A adesão da população a campanhas de vacinação contra diversas doenças no Espírito Santo caiu nos últimos anos, e acende um alerta na saúde pública. A cobertura vacinal que imuniza contra doenças graves, como poliomielite, difteria, tétano e coqueluche, por exemplo, não atinge a meta estabelecida pelo governo desde 2016.
De acordo com relatório divulgado nesta semana do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e com dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), a cobertura vacinal da pólio e da tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche) segue queda gradativa desde 2014 (veja nos gráficos). Situação que deve ser acompanhada com atenção, pois pode motivar a volta de doenças já erradicadas no Brasil, aponta a coordenadora do Unicef para o Estado do Espírito Santo, Luciana Phebo.
Todos os anos, a meta do governo é vacinar 95% das crianças de 1 a 5 anos de idade, público-alvo da campanha contra a pólio, doença que não tem cura e foi erradicada do país desde 1990. Em 2016, o Estado vacinou apenas 89,5% do público-alvo. De lá para cá o índice só foi caindo, até chegar a 84,2%, em 2019.
Em 2016, a imunização da tríplice bacteriana atingiu 92,27% do público-alvo. No ano seguinte a cobertura caiu ainda mais, para 81,4%, abaixo da cobertura nacional, que ficou em 83,7% naquele ano. Em 2018, último dado divulgado, o índice subiu para 87,86%, porém, também não atingiu a meta.
Já a vacinação da tríplice viral sofreu queda em 2017, com 88,44%, abaixo da meta de 95% . O sarampo, doença que estava erradicada reapareceu, e em 2019 o país teve mais de 4 mil casos da doença. O Estado teve neste ano, até o dia 14 de novembro, 280 notificações de casos suspeitos. Desses, 261 foram descartados, dois foram confirmados e 17 seguem em investigação.
Desde 2015, as coberturas vacinais estão caindo e trazendo de volta doenças, como o sarampo, que já tinham sido erradicadas. Isso é muito preocupante porque, em alguns casos, a doença pode evoluir para a morte, alertou a coordenadora do Unicef Luciana Phebo.
São muitas as hipóteses que ajudam a entender esse preocupante declínio. Entre elas está a desinformação, principalmente relacionado a disseminação de conteúdos falsos nas redes sociais, aponta a coordenadora do programa estadual de imunizações, Danielle Grillo.
As pessoas tendem a buscar vacina em uma situação de surto. A população mais jovem não conviveu com a pólio, e existe uma questão de achar que as doenças não estão mais ao nosso redor, com isso acabam não vacinando seus filhos destaca.
Outro fator é que o calendário brasileiro é tão completo - são 19 imunizantes, que previnem 28 doenças - que, só no primeiro ano de vida da criança, os pais são obrigados a ir ao posto nove vezes. Por isso, alguns se esquecem ou deixam para depois.
O funcionamento dos postos de saúde também pode ser um problema para as mães, que ocupam cada vez mais espaço no mercado de trabalho. Como a maioria das unidades só funciona de segunda a sexta, das 8h às 17h, nem elas nem os pais têm tempo de imunizar os filhos.
Ao redor do mundo, os episódios de sarampo, por exemplo, cresceram 300% neste ano. Diferentemente do que acontece por aqui, lá fora quem ganha força e voz é o movimento antivacina. Os anti-vaxxers, como são conhecidos, se espalham por Estados Unidos, França, Itália. E ecoam, pelas redes sociais, seu discurso para o Brasil e o resto do planeta.
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