Detectado após as primeiras mortes na China, no final de 2019, o novo coronavírus vem assustando a população mundial, num ritmo acelerado de doentes e de mortes. Também começou aí uma corrida de pesquisadores e cientistas das mais diversas áreas da saúde na tentativa de identificar um remédio que possa combater o vírus em uma pessoa infectada. Pelo planeta, diversas pesquisas têm sido testadas, como as que apontam remédio para piolho ou a famosa cloroquina. Ainda entram nessa lista de estudos medicamentos para tratamento da AIDS e também plasma humano.
Na Tailândia, pacientes apresentaram melhora 48 horas após serem tratados com uma combinação de medicamentos para HIV e altas doses do oseltamivir, usado no tratamento da gripe H1N1. O coquetel foi dado também a pacientes em estado grave, incluindo uma chinesa de 70 anos, da cidade de Wuhan, na China, epicentro do surto. Ela apresentou testes positivos para o vírus por dez dias e, 48 horas após o tratamento, o resultado deu negativo. Apesar da boa expectativa, médicos do Rajavithi Hospital, em Bangcoc, onde o tratamento foi feito, ainda não consideram a opção como cura e dizem ser preciso fazer mais estudos para definir se este é um tratamento-padrão.
Na capital Pequim, estão sendo feitos ensaios clínicos com remédio para ebola, Remdesivir. Um total de 892 pacientes infectados receberam alta após os testes, o tempo de permanência hospitalar variou de 5 a 20 dias. Pacientes só recebem alta depois que os sintomas desaparecem e após teste de ácido nucleico com resultado negativo duas vezes. Pacientes de Wuhan ainda permanecem no hospital de 10 a 12 dias após essas etapas.
"É um novo vírus. Não há resposta terapêutica e algo tem de ser feito para não perder o doente. Quando vão fazer estudo clínico, pesquisadores comparam grupos que receberam o tratamento e os que não receberam. Essa situação (do coronavírus) é uma operação de guerra e as pessoas são obrigadas a fazer algo com o que têm nas mãos", explica Jean Gorinchteyn, infectologista do Instituto Emílio Ribas, de São Paulo.
Um remédio usado comumente contra parasitas, a ivermectina, poderia ser empregado com eficácia também no combate à Covid-19. Um estudo feito na Austrália, por pesquisadores da Universidade de Melbourne e do Hospital Royal Melbourne, in vitro mostrou que o medicamento é capaz de matar o novo coronavírus em 48 horas.
A ivermectina é usada tradicionalmente como um remédio contra parasitas, como piolhos, mas já foi testada também contra dengue, zika, e H1N1. "Nós descobrimos que uma única dose consegue, essencialmente, remover todo o RNA viral (da Covid-19) em 48 horas. Em 24 horas já há uma redução significativa", explicou Kylie Wagstaff, principal autora do estudo.
A especialista ressaltou, no entanto, que o estudo foi feito in vitro, com células. Testes em seres humanos ainda são necessários. "A ivermectina é um remédio muito usado e considerado seguro", disse. "Mas precisamos descobrir agora que dosagem seria mais eficaz em humanos. Este é o nosso próximo passo", completou.
O Hemocentro do Rio (Hemorio) estuda o uso da técnica do chamado plasma convalescente no tratamento de pessoas com quadro grave de Covid-19. A ideia é usar o plasma (a parte do sangue que contém os anticorpos) de pacientes curados para transfusão aos doentes, estimulando o organismo a combater o vírus.
Essa técnica já foi usada nas epidemias de Ebola e H1N1 e surge como mais uma estratégia possível de tratamento para o novo coronavírus. O Hemorio já havia estudado a técnica em parceria com a Fiocruz e a Universidade de Pittsburgh, nos EUA, contra o vírus da dengue, obtendo resultados promissores.
Cada bolsa de plasma coletada pode fornecer tratamento para até três pessoas. O plasma doado pelos pacientes curados ficará na unidade e será distribuído mediante solicitação dos hospitais que tratam casos graves do novo coronavírus, segundo o Hemorio. A expectativa é de que haja melhora da evolução da doença e redução da mortalidade nos pacientes que receberem a terapia, além de os riscos serem praticamente zero.
A cloroquina é um medicamento usado para tratar a malária e ganhou o noticiário brasileiro após ser citada pelo presidente Jair Bolsonaro como solução para tratar os pacientes infectados por coronavírus. Porém, ainda não há dados concretos sobre o uso deste medicamento.
"O amplo uso da hidroxicloroquina expõe alguns pacientes a danos raros, mas potencialmente fatais, incluindo reações adversas cutâneas graves, insuficiência hepática fulminante e arritmias ventriculares (principalmente quando prescritas com azitromicina)", afirma o artigo assinado pelo professor Robin Ferner, do Instituto de Ciências Clínicas da Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, do departamento de Ciências da Saúde da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
A publicação afirma que, apesar de protagonistas políticos como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defenderem que não há riscos na administração das substâncias, nenhuma droga medicamentosa pode ser considerada segura. O texto ainda destaca que casos de overdose pela cloroquina podem ser de difícil tratamento.
"Mesmo medicamentos inicialmente apoiados por evidências de eficácia podem, mais tarde, se provar mais prejudiciais do que benéficos", afirmam os acadêmicos. "Precisamos de melhores ensaios clínicos controlados, randomizados e com alimentação adequada de cloroquina ou hidroxicloroquina", relata a publicação.
Segundo o artigo, atualmente há, pelo menos, 80 estudos sobre a administração da cloroquina, da hidroxicloroquina ou de ambos em andamento em todo o mundo, às vezes em combinação com outros medicamentos.
(Informações Agência Estado e Folha Press)
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta