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Ilha da Trindade pode ser a maior reserva marinha do Atlântico

Ilha da Trindade pode ser a maior reserva marinha do Atlântico

Uma consulta pública será realizada em Vitória para discutir sobre a criação de unidades de conservação em uma área de 450 mil quilômetros quadrados

Publicado em 27 de janeiro de 2018 às 00:03

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Ponta sul da Ilha da Trindade, onde se encontram as localidades Parcel, Túnel e Cratera, vista do Pico do Desejado. (João Luiz Gasparini)

A cordilheira submersa em torno da Ilha da Trindade, que fica a 1.200 quilômetros de distância de Vitória, poderá se tornar a maior reserva de proteção ambiental do oceano Atlântico. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, uma consulta pública está marcada para o próximo mês na Capital, com o objetivo de discutir a proposta de criação de unidades de conservação no local. Após a discussão, um decreto será elaborado e enviado para apreciação do presidente Michel Temer.

Segundo o secretário de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, José Pedro de Oliveira Costa, a área protegida será de 450 mil quilômetros quadrados. De acordo com ele, a Marinha do Brasil já desenvolve uma série de atividades de proteção e fiscalização no local. Mas a proposta é dar um reforço a esse trabalho com o apoio do Ministério da Defesa e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

“A ideia é que a população de Vitória e de todo o Espírito Santo contribuam com a discussão. A pesca existe e deve continuar existindo desde que ela não seja predatória. Por isso temos que ampliar a fiscalização a partir do momento que conseguimos mais recursos”, explicou o secretário.

Ilha da Trindade, que fica a 1.200 quilômetros de distância de Vitória. (João Luiz Gasparini)

RIQUEZAS NO MAR

O biólogo João Luiz Gasparini, que faz parte da expedição que irá estudar as linhas de montanhas submarinas, os montes de corais e a evolução das espécies e populações de peixes desde a costa até a Ilha de Trindade, explicou que a cada mergulho na região algo novo é descoberto pelos pesquisadores. “A gente mal arranhou a casca do ovo ainda. O pouco que a gente conhece é muito rico”, comentou.

Ainda de acordo com o especialista, a velocidade da destruição da região é inversamente proporcional a velocidade de descobertas dos pesquisadores. “Se não protegermos uma boa parte, vamos acabar perdendo antes mesmo de descobrir a riqueza da cordilheira”.

Gasparini explicou que embarcações pesqueiras internacionais são as grandes vilãs da biodiversidade. Segundo ele, esses barcos colocam quilômetros de anzol e pescam todos os tipos de peixes que aparecem pela frente. No entanto, Gasparini alerta que a pesca não pode acontecer em áreas consideradas berçárias como tem acontecido.

“É importante frisar que ao criar uma unidade de conservação não significa que os pescadores não terão onde pescar, mas irá proteger algumas áreas para que tenha peixes em todo o mar. Se a pesca acontecer em todos os lugares, irá acabar com áreas berçárias. Abrolhos, na Bahia, por exemplo, serve como uma exportação de peixe para todo o mar em volta. Se houvesse pesca eminente lá, nossa indústria pesqueira já estaria com muitos prejuízos”, explicou.

POTÊNCIA FARMACÊUTICA

Ilha da Trindade é uma ilha vulcânica na costa do Espírito Santo. (João Luiz Gasparini)

Gasparini destacou que também há grupos de pesquisadores que estudam as esponjas do mar e algas localizadas na cordilheira que têm potencial para descobertas farmacêuticas como desenvolver medicamentos anticancerígenos e até remédios que podem substituir antibióticos. Dessa forma, o especialista ressalta que criar uma unidade de conservação no local seria uma forma de ordenar o caos.

Outra preocupação dos estudiosos que será observada na expedição é em relação a quantidade de plásticos no mar. Gasparini explicou que muito lixo jogado na costa chega na ilha Trindade, além do lixo que é despejado por embarcações pesqueiras e cruzeiros. “As pessoas descartam o lixo como se ele fosse sumir, mas para dentro do estômago dos peixes e inclusive voltam para a gente através das substâncias que ficam no organismo deles”.

CONQUISTA HISTÓRICA

Se o decreto for aprovado,o biólogo Hudson Tércio Pinheiro, que também participa da expedição, avalia a decisão como uma vitória. De acordo com ele, desde 1960 pesquisadores se movimentam para que a unidade de conservação seja criada na Ilha da Trindade.

“A reserva é muito importante para a biodiversidade marinha porque é fundamental essa conectividade entre a costa e a ilha. É justamente essa conexão que permite uma alta quantidade de espécies que chamamos de endêmicas, ou seja, que não se reproduzem em nenhum outro lugar do planeta”, ressaltou.

Dessa forma, na avaliação do especialista, conseguir a unidade de conservação é uma garantia para as gerações futuras. “A pesca, o turismo de mergulho e outras atividades podem ser sustentáveis. A cordilheira é um lugar muito importante e muito frágil”, explicou.

CONSULTA PÚBLICA

O ICMBio convida a comunidade em geral, órgãos ambientais, entidades públicas federais, estaduais e municipais, além de organizações não governamentais e representantes dos setores produtivos para participar da consulta pública que será realizada às 14 horas, dia 8 de fevereiro, no Projeto Tamar, na Enseada do Suá, na Capital. O objetivo é discutir a proposta de criação de unidades de conservação marinhas na região da Ilha da Trindade.

Qualquer dúvida pode ser enviada para o e-mail [email protected] ou por correspondência para: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, Diretoria de Criação e Manejo de Unidades de Conservação - DIMAN, Coordenação de Criação de Unidades de Conservação - COCUC, EQSW 103/104, Bloco D, Complexo Administrativo, Setor Sudoeste - Brasília/ DF, CEP: 70.670-350.

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Pesquisadores viajam até a Ilha de Trindade para estudar a origem das espécies marinhas. (João Luiz Gasparini)

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