Com a possibilidade de ser a maior reserva marinha do Atlântico, a Ilha de Trindade - que fica a 1.200 quilômetros de Vitória - passará a ser Área de Proteção Ambiental. O decreto, que transforma os arquipélagos de São Pedro e São Paulo, em Pernambuco, e de Trindade e Martim Vaz, no Espírito Santo, nos dois maiores conjuntos de unidades de conservação marinha do país saiu no Diário Oficial da União (DOU) desta terça-feira (20).
De acordo com a decisão publicada no DOU, duas Áreas de Proteção Ambiental (APA) e dois Monumentos Naturais (Mona) foram criados nas proximidades dos arquipélagos, num total de 92 milhões de hectares, o equivalente às áreas de Minas Gerais e Goiás juntos.
O anúncio da criação do decreto foi feito pelo ministro do Meio Ambiente, Sarney Filho, durante o 8º Fórum Mundial da Água, em Brasília. O ministro ainda falou que o Brasil vai ampliar de 1,5 para 25% na criação das unidades de conservação. "É um salto fundamental para protegermos os nossos oceanos dos riscos da degradação", declarou.
RIQUEZAS DO MAR
Em entrevista ao Gazeta Online, o biólogo João Luiz Gasparini, que faz parte da expedição que estuda as linhas de montanhas submarinas, os montes de corais e a evolução das espécies e populações de peixes desde a costa até a Ilha de Trindade, explicou que a cada mergulho da região, algo novo é descoberto pelos pesquisadores.
Segundo ele, a velocidade da destruição da região é inversamente proporcional à velocidade de descobertas dos pesquisadores. Se não protegermos uma boa parte, vamos acabar perdendo antes mesmo de descobrir a riqueza da cordilheira.
Gasparini explicou que embarcações pesqueiras internacionais são as grandes vilãs da biodiversidade. Segundo ele, esses barcos colocam quilômetros de anzol e pescam todos os tipos de peixes que aparecem pela frente. No entanto, Gasparini alerta que a pesca não pode acontecer em áreas consideradas berçárias como tem acontecido.
É importante frisar que ao criar uma unidade de conservação não significa que os pescadores não terão onde pescar, mas irá proteger algumas áreas para que tenha peixes em todo o mar. Se a pesca acontecer em todos os lugares, irá acabar com áreas berçárias. Abrolhos, na Bahia, por exemplo, serve como uma exportação de peixe para todo o mar em volta. Se houvesse pesca eminente lá, nossa indústria pesqueira já estaria com muitos prejuízos, explicou.
A proteção da cordilheira dona da maior variedade de espécies que vivem em recifes entre todas as ilhas brasileiras era uma demanda antiga de pesquisadores, que a consideram essencial para a manutenção de estoques pesqueiros em águas vizinhas e um dos melhores laboratórios naturais do mundo. A cadeia ganhou visibilidade global em agosto de 2017, quando um estudo baseado na formação de sua fauna foi capa da revista científica Nature.
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