"O que mais me incomodou foi a dor de cabeça forte, que não passava com remédio". Assim, Júnior Martins, de 28 anos, resume os dias em que esteve contaminado com o novo coronavírus. Morador de Jardim Camburi, em Vitória, e aluno de Engenharia de Controle e Automação do Ifes Serra, ele teve os primeiros sintomas da doença durante uma viagem para a Europa no mês passado. O teste que comprovou a contaminação foi feito em Vitória, o que o colocou na lista dos mais de 60 casos já confirmados na capital capixaba.
Em entrevista para A Gazeta, o estudante - que também é músico e funcionário de uma empresa de software com escritório em Vitória e Vila Velha -, detalha os sintomas, fala da importância do isolamento e da necessidade de que mais testes sejam realizados. Na semana passada, 14 dias após se submeter ao exame de PCR - teste usado para confirma a presença de coronavírus -, ele foi considerado curado pela Secretaria de Saúde (Sesa).
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"Sou músico. Estive em Londres (Inglaterra) e Berlim (Alemanha) a trabalho, acompanhado de dois amigos. Viajei no dia 05 de março e fiquei na Europa por 11 dias. Quando fui a situação era outra, a Europa não tinha parado e nem cogitava parar. Quando cheguei, estava tudo normal, mas quando vim embora a situação já era diferente. Dois dias antes de voltar tive febre, mas preferi deixar para ir ao médico quando já estivesse no Brasil. Não queria me submeter a um sistema de saúde que eu não conheço e que não sabia direito como funcionava".
"Eu tinha febre, dor de cabeça e tosse. Fiz o rastreamento pelo aplicativo e depois fui para o P.A. da Enseada do Suá. Relatei os meus sintomas, me deram uma pulseira vermelha de 'urgência' e fui atendido pelo médico 20 minutos depois. Logo me deram máscara e o médico me deu a requisição para fazer o exame de PCR. É um exame horrível de fazer, porque colocam um cotonete em cada narina para recolher material para análise. Estive no P.A. no dia 18 de março, mas só conseguiram marcar o meu exame para o dia 21. O resultado do teste, confirmando que eu tinha coronavírus, saiu no dia 24 de março. Do dia que eu fui ao PA até o dia que saiu o resultado, foi uma semana sem ter certeza se eu tinha a doença. Demorou tanto para sair que, quando o resultado chegou, boa parte dos sintomas já tinha sumido e eu achei que não tivesse a doença".
"Me isolei assim que voltei para o Espírito Santo. Moro com um amigo, que passou a ficar na casa de um outro amigo durante esses dias. Avisei ao Ifes dos meus sintomas, antes mesmo de ter o resultado do teste e não frequentei as aulas depois que voltei de viagem. Assim que soube do meu caso, o Ifes marcou uma reunião e logo depois eles decidiram suspender as aulas. Avisei no meu trabalho e imediatamente passei a fazer home office".
"Para mim foi fácil. Eu já trabalhava semi remoto, apesar de estar ligado ao escritório da empresa em Vila Velha, mas eu imagino que para a maioria das pessoas não deve ser fácil. A empresa me deu todo o suporte, mais do que eu precisava. Eu podia até pedir comida por conta da empresa. Mas o normal não é isso. Só que o isolamento é necessário, é o único jeito de frear a doença. E sem muitos testes, tem que ser todo mundo."
"Percebi que falta teste. As pessoas que tiveram contato comigo não puderam fazer o teste, porque o teste é só para quem tem sintoma. O amigo que mora comigo tentou fazer o teste até na rede privada, e não conseguiu. A rede privada só faz o teste se você tiver o encaminhamento da rede pública de saúde. Eu tenho plano de saúde e não serviu para nada. O plano de saúde privado não atende e nem fazia teste para corona vírus, só o SUS. Se a gente conseguisse testar mais pessoas, com certeza o número de pessoas contaminadas seria maior."
"Hoje faz 18 dias que fiz o teste. Não sinto mais nada. Não tenho sintoma nenhum. Quando completou 14 dias, a secretaria de saúde me ligou e disse que eu já sou considerado curado da doença, por ausência de sintomas. Mas não pediram para que eu fizesse nenhum outro teste para ter segurança que eu realmente não tenho mais a doença."
"A gerência da Vigilância Estadual em Saúde informa que de acordo com protocolo da Covid-19, após 14 dias de isolamento o paciente que não apresentar mais nenhum sintoma é considerado curado. Porém, se após o período algum dos sintomas persistirem, a vigilância municipal, que acompanha o paciente, avaliará o caso", informou a Sesa por nota.
"A decisão de suspensão das aulas presenciais em todos os campi do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) foi tomada em função da constituição de Estado de Emergência em Saúde Pública no Espírito Santo, decretado pelo Governo do Estado no dia 16 de março. No caso do estudante, o Campus Serra estava monitorando a situação, já que ele está em viagem internacional, e, no dia 13 de março, o orientou preventivamente a não frequentar as aulas. Posteriormente, a equipe do campus teve conhecimento de que ele havia sido diagnosticado com a Covid-19. A gestão do Ifes fica muito feliz em saber que o estudante está curado", diz a nota da instituição.
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