As manchas de óleo que já atingiram um total de 133 locais nas praias do Nordeste até o último domingo (6) podem também atingir o litoral capixaba. A afirmação é do pesquisador Hudson Pinheiro, ligado ao Programa de Pós Graduação em Oceanografia Ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
A reportagem de A Gazeta conversou com o pesquisador, que explicou com detalhes sobre o assunto. Ele destacou que o número de locais afetados pela substância, identificada como petróleo cru, está aumentando e a área abrangida pelo impacto também.
"Como atingiu o Norte da Bahia, com certeza existe sim a possibilidade de se espalhar ainda mais ao longo da costa brasileira e chegar ao Espírito Santo", salientou.
A larga mancha de petróleo já chegou ao norte da Bahia, o que preocupa o pesquisador. "Ela ainda não parou. Como chegou ao norte da Bahia, o perigo maior é que chegue ao Banco de Abrolhos, onde tem a maior diversidade de espécies de corais do Brasil. É um importante banco de recursos pesqueiros e a maior parte dos peixes da culinária capixaba vem dessa região", detalhou.
Ele explica que a maior parte do Banco de Abrolhos fica no Norte do Espírito Santo e que existe, sim, a possibilidade deste material chegar ao Estado porque não parou de se espalhar. Mas não há como prever uma data porque os especialistas ainda não sabem onde foi a fonte e qual é a intensidade do derramamento. "Se a gente soubesse, dava para fazer uma modelagem e detalhar quanto tempo demoraria para chegar até aqui", contou o pesquisador da Ufes.
Um gabinete de crise foi criado no último sábado (5) pelo governo de Sergipe para solucionar o problema ambiental no litoral do Estado. Desde 24 de setembro, as praias do litoral nordestino foram tomadas pelas manchas de óleo.
Hudson explica que o material derramado em alto-mar é altamente tóxico, destruindo e recobrindo o fundo do mar por onde passa o que é fatal para a espécie de organismos que lá vive.
* Comunidade bentônica: são todos os organismos marinhos que vivem no fundo do mar. As anêmonas, os corais, esponjas, estrelas-do-mar, até mesmo os camarões que vivem na areia. O especialista explica que todos podem ser diretamente prejudicados tanto para a base da cadeia alimentar tanto pelo habitat da vida marinha.
Hudson explica. Ele afirma que existem formas de conter, e que as empresas deste ramo têm logísticas que são dedicadas a este tipo de vazamento e impacto ambiental.
"Eles conseguem conter o produto. Existe um produto químico que joga em cima e fica mais fácil de retirar. Existem várias alternativas técnicas", finalizou.
A Gazeta também entrevistou o doutor em Zoologia Cláudio Sampaio, professor da Universidade Federal de Alagoas, na Unidade de Penedo. Segundo ele, o Estado de Alagoas é um dos mais atingidos pelo óleo tóxico, e a tragédia ambiental é de grande tristeza.
"O óleo chegou bastante em Sergipe, as imagens são terríveis... Todos os Estados do Nordeste do Brasil já possuem registros do óleo nas suas praias. Desde o Maranhão até a Bahia. O Estado com maior área contaminada é em Alagoas. Estive lá no último domingo (6) e é uma situação de verdadeira tragédia. Bastante óleo. É triste", afirmou.
O mais triste, segundo Sampaio, é que o óleo atua em diferentes formas nos animais. Ele afirma que as aves perdem a capacidade de impermeabilizar as penas, ficam encharcadas, não conseguem voar e até perdem calor.
"É difícil tecer maiores comentários sobre a possibilidade desse óleo chegar no Espírito Santo, embora não seja descartada. Mas esperamos que, tão logo, seja identificada a origem desse óleo e que possamos, de imediato, tentar contornar essa situação que é uma tragédia", finalizou.
Doutora em Ciências Ambientais e graduada em Oceanografia, Mônica Costa, também professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), relatou que os danos causados pelo óleo na vida marinha, podem permanecer no ambiente agindo em nível molecular por décadas.
"Cada momento da história dessa mancha tem uma característica diferente. Ela se modificou em uma escala de horas-dias no início do processo, agora se modifica na escala de semanas e; eventualmente se deteriorará na escala de décadas. Essa deterioração é muito lenta e muda os riscos à fauna e flora conforme vai acontecendo", disse.
Mônica explica que para toda a fauna e flora marinha e costeira, independente de serem carismáticos ou não, independente do tamanho ou importância econômica, os danos são os mesmos. "Há um comprometimento sistêmico, de todos os ambientes atingidos. Além daqueles que não detectamos. O prejuízo é para a comundade, para toda a biodiversidade marinha", completou.
O Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), informou em nota que a equipe de técnicos do órgão, que incluem oceanógrafos experientes neste tipo de acidente, está acompanhando todos os acontecimentos na costa Nordeste do Brasil, com bastante atenção.
"O Iema informa que, ate a presente data, não é possível confirmar o atingimento do material na costa capixaba, visto que foi encontrado óleo nos limites norte da Bahia", afirma.
O Iema diz, ainda, que a preocupação é se este material chegar até a região Sul da Bahia, onde as correntes marinhas incidem preferencialmente em direção ao Espírito Santo, o que em tese poderia trazer este resíduo até o Estado, de acordo com a Carta de Sensibilidade Ambiental a Derramamento de Óleo no Mar (Carta SAO), que é a base de fornecimento de informações de todos os parâmetros oceanográficos.
O órgão finaliza dizendo que a Coordenação de Gerenciamento Costeiro e Territorial do Iema está em contato permanente com os gestores costeiros da Bahia.
Questionado pela reportagem de A Gazeta se o resíduo pode chegar ao Espírito Santo, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) disse que realiza a avaliação do impacto ambiental e dá direcionamento de ações de resposta à fauna, bem como orienta sobre a destinação de resíduos e sobre a limpeza das praias, definindo prazos das ações de limpeza e quais os ambientes devem ser priorizados.
"O Ibama permanece atento às novas áreas com presença de óleo, realizando as vistorias e orientações necessárias. O Ibama passou a revisitar as áreas em que houve óleo constatado (133 localidades em todo o nordeste, segundo mapa de 06/10 10h22). Na nova vistoria, as equipes de emergências ambientais do Ibama verificam se o local já está limpo, ou se ainda precisa de ações de limpeza", finalizou em nota.
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