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Iraquiano no ES se preocupa com família após conflitos entre EUA e Irã

Iraquiano no ES se preocupa com família após conflitos entre EUA e Irã

Ex-integrante da Guarda Revolucionária Iraniana e também do Hezbollah, o empresário iraquiano Haidar Kasem Alkadomi se diz preocupado com o aumento da tensão na região após a morte do ex-líder do Irã Qasen Soleimani pelos Estados Unidos

Publicado em 8 de janeiro de 2020 às 18:28

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Haidar Kasem Alkadomi é iraquiano e tem familiares no Irã e no Iraque. (Arquivo pessoal)

Desde a morte do general e ex-líder do exército iraniano Qassen Soleimani em uma ofensiva orquestrada pelos Estados Unidos na última semana, o clima de tensão por um novo conflito militar se estabeleceu no Irã e nos países próximos ao Oriente Médio. O mundo observa com ares de preocupação a escalada do temor e ela também chegou em Vila Velha, onde o empresário iraquiano Haidar Kasem Alkadomi, de 52 anos, trabalha e reside.

Com parentes morando não apenas no Irã como também no Iraque, Haidar se mostra receoso em relação à segurança dos familiares em ambos os países.

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Morei no Irã por uns cinco anos e metade da minha família mora lá, na cidade de Qom, vizinha à capital Teerã. Tenho duas irmãs e primos morando lá. Na guerra entre o Irã e Iraque, ficamos divididos. Na época, boa parte dos iraquianos foram expulsos e parte que desertou, como é o meu caso, foi para o país vizinho. A situação do Irã é melhor que a do Iraque, por isso minhas irmãs foram para lá. Eles estão no meio dessa briga e confusão política

Haidar Kasem Alkadomi
Empresário iraquiano e promotor de eventos
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Por conta da distância, as conversas ocorrem através de aplicativos de troca de mensagens, e elas se acentuaram nos últimos dias após a morte do líder iraniano. "Falo com eles constantemente pelo whatsapp e a situação é realmente tensa. Eles estão preocupados porque o avião não escolhe onde atacar. A morte do Qasem Soleimani foi específico e programado, foi um ataque direcionado, mas na guerra isso não acontece. Lançam onde tiver que lançar", contou Haidar.

OPORTUNIDADES

O empresário e promotor de eventos de MMA no Estado explica que os familiares que moram no Irã saíram do Iraque em busca de melhores oportunidades, visto a situação caótica que o Iraque atravessa há décadas e que piorou nos últimos anos.

Haidar promove eventos de MMA no Espírito Santo. (Arquivo pessoal)

"No Irã existe mais oportunidades de emprego e uma estabilidade econômica, mas no Iraque, principalmente após a retirada de Saddam Russein, o país virou terra de ninguém, está horrível. Conversava hoje cedo com um amigo de lá sobre esporte, pois tenho uma filial no Iraque da minha loja de MMA, e ele me disse que o Iraque virou terra de acerto de contas. Os Estados Unidos queriam acertar conta era mesmo com o Irã, mas o 'acerto' foi com o Iraque. Hoje o próprio iraquiano está se matando, uns são a favor da presença dos EUA e outros não. O civil não sabe de quem deve se proteger — meus familiares estão em meio a tudo isso", disse.

EX-COMBATENTE

Quando Haidar fala da situação de ameaça de guerra no Irã, ele comenta com conhecimento de causa. Por anos ele dedicou-se ao militarismo, integrou grupos importantes e foi para o combate.

Haidar foi combatente de forças militares iranianas e se mudou para o Brasil em 1996. (Arquivo pessoal)

"Lutei por cinco anos em favor do Irã, inclusive na Guarda Revolucionária Iraniana (uma das forças armadas do país). Fui pago e aliado deles no Hezbollah, sendo apoiado e comandado pela Guarda Revolucionária. Lutei entre 88, 89, no final da guerra entre o Irã e o Iraque, até o ano de 1995. Guerrear era a única coisa que eu podia e sabia fazer. Nos dois países, logo na primeira série da escola já existe um ou dois dias de treinamento militar, pois esses países vivem em clima de guerra. E naquela época, para fugir de estudar, eu gostava de ir treinar. Então com uns 13 anos já fui incorporado. Em 1996 desertei de todas essas guerras, mas já fiz parte de vários grupos de guerrilhas", recorda-se Haidar.

DESTINO ALEATÓRIO

No intuito de sair da realidade de guerra, o iraniano aventurou-se em um navio e deu a sorte de aportar no Brasil, que não era o destino planejado.

"Vim clandestinamente parar o Brasil em 1996. Viajei no porão de um navio e acabei descendo em Vila Velha, porém minha ideia era seguir para a Holanda. Meus amigos estavam todos me esperando lá, mas a receptividade do povo brasileiro me chamou a atenção e me identifiquei com vocês, mesmo com condições inferiores às que encontraria em outros países para uma pessoa desertada, como era o meu caso. O que o governo não me ofereceu, o povo me deu. Depois disso nunca mais saí de Vila Velha, mal vou para Guarapari", conta Haidar.

