A médica capixaba Ana Carolina Milanez, de 26 anos, diagnosticada com o quadro raro de anemia aplástica, enfrenta um período de isolamento absoluto devido à pandemia do coronavírus. Ela, que está inserida no grupo de risco para a Covid-19 por ser imunossuprimida, não sai de casa há duas semanas e deixa um apelo: Se você achar que não tem nada a perder, pense em pessoas como eu, que não podem se proteger de outra forma que não seja evitando uma maior transmissão do vírus.
Carol, como é chamada pelos mais íntimos, explicou que mesmo o marido e os pais têm tido cuidados extras para preservá-la. Meus pais também são médicos e estão atendendo apenas às urgências, para ninguém trazer o vírus para mim. Na perspectiva da doença em si, não muda nada, mas sou população de risco, explicou.
Meu tratamento se mantém o mesmo, ainda sem indicação de transplante até o momento. Serei reavaliada em seis meses, ou seja, em julho, contando da última análise. Continuo tendo meu doador de medula, graças a Deus. Em relação aos cuidados, tem duas semanas que não saio de casa, a não ser um dia que saí para vacinar contra a gripe. Coleta de sangue eu faço em casa mesmo. Só se precisar transfundir que irei ao banco de sangue, o que deve acontecer nesta quinta-feira (26).
Deixando de lado todo o conhecimento técnico, a jovem expõe um lado mais vulnerável. Eu me sinto muito sufocada, não vou mentir. É bem ruim. Eu já vinha de um isolamento parcial, de não ir para festas, academia, dentre outros ambientes com aglomeração. Mas não era completamente isolada, podia ir na casa de pessoas que não estivessem doentes, por exemplo, ou a locais ao ar livre, como uma vida parcialmente normal, não era essa prisão domiciliar.
Na visão da profissional, Ana Carolina ressalta que pessoas que não trabalham em áreas essenciais devem permanecer em casa. Imploro. É o único jeito de achatar a curva, não ficar como a Itália. A previsão é de que o pico da doença ocorra entre 6 e 20 de abril, com muitos já infectados, levando quase ao colapso do sistema de saúde. O que pedimos é que as pessoas fiquem em isolamento mesmo, dentro de casa, com apenas as pessoas que moram nela, disse.
Isolamento não é visitar outros parentes, não é sair para ver o namorado, é isolamento mesmo. Chegamos no ponto em que não devemos fazer exercício ao ar livre, descer para o play do prédio. Precisamos fazer nossa parte. Isso é uma medida drástica que precisa ser tomada agora, para fazer com que nosso sistema aguente atender a todos. Se houver um descontrole, até quem se protege vai adoecer.
A anemia aplástica, também conhecida como aplasia medular, é uma rara doença hematológica que limita a produção de células sanguíneas na medula óssea, afetando diretamente os elementos que compõem o sangue: os glóbulos vermelhos, brancos e também as plaquetas. No Brasil, a doença acomete 1 a cada 1 milhão de pessoas.
"Eu tinha uma vida saudável. Trabalhava, estudava, vivia ao lado do meu marido e estava me especializando. Como médica, estou acostumada a dar os diagnósticos e não a ser diagnosticada, ainda mais com uma doença rara. Foi um choque quando descobri, pois inicialmente achava se tratar de uma infecção ou uma enfermidade menos impactante", disse Ana Carolina.
Com a confirmação do quadro clínico, a médica se viu forçada a deixar o trabalho e também a residência médica. "No fim de maio (2019), eu tive de me afastar. Não poderia mais manter minha rotina em um hospital, pois corria o risco de contrair uma infecção hospitalar, pois minha imunidade está muito baixa, minhas plaquetas agora estão em 20 mil. De um dia para o outro, tive de arrumar minhas coisas e voltei para Vitória. Felizmente, meu marido conseguiu transferência para cá. Foi uma mudança brusca, porém necessária", detalhou.
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