O ex-delegado Claudio Antonio Guerra voltou a ser preso, em regime domiciliar, pelo assassinato de sua ex-esposa e da ex-cunhada, crimes que aconteceram há 39 anos. Desde 2010, quando foi condenado a uma pena de 18 anos, ele recorria em tribunais federais alegando que a sua punição estava prescrita em função do tempo decorrido.
Os recursos não foram aceitos e transitaram em julgado - ou seja, não havia mais possibilidade de novos recursos - e o processo foi encaminhado ao Tribunal de Justiça do Estado (TJES) para que ocorresse a execução da pena. Guerra ainda fez um último apelo, um habeas corpus, pedindo que o cumprimento da pena fosse em prisão domiciliar, alegando problemas de saúde. No último dia 14 foi concedida uma liminar pelo desembargador Pedro Valls Feu Rosa, autorizando o cumprimento de pena em regime de prisão domiciliar.
O mandado de prisão foi expedido no último dia 26 de fevereiro, pela juíza Eliana Ferrari, da 4ª Vara Criminal de Cariacica, onde ocorreram os crimes. Mas só no último dia 21 Guerra foi preso, como informou, por nota, a Polícia Civil. "A Polícia Civil, por meio da Superintendência de Polícia Interestadual de Captura (Supic), informa que cumpriu mandado de prisão domiciliar contra o ex-delegado Claudio Guerra, no dia 21 de março".
O advogado de Guerra, Afonso Luciano Gomes Amâncio Júnior, informou que só falaria sobre o caso no final desta terça-feira (2), por "estar em uma audiência", o que não ocorreu. Mas Guerra, detido em casa, conversou com a reportagem por telefone. Disse que estava "abatido e com a saúde abalada". "Ando com muita dificuldade em decorrência da artrose avançada nos dois joelhos. Sobre o processo, nem sei o que falar, avalio que está prescrito, mas hoje sou pastor e sou muito conformado com as coisas que acontecem", relatou, afirmando que estava em sua casa, em Vila Velha, onde reside com a família.
Até o momento não se sabe quem fará a fiscalização da prisão domiciliar de Guerra. Por nota, a Secretaria de Estado da Justiça (Sejus) informou que "não recebeu, até o momento, determinação da Justiça para o monitoramento da prisão domiciliar de Cláudio Guerra. Ressalta que ele estava em liberdade, portanto, não cumpria pena em unidades prisionais do Estado".
Na concessão da liminar para que Guerra cumprisse a pena em casa, o desembargador Feu Rosa determinou que fosse consultada a Sejus sobre a disponibilização de tornozeleiras eletrônicas, o que foi informado. Atualmente, segundo a Secretaria, 176 detentos (presos provisórios, condenados em regimes fechado e semiaberto, todos em prisão domiciliar) usam tornozeleiras e são monitorados pela Secretaria de Estado da Justiça durante 24 horas.
CRIMES
Rosa Maria Cleto, a Rosinha, ex-esposa de Guerra, foi assassinada aos 27 anos, junto com a irmã, Maria da Glória Carvalho Neto, de 30 anos. As duas foram mortas com 30 tiros. Segundo investigações feitas até pela Polícia Federal, à época, elas foram executadas como queima de arquivo, a mando do próprio Guerra. Ambas tinham conhecimento das atividades ilegais do ex-delegado.
O crime ocorreu na Rodovia José Sette, na região de Itacibá, em Cariacica. Foram assassinadas dentro do carro, um Fusca, onde foram encontradas, em 2 de dezembro de 1980. Além de Guerra, também foram condenados como executores do crime Zózimo Camargo de Souza, que foi preso em 2013 em Palmas, no Tocantins, onde ele morava desde 1992. Ele estava detido na Penitenciária de Segurança Máxima I, mas foi solto por intermédio de uma decisão judicial no mesmo ano de sua prisão, 2013.
Além dele também foi condenado como executor Odilon Carlos Pereira de Freitas, cuja captura foi solicitada na mesma decisão judicial que determinou a prisão de Guerra. Mas contra ele só há um mandado de prisão preventiva por um crime cometido em Vila Velha em aberto. Não há informações sobre mandado relativo ao crime das irmãs, em Cariacica.
DOCUMENTÁRIO
A prisão de Guerra, no último dia 21, ocorreu dias após a exibição do filme "Pastor Cláudio", da cineasta Beth Formaggini, no Cine Metropólis, da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). O filme conta a história de Cláudio Guerra a partir da luta de Ivanilda Veloso, esposa de um desaparecido político do regime militar.
O ex-delegado do Departamento da Ordem Política e Social (Dops), Guerra era conhecido como um dos agentes da repressão durante a ditadura militar brasileira, entre 1970 e início dos anos 80, e agora é pastor evangélico. Ele também voltará a ser ouvido pelo Ministério Público Federal (MPF) em inquérito para apurar violações aos direitos humanos ocorridas no Espírito Santo durante a ditadura militar, em data ainda não agendada. Segundo nota do MPF, o intuito é buscar novas informações sobre casos investigados em todo o país e ajudar na localização de restos mortais dos desaparecidos políticos no Estado.
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