Mais de 1,1 mil pessoas aguardam na fila de espera por um transplante de órgãos no Espírito Santo. Os dados da Central Estadual de Transplantes mostram que a maior demanda em todo o Estado é por um rim, com 920 pessoas na fila. Em seguida, 161 pessoas esperam por córneas, 41 precisam de transplante de fígado e cinco pessoas aguardam um coração.
Entre janeiro e dezembro de 2018 foram realizados 421 transplantes no Estado: transplantes de córnea (260), de rim (67), de fígado (25), de coração (10), um transplante duplo de rim e fígado, 21 transplantes de esclera - que é o "branco do olho", e 37 transplantes de medula óssea.
O número total de transplantes realizados nesse período é 16% menor do que o registrado no mesmo período de 2017, quando foram feitos 501 transplantes no Estado.
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De janeiro a dezembro de 2017, foram notificados 226 casos de morte encefálica ao órgão pela rede hospitalar do Espírito Santo. Já em 2018, foram notificados 167 casos. Percebe-se, portanto, que houve menos notificação de morte encefálica, que é a principal condição para a doação de órgãos (exceto no caso de córneas, que também podem ser doadas quando o paciente morre por parada cardiorrespiratória).
De acordo informações do Ministério da Saúde, os órgãos que podem ser transplantados são o coração, o fígado, o pâncreas, os rins e os pulmões. Tecidos e células, como córneas, válvulas do coração, ossos, pele, sangue, medula óssea e cartilagens também podem ser doados.
RECUSA FAMILIAR
O médico Ivan Matavelli Santos, de 34 anos, que é cirurgião do aparelho digestivo e responsável técnico da Central de Transplantes do Espírito Santo, detalhou que a principal demanda sobre a recusa familiar na decisão da doação de órgãos, se dá com um trabalho voltado para o atendimento da central com a família da vítima.
"Fazemos um trabalho voltado para este atendimento, para a pessoa entender como funciona, saber como é o transplante e, principalmente, a capacitação para esse contato com a família, qual é a melhor forma de explicar o que é a morte encefálica", disse.
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Matavelli disse que parte da recusa é por conta do desconhecimento das pessoas quanto à morte encefálica, por questões religiosas ou porque a família não conhecia a vontade do familiar em vida. "Nós vamos desenvolvendo capacitações para fazer uma entrevista familiar mais adequada", detalhou.
RECUSA EM QUEDA
Apesar da notificação de morte encefálica ter diminuído em 2018, a Secretaria de Estado da Saúde do Espírito Santo (Sesa-ES) informou que houve redução da recusa familiar, que caiu 63% entre janeiro e dezembro de 2017 para 45% no mesmo período de 2018; o órgão esclarece que isso demonstra que em universo menor de doadores elegíveis, o percentual de doadores efetivos foi maior.
EXPONHA À SUA FAMÍLIA O DESEJO DE DOAR
De acordo com a Sesa, não basta um documento declarando que a pessoa é doadora de órgãos para que seus órgãos sejam doados em alguma emergência. A palavra final é da família da vítima. Por isso, a secretaria reforça a importância de que as pessoas conversem com seus familiares expondo o desejo de ser doador.
Matavelli esclarece. "Por volta de 1999, 2000, existia uma lei em que era obrigatório colocar na identidade se a pessoa era doadora de órgãos ou não. Acontece que teve uma repercussão muito negativa para o transplante no Brasil. Em 2001, então, isso foi retirado e abolido. Ficou definido a partir de então: não importa o que é falado em vida, quem vai decidir em caso de morte encefálica é a família", descreveu.
PROTOCOLO DECRETA MORTE ENCEFÁLICA
Para que um paciente seja diagnosticado com morte encefálica, existe uma série de exames que compõem um protocolo definido por uma resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM). "Com isso, é algo muito bem protocolado, de tal forma que só conseguimos fechar quando existe total certeza. E, se nesse meio surge alguma dúvida sequer, por menor que seja, o protocolo não pode ser validado", informou o médico.
Ivan explicou, ainda, que, para diagnosticar o paciente com morte encefálica, são feitos dois exames clínicos por médicos diferentes e ambos capacitados na análise; além disso, o resultado deve ser reconhecido pela direção técnica do hospital. Um teste de apinéia e exames complementares também são feitos.
DOAÇÃO EM VIDA
Em entrevista ao Gazeta Online, Ivan explicou que as doações em vida exigem algum grau de parentesco e que, até quarto grau, pode-se fazer uma doação sem problema algum. "Para fazer uma doação para outra pessoa, que tenha algum vínculo pessoal, um relacionamento, por exemplo, é exigido uma avaliação muito maior e realmente não é contemplado pela legislação".
Por conta disto, é feita uma solicitação que passa por várias instâncias na própria Central de Transplantes, que precisa até de uma autorização judicial para ceder a doação. "Em caso de qualquer inconsistência, o transplante não é autorizado" informou.
Como doar
Chamados de órgãos sólitos, os que podem ser doados em vida são rim, fígado e pulmão. Os tecidos, a pele e a medula óssea, também podem ser doados e exigem compatibilidade genética e outros critérios médicos de saúde. Para se tornar doador, é só se cadastrar no Hemocentro do Estado do Espírito Santo (Hemoes). Lá, farão uma ficha com os dados pessoais do doador. Ele deve ser contactado quando surgir uma pessoa compatível precisando que esteja precisando de ajuda.
Hemocentro do Estado do Espírito Santo (Hemoes)
Telefone para contato: 27 3636-7900/7920/7921- Avenida Marechal Campos, 1.468, Maruípe, Vitória. Funciona todos os dias, das 7 às 19h (cadastro do doador encerra as 18h20).
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