Os casos de dengue cresceram assustadoramente no Espírito Santo em 2019. Somente neste ano, o Estado registrou 77.838 casos confirmados da doença, número quase cinco vezes maior do que o de 2018, que teve 16.338 notificações da doença, segundo informações da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). A situação acende um alerta para o avanço da doença entre os capixabas e já é considerada epidemia.
Em janeiro deste ano, foram notificados 4.685 novos casos de dengue. Já em fevereiro, o número cresceu para 5.037 registros. Aumento que não parou até maio, mês que alcançou o pico de 17.657 notificações confirmadas. Nesse período, 16 pessoas morreram com a doença.
Na Grande Vitória, a cidade com mais confirmações da doença foi Serra, com 1.047 casos e 10 mortes em 2018. Em 2019, esses números de casos saltaram para 17.052 no município, e uma pessoa morreu. Na sequência, vem Vitória com 1.150 casos de dengue e uma morte registrada em 2018, registrando, em 2019, um grande salto para 6.695 casos de dengue e seis mortes por causa da doença. O município de Vila Velha registrou em 2018, 1261 casos de dengue e três mortes em 2018, e em 2019 o número saltou para 6415 notificações confirmadas e cinco mortes. Já Cariacica não teve morte registrada em 2018 e os casos confirmados, naquele ano, foram 1.119. Em 2019, o município teve 1996 casos de dengue e uma pessoa morreu em decorrência da doença.
A dengue é uma doença viral transmitida pela picada do mosquito transmissor Aedes aegypti. Ele se reproduz com facilidade no período do verão devido ao maior volume de chuvas e às altas temperaturas, fatores que ajudam no amadurecimento dos ovos e das larvas. No entanto, em 2019 o número de casos nos meses de junho e julho continuaram altos, registrando 13.871 e 9.980 notificações confirmadas, respectivamente. Foram 15 mortes somente nesses dois meses.
A dengue possui quatro sorotipos, que são vírus geneticamente diferentes: os sorotipos 1, 2, 3 e 4. Os três primeiros circulam no Brasil. No Espírito Santo, o sorotipo 2 da doença não circulava há cerca de 10 anos e sua volta é um dos fatores apontados para o aumento do número de casos, como explica a médica infectologista Rúbia Miossi.
O coordenador do Programa Estadual de Combate ao Aedes Aegypt, da Sesa, Roberto Laperriere, aponta outro fator para o aumento dos casos: a falta do inseticida Malathion, usado em carros fumacês. A aquisição do químico é atribuição do Ministério da Saúde, que repassa o produto aos Estados. Porém, o último repasse foi feito no mês de abril.
"Em 2019 tivemos o desabastecimento do Malathion, que é um inseticida utilizado no controle químico de Aedes aegypti. Desde abril estamos passando por um desabastecimento nacional, pois é um um produto importado, e Estados e municípios não possuem atribuição legal para comprá-lo, destaca Roberto.
Em junho deste ano A Gazeta alertou para a falta do inseticida Malathion. Naquele mês, o Estado registrava um avanço no número de casos de dengue. Naquela época o Ministério da Saúde, responsável pela compra e repasse do produto, alegou problemas com parte do lote adquirido, mas garantiu que nas próximas semanas o inseticida voltaria ser distribuído, o que não foi feito. A Gazeta demandou novamente a pasta, mas até a publicação desta reportagem não obteve retorno.
A dengue é um problema histórico de saúde pública e, para a infectologista Rúbia Mioss, o aumento de casos revela ainda que a população não aprendeu a fazer o dever de casa, como descascar de forma correta o lixo, que se que se tornam ambientes propícios para a proliferação do mosquito transmissor da doença.
A população conhece bem a dengue, só que os hábitos não mudam. Ainda é fácil encontrar terrenos baldios e quintais com recipientes com água parada. O dever de casa não está sendo feito. E 2019 foi um ano com chuvas fora do período habitual, que contribuíram para a proliferação do Aedes aegypti", destaca Rúbia.
A médica infectologista Rúbia Miossi ressalta que, em fase febril inicial é difícil diferenciar a dengue de outras doenças. Porém, as pessoas devem ficar atentas ao verificar se a febre vem acompanhada de dor de cabeça, principalmente atrás dos olhos, dores no corpo e articulações que o impeçam de realizar atividades do dia a dia, vômitos e náuseas. A orientação, segundo a infectologista, é procurar um médico. Dependendo da gravidade dos sintomas, ela afirma que a pessoa infectada deverá ser internada.
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