Ressaltar os feitos dos negros contadores de história, resgatando a tradição da oralidade na África Ocidental, onde os anciãos relatavam para os mais jovens os feitos e as conquistas de um povo. Esse é o conceito de "Griot", enredo que a Unidos de Jucutuquara leva para o Sambão do Povo no desfile do Grupo Especial do carnaval capixaba, que acontece no sábado (15), com transmissão da TV Gazeta.
Com um dos sambas mais elogiados de 2020, a Coruja pretende conquistar um título que não vê há 10 anos. O último triunfo foi em 2009, com o histórico Convento da Penha: O Relicário de um Povo, um de seus desfiles mais luxuosos e perfeitos tecnicamente.
"Chegamos a Unidos de Jucutuquara com uma responsabilidade imensa, que é resgatar seus desfiles grandiosos, reafirmando a escola ao patamar de favorita ao título. Nada como um enredo que transforma a arte de contar lendas em forma de música, dança e literatura, fazendo do negro o protagonista de sua própria história", adianta Vanderson César, que assina o desfile ao lado de Jorge Mayko.
Com um orçamento previsto em cerca de R$ 450 mil, a agremiação levará para a avenida 1.500 componentes, divididos em 19 alas. Serão 160 ritmistas na bateria e 4 carros alegóricos. Será a segunda a desfilar, logo depois da tradicional Unidos da Piedade.
No enredo da Jucutuquara - que busca o seu oitavo título - , os sábios africanos "griots" serão ressignificados para a realidade brasileira. Entre os lembrados do desfile devem estar os escritores Machado de Assis, Carolina de Jesus, Cruz e Souza, Conceição Evaristo, Elisa Lucinda e Zé Bento (contador de histórias e ativista da cultura popular capixaba).
Fora do mundo das letras, haverá espaço para os "griots-rappers" Emicida e Karol Conká, o artista Abdias do Nascimento (criador do Teatro Experimental do Negro e do Museu da Arte Negra) e os folcloristas Terto, Maria Laurinda, Isolina e Canutinha, mestre e mestras da Cultura Popular do Espírito Santo.
"Nossa apresentação terá quatro setores. A comissão de frente será um dos pontos altos da festa, em que vamos fazer uma ressignificação dos 'griots', afirmando sua lenda e importância para a cultura", adianta, revelando também que o carro abre-alas, mostrando um grande ritual afro, deve causar impacto.
Os cinquenta e sete anos de vida de Genivaldo Alves se misturam à trajetória da Unidos de Jucutuquara. Um dos fundadores da Coruja, o funcionário público foi mestre de bateria por dez anos e, quando criança, o primeiro porta-estandarte.
"Me lembro da década de 1970, quando a Jucutuquara ainda era o bloco As Meninas do Rock. Tinha uma disputa supersaudável com o Alegria-Alegria, de Santo Antônio, e o Bloco do Caveira, de São Torquato. Começamos brincando o carnaval nas ruas do bairro. Em 1972, como Unidos de Jucutuquara, nos apresentamos no centro, já iniciando uma estrutura maior", relembra, com nostalgia.
No final da década de 1970, a transição para escola de samba veio a pedido da Prefeitura de Vitória. "A partir de então, não paramos mais de crescer, virando um gigante do carnaval. O primeiro título veio em 1990, com "Na Mistura da Torta, a Nossa Mistura", falando sobre a tradição da torta capixaba.
Integrante da única tetracampeã do Carnaval Capixaba (de 2006 a 2009), Genivaldo cita o último título, em 2009, com o enredo "Convento da Penha: O Relicário de um Povo", como sendo a apresentação mais marcante. "O momento mais difícil, infelizmente, é inesquecível para a nossa comunidade. Em 2014, faltando dois dias para o carnaval, tivemos a morte do nosso presidente, Mestre Ditão. Era mestre de bateria na época e foi muito difícil desfilar. Tivemos que passar por uma reestrutura emocional e entramos na avenida com uma garra que poucas vezes vi antes", complementa.
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