Esta foi a mensagem que a advogada Letícia Altoé, 28 anos, recebeu de uma prima no whatsapp. O que parecia uma conversa inofensiva era, na verdade, a ação de um hacker se passando pela parente. Letícia atendeu ao pedido da "prima", copiou o código que recebeu na mensagem e mandou de volta para ela. No minuto seguinte, o aplicativo parou de funcionar.
A advogada teve o whatsapp "sequestrado" por um hacker, que - se passando por Letícia - conversou com amigos e familiares dela pelo aplicativo, e deletou pessoas em grupos de conversa em que a advogada era administradora. Desde então, Letícia não tem mais controle sobre o o aplicativo dela.
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"Ontem à noite (segunda) minha prima, que mora em Campinas, me mandou mensagem pedindo ajuda. Ela queria que eu copiasse e enviasse para ela um código de whatsapp, igual aqueles que a gente recebe na primeira vez que acessa o aplicativo. Ela faz engenharia na Unicamp, achei que fosse algo da faculdade ou coisa assim, não passou pela minha cabeça que pudesse ser alguma maldade. Fiz o que ela pediu, e na mesma hora meu aplicativo parou. Não consegui mais abrir. Exclui, baixei de novo e apareceu uma mensagem dizendo que meu whatsapp estava bloqueado e que só em 12 horas eu conseguiria ligar ele de novo. Passaram as 12 horas, e eu continuo sem conseguir acessar o aplicativo", explica.
Com o whatsapp de Letícia, o hacker passou a enviar para os contatos dela o mesmo pedido de ajuda que ela havia recebido da "prima". Assim, uma das amigas de Letícia também acabou sendo vítima do crime eletrônico.
"Ele (hacker) conversou nos grupos, desfez os grupos em que eu era administradora. Mandou mensagem para minha irmã, para um monte de gente no privado. Minha irmã por pouco não caiu. Avisei aos amigos pelo Facebook e pelo Instagram que não era para responder nenhuma mensagem minha, mas um amiga minha não viu e acabou caindo também e teve o whatsapp bloqueado", contou.
VERIFICAÇÃO EM DUAS ETAPAS
Apesar de ter ficado bloqueado por 12 horas, o whatsapp da amiga de Letícia não chegou a ser hackeado. O que impediu que o hacker conseguisse acessar o aplicativo foi o modo "verificação em duas etapas" ativo no celular da amiga. De acordo com o especialista em segurança de informação e comentarista da Rádio CBN, Gilberto Sudré, este é o melhor caminho para evitar a ação de hackers.
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"A proteção nesses casos é ativar a autenticação em dois fatores. É o jeito mais seguro. Com isso, o hacker vai esbarrar no pedido de pin (senha), como ele não terá o número do seu pin, não vai conseguir ter acesso ao seu whatsapp. O aplicativo vai ficar bloqueado por 12 horas como medida de segurança, você será avisado por e-mail e depois disso vai conseguir ter acesso ao whatsapp de novo. No caso dela (Letícia), piorou ainda mais porque como a verificação em duas etapas estava desativada, o hacker agora tem o controle da conta dela. Para resolver o problema agora só entrando em contato com o whatsapp por e-mail e explicando a situação. Vai ter que convencê-los que foi vítima de um hacker. Ou então adquirir um número novo e avisar os amigos", explica Sudré.
COMO SE PROTEGER?
Quer proteger seu celular? Abra o whatsapp, na aba configurações clique em conta e depois em verificação em duas etapas. O aplicativo vai solicitar que você cadastre uma senha de seis dígitos, e informe um e-mail de segurança. Depois basta clicar em ativar.
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PARTICIPAÇÃO DE OPERADORA
Crimes como esse só podem ser cometidos se houver a participação de um funcionário da empresa telefônica. Sudré explica que, para assumir a conta de outra pessoa, o hacker precisa que o celular da vítima seja desabilitado por alguns minutos.
"Normalmente a clonagem acontece com participação de alguém da operadora. Em um breve instante de tempo, o cara da operadora desabilita o chip da vítima e coloca o numero dela em um outro numero que está de posse do atacante. É muito rápido, a pessoa não percebe e acha que o celular está fora de área. Nesse tempo, o atacante consegue instalar o whatsapp no telefone dele no numero da vítima. Depois, a pessoa da operadora volta o número para vítima e o atacante tem agora um telefone com o whatsapp da vitima. Ele não consegue fazer ligação, nem usar o aplicativo com internet móvel, mas com WiFi consegue mandar mensagem para as pessoas como se fosse a vítima. A operadora tem o registro, sabe quem foi o operador dela que fez a mudança do numero de chip, qual foi o login que fez a troca. Mas, as vezes, o funcionário também foi hackeado, o atacante conseguiu a senha da pessoa no sistema da operadora e fez a mudança", esclarece.
DOR DE CABEÇA
Depois de ir a uma loja e descobrir que nada poderia ser feito pela operadora - por não se tratar de um problema no celular e sim no aplicativo -, Letícia agora vai tentar contato com o whatsapp para resolver o problema. Ela não pretende trocar o número do celular.
"Foi tudo muito discreto, achei que era minha prima ali falando comigo e por isso cliquei. Deletei os demais aplicativos do celular, como os de banco, com medo de que fossem invadidos também. Meu número é antigo, não quero trocar. Vou tentar mandar um e-mail para o whatsapp", lamenta.
Como se proteger
Verificação
O WhatsApp oferece uma atualização de segurança chamada Verificação em Duas Etapas, que protegerá a conta de possíveis tentativas de clonagem
Passo a passo
Para executar a verificação, é preciso seguir os seguintes passos:
- Com o WhatsApp aberto, clique nos três pontinhos verticais no canto superior direito da tela.
- Clique em Configurações e em seguida toque na opção Conta.
- É aí que aparece a opção Verificação em Duas Etapas. Após clicar nele, escolha o botão Ativar.
- O aplicativo irá pedir então para escolher, e depois confirmar, uma senha numérica de seis dígitos.
- Após confirmar a senha, aparece para o usuário a opção de fornecer um e-mail para o caso de recuperar a senha, se tiver sido esquecida.
- Não é obrigatório fornecer o e-mail para a recuperação da senha. Mas caso o usuário esqueça a senha, ele perderá a conta de WhatsApp.
Vítima
Como proceder
Caso seja vítima desse tipo de golpe, procure a delegacia para fazer o registro da ocorrência.
Especializada
Estão sob investigação na Delegacia Especializada em Repressão aos Crimes Eletrônicos dois casos desse tipo de golpe.
Outros países
Golpe velho
Esse tipo de golpe já existia fora do país, mas funcionava de maneira mais sofisticada. Os golpistas descobriram maneira de receber o SMS com o código de verificação para autorizar a entrada no aplicativo e, assim, acessar a conta do WhatsApp de outra pessoa.
Brasil
No Brasil, o golpe funciona de maneira diferente. Há a conivência de alguém de dentro das operadoras. Funciona assim: um funcionário com senha consegue fazer a transferência do número de um usuário para outro chip. Nesse meio tempo, o dono original da linha não fica com o número bloqueado, enquanto o golpista faz a abordagem a potenciais vítimas. Mas há casos em que o funcionário inicialmente acusado conseguiu provar que teve a senha roubada pelos golpistas.
Senha
Mudança constante
Nunca utilizar a mesma senha para locais diferentes.
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