Desde que fixou moradia em solo capixaba, o empresário não arriscou pisar no Oriente Médio novamente. Vontade existe, até por conta dos parentes que seguem no Irã e Iraque, mas o temor pelo passado de combatente e a situação atual na região o mantém por aqui.

"Nunca mais voltei para lá, mas teve uma época que nem se eu quisesse eu poderia, principalmente no período do Saddam Hussein. Sendo um desertor talvez eu teria uma chance de não ser fuzilado, o problema foi eu ter enfrentado o exército deles. Durante o combate,  cheguei a enfrentar antigos companheiros de guerra, um dos meus primos, e também um funcionário que trabalhava para meu pai. Chegou nesse ponto de um matar o outro por nada. Seria perigoso ir para lá", avaliou.

SADDAM HUSSEIN

Tendo crescido no Irã quando liderado pelo ditador Saddam Hussein, Haidar explica que o que ocorria no país não se tratava de perseguição religiosa por parte do ex-presidente. As mortes atreladas ao ex-líder se davam por quem se opusesse aos ideais de Hussein.

Saddam Hussein foi morto em dezembro de 2006. (AP)

"O povo falava muito que o Saddam praticava perseguição religiosa no Iraque, mas isso é invenção, nunca existiu. O que havia de fato era perseguição a quem se opusesse a ele, não importava qual o seu Deus. Eu e minha família passamos por isso no Iraque. Costumo dizer que após a queda dele, tirou-se o cachorro e puseram um leão no lugar. Agora não há governo, está ainda pior. O Iraque foi devastado, o povo sofre, sobrevive com caridade. Ajudo meus familiares de lá, mando dinheiro direto para eles", disse Haidar, aproveitando para explicar que a imagem que chega do Oriente Médio ao Brasil, em especial do Irã, é deturpada.

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Comparo o Irã com o Rio de Janeiro. O que chega até aqui é uma imagem de que se vive apenas em meio à violência, assaltos e tiros o tempo todo. Mas não é assim, e recomendo o país para turismo. Muitas pessoas me perguntam e digo que existem dois Orientes Médios. Há o iraniano, que é um pouco mais fechado e voltado à arquitetura, cultura e religião, contrapondo à liberdade encontrada em Dubai (Emirados Árabes), por exemplo. Mas é um país lindo, com belas mesquitas.

Haidar Kasem Alkadomi
Empresário iraquiano e promotor de eventos
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QUEDA DE AVIÃO

Nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (8), o mundo foi surpreendido com a notícia da queda de um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo logo após decolar do Aeroporto de Teerã com destino a Kiev, na Ucrânia. A tragédia ocorreu horas depois de o Irã ter disparado mísseis contra duas bases norte-americanas que abrigam tropas no país vizinho, o Iraque. Haidar não duvida que a aeronave pode ter sido abatida pelos iranianos.

Avião ucraniano cai no Irã . (Reprodução/ Twitter @eulmreal)

Nas primeiras horas da manhã desta quarta-feira (8), o mundo foi surpreendido com a notícia da queda de um avião ucraniano com 176 pessoas a bordo logo após decolar do Aeroporto de Teerã com destino a Kiev, na Ucrânia. A tragédia ocorreu horas depois de o Irã ter disparado mísseis contra duas bases norte-americanas que abrigam tropas no país vizinho, o Iraque. Haidar não duvida que a aeronave possa ter sido abatida pelos iranianos.

"Realmente acredito que o avião foi derrubado e não culpo o Irã por isso... Não consigo entender o que os americanos estão fazendo lá no Oriente, em especial lá no Iraque. Eles continuam roubando o petróleo, mas para quê morar lá e explorar aquele povo? Eles querem ensinar os iraquianos a se defenderem, mas o país vive em guerra há 50 anos. Chega a ser engraçado, uma piada. Na embaixada dos EUA se estima ter entre quatro a seis mil funcionários em Teerã. Eles fazem o que querem, são intocáveis.", salienta o promotor de eventos.

A morte do ex-líder iraniano Qasem Soleimani em um bombardeio aéreo norte-americano aumentou o clima de tensão no Oriente Médio. (AP)

A postura dos norte-americanos no país é o que mais incomoda os iraquianos, aponta Haidar. Segundo ele, as tradições e culturas locais são ignoradas pelos estrangeiros, o que acaba provocando as recorrentes situações de conflito.

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"Mas não existe clima de hostilidade com os americanos apenas pela nacionalidade, isso nunca existiu. O que ocorre é como se um argentino viesse aqui e impusesse um toque de recolher. Óbvio que vai incomodar os brasileiros. Agora se ele chegar aqui para jogar futebol, trabalhar na boa, ele será bem recebido. Lá é a mesma coisa. O povo iraquiano, aliás, é muito parecido com o brasileiro. Tem uma alegria e é muito hospitaleiro. Agora vem um americano querendo andar com fuzil, impondo toque de recolher e ofendendo o povo, ele sofrerá consequências", finaliza.

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