
Sem carretas no Centro, o barulho reduziu, assim como a poeira que circulava no ar pelo tráfego intenso de veículos de passeio, ônibus, carretas e caminhões.
A obra foi entregue pela Eco101, concessionária da rodovia, em fevereiro último com dois anos de atraso. Antes, o motorista que passava pela BR 101 na cidade levava até uma hora para fazer a travessia por conta dos engarrafamentos. Agora, o contorno com oito quilômetros de pista duplicada pode ser percorrido em sete minutos.
Já para os condutores locais, não há mais necessidade de enfrentar o trânsito pesado da rodovia para circular de um lado a outro de Iconha.
A GAZETA esteve na cidade e conversou com moradores para saber como está o dia a dia na região após a obra. O microempreendedor Magno Premoni, de 32 anos, se diz aliviado com a saída da BR 101 de dentro de Iconha. O morador contou que agora pode estacionar na avenida principal para ir a bancos, padarias e outras lojas sem se preocupar com os veículos que tomavam todas as vagas.
Os motoristas estão passando pelo Contorno em sete minutos sem passar na cidade, e isso mudou muita coisa. O trânsito está mais tranquilo em Iconha e ficou mais fácil estacionar. Antigamente os pedestres não atravessavam com segurança e também havia muito risco de atropelamento. Para a população ficou bom, disse Magno.
A dona de casa Roseane Fontana, 48, também apontou mudanças. Para mim ficou ótimo principalmente para atravessar a pista. Está mais tranquilo. No verão, com muita gente na estrada por causa das férias, você gastava mais de uma hora para passar por dentro de Iconha. Hoje, não são nem cinco minutos, disse a moradora.
Comércio
A mudança porém, também causou um problema a alguns comerciantes da região que dependiam principalmente dos viajantes que atravessavam Iconha.
Muitos deixaram de parar na cidade para consumir os serviços de lanchonetes, restaurantes, autopeças, postos de gasolina e oficinas mecânicas, o que mexeu com a economia local. Os relatos são de que nos finais de semana Iconha fica completamente vazia.
Antes os carros de passeio paravam para fazer um lanche, abastecer, as pessoas compravam umas coisinhas e seguiam viagem. Agora, diminuiu muito os turistas, depois da abertura da pista nova. Agora está difícil saber o que pode acontecer na cidade, disse o agricultor Ermam Fernandes Silveira, de 60 anos.
A comerciante Aline dos Santos, de 29 anos, é menos pessimista. Ela trabalha na venda de sorvetes expressos, e da calçada em que faz ponto nota as mudanças.
Hoje o movimento caiu um pouco, mas continuam passando carretas e turistas. Dá para trabalhar. O pessoal vai acostumar. Vejo que melhorou bastante porque tem menos barulho, menos poeira. Antes tinha que tirar poeira toda hora. Agora diminuiu bastante, afirmou.
SEM CLIENTES VIAJANTES, LOJAS DEMITEM E FECHAM
Apesar dos benefícios, as mudanças que vieram após a obra impactaram quem tinha nos viajantes uma boa clientela. Com menos gente passando pela cidade, o presidente da Associação Comercial e Industrial de Iconha, Wanderson Wernek Nicolini, conta que desde a conclusão do contorno duas lojas fecharam e 30 funcionários foram demitidos. Dos dois estabelecimentos, um era de autopeças, enquanto o outro na verdade é uma loja tradicional de queijos que foi transferida para as margens da BR 101, mas em Rio Novo do Sul.
Várias empresas que atendiam gente que vinha pela BR já tiveram demissões. Antes, eram 360 empregados na região e em torno de 30 pessoas perderam o emprego. Fizemos esse levantamento antes da saída da BR de dentro de Iconha. Tem muitas empresas vivendo uma nova realidade e só depois saberemos o real impacto. Mas, preliminarmente, dá para dizer que houve uma queda de até 40% no faturamento, explicou.
A lanchonete do famoso do pão com pernil da região, inaugurada em 1956, foi uma das que tiveram o número de clientes reduzido. O meu movimento caiu 70%. Se eu não tivesse uma reserva, já tinha fechado. Eu pagava ao meu fornecedor uma faixa de R$ 1.900 a R$ 2 mil por semana, mas tive que reduzir a compra porque tem menos saída e hoje pago R$ 390, R$ 420. Dispensei três funcionários, relata o proprietário, Osimar de Almeida, de 74 anos.
A loja de autopeças que fechou por queda no lucro tinha outra unidade do mesmo grupo na cidade, onde o gerente é Jarles Laiber Gomes. Ele afirma que o atendimento no balcão que tinha boa clientela de quem viaja de carro caiu em média entre 10% e 15%, mas como eles atendem muitos clientes da região, conseguiram manter o faturamento.
Nosso atendimento de balcão caiu, mas temos muitos atendimentos por telefone da região, afirmou o gerente, que planeja reestruturar a loja para tentar aumentar o lucro.
SERVIÇO DE MECÂNICA ATRAI CAMINHONEIROS
A reportagem de A GAZETA esteve em Iconha na última semana e percebeu que mesmo com a saída da BR 101 de dentro da cidade há caminhoneiros que ainda passam pelo local. Além de muitos morarem na região, o município é bastante frequentado por quem busca os serviços de oficinas e autopeças.
De acordo com a Associação Comercial e Industrial de Iconha, existem oito lojas de autopeças na cidade e 60 oficinas, sendo que 50 são voltadas para o serviço de conserto automotivo. Uma delas é do mecânico Joaquim Ferreira Filho, 52 anos, que afirma que por seus clientes serem fiéis, o movimento continua o mesmo.
Espero que não mude porque quem conhece Iconha vai continuar vindo aqui, fazendo algum serviço com a gente, comprando peças. A fama de cidade dos caminhoneiros não vai acabar, afirmou Joaquim.
O caminhoneiro Aristides Gomes Tolentino, de 55 anos, é um dos que preferem passar por Iconha mesmo com a inauguração da nova via.
Diminuiu bem o trânsito com o contorno e muita gente prefere passar direto por lá. Eu não tenho horário certo e por isso passo aqui por dentro da cidade. Sempre paro para almoçar ou mexer no caminhão, olhar pneu. De dia e de noite sempre paro aqui. Em Iconha, tem muitas oficinas e por isso muitos caminhoneiros param, pois tem tudo, relatou o caminhoneiro.
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