A oferta é sempre a mesma: uma vaga de secretária particular ou assessora de comunicação. Entre as exigências: ser solteira, morar sozinha e ter disponibilidade para viajar e atender o chefe três vezes por semana.
Para quem está em busca de emprego, o anúncio pode ser interessante. Mas o que dezenas de mulheres descobriram, após serem contactadas pelo o homem que anunciava a vaga, era que o interesse ia além do campo profissional. Ele usava a falsa oferta para atrair mulheres e obter vantagens sexuais.
O caso passou a ser divulgado depois que uma jovem de 24 anos, moradora de Vitória, fez uma postagem nas redes sociais na última quarta-feira, alertando outras mulheres sobre um homem que estaria anunciando falsas ofertas de emprego no Espírito Santo. No post, ela contava que havia sido contactada, via Facebook, para uma vaga de secretária particular. Após trocar algumas mensagens com o homem, a vítima passou o número de telefone e foi então, durante a conversa, que percebeu as reais intenções do recrutador.
"No início eu não desconfiei de nada porque ele fez perguntas bem formais, como se fosse uma entrevista. Mas depois ele começou a perguntar se eu tinha filhos, se era solteira. Achei aquilo estranho. Foi quando ele disse que eu precisaria estar disponível para viagens de 10 dias, e que nessas viagens eu teria que atendê-lo por duas ou três vezes. Quando eu disse que não estava entendendo, ele falou: 'Eu estou procurando alguém que atenda as minhas necessidades, foi por isso que eu te perguntei se você é solteira'", contou.
SÉRIE DE RELATOS
A postagem desencadeou uma série de relatos de mulheres, que também haviam sido abordadas pelo mesmo homem. Na maioria dos relatos, as mulheres contaram que desconfiaram das intenções do homem e pararam de falar com ele.
Alguns casos aconteceram há mais de seis anos, quando o homem usava um outro perfil no Facebook para oferecer as supostas vagas. Há relatos também de vítimas contatadas via Linkedin, uma rede social voltada para trabalho, onde o homem também anunciava as vagas.
HOMEM JÁ TENTOU BEIJAR VÍTIMAS
De acordo com relatos, o contato, porém, vai além do campo virtual. O objetivo do homem é atrair as vítimas até o escritório, onde de maneira explícita, ele diz o real objetivo da entrevista. No fim de 2018, uma auxiliar de televendas, de 19 anos, chegou a se encontrar com o homem para uma suposta entrevista de emprego.
"A gente conversou por mensagem no Linkedin numa sexta-feira. Ele fez várias perguntas, algumas bem estranhas sobre meu peso, minha altura, se eu era solteira e se morava sozinha. Ele chegou até pedir meu perfil no Facebook para ver a minha foto. Como eu precisava muito trabalhar, eu não vi maldade e aceitei encontrá-lo pessoalmente para uma entrevista, no dia seguinte, um sábado. Na hora até questionei o fato de ser fim de semana, mas ele disse que fazia plantão e que o escritório estaria cheio", declarou.
A jovem foi até o Centro de Vitória, em um endereço que o homem dizia ser o local de trabalho. Ela disse que o porteiro liberou o acesso dela pela garagem, já que o prédio, que é comercial, estava fechado. Ao chegar no escritório, ela percebeu que não havia ninguém no lugar e começou a ficar desconfiada, até que o homem tentou beijá-la.
"Assim que eu entrei na sala, ele trancou a porta. Ele começou a perguntar se eu já tinha trabalhado com outros homens, como era o meu relacionamento com eles. Quando eu disse que era bem profissional, ele falou que hoje em dia as mulheres se relacionavam com os chefes, que não tinha problema, que era a forma que as mulheres conseguiam emprego. Eu fiquei nervosa e perguntei se ele realmente tinha a vaga, ele disse que sim, mas que precisava de uma pessoa que fizesse ele relaxar, porque o trabalho era muito estressante. Foi então que ele se aproximou de mim, pegou no meu braço e disse que era para a gente fazer um teste. Aí ele tentou me beijar", contou.
Desesperada, a jovem correu para a porta e ameaçou gritar caso o homem não abrisse. Ele destrancou a porta e disse que ela não precisava se assustar. A jovem foi embora, mas continuou recebendo mensagens do homem, que perguntava se ela não tinha uma amiga para indicar para a vaga.
DELEGADO ORIENTA QUE VÍTIMAS PROCUREM A DELEGACIA
Apesar de dezenas de mulheres relatarem terem sido contactadas pelo homem, nenhuma delas procurou a polícia para denunciar. Muitas delas relataram terem medo ou falta de provas contra ele.
O delegado titular da Delegacia de Repressão a Crimes Cibernéticos, Brenno Andrade, ressaltou a importância de procurar a delegacia e fazer a denúncia. Ele considerou os relatos graves e disse que o suspeito pode estar cometendo um crime previsto no artigo 228 do Código Penal, de indução ou atração à prostituição ou algum tipo de exploração sexual.
"Pode ser um caso de favorecimento à prostituição e até mesmo de estupro, dependendo do que aconteceu nestes encontros com as vítimas. Por isso é importante que estas mulheres procurem a delegacia com os prints das conversas e relatem cada caso para que iniciemos uma investigação", declarou.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta