Uma intervenção urbana mostra mais de 400 locais onde as mulheres sofreram algum tipo de agressão em bairros de Vitória. O mapeamento, realizado pela artista plástica Geisa Silva, aponta os locais onde os fatos ocorreram, e naquele ponto está sendo colocado um adesivo com o depoimento de uma mulher.
Cerca de 200 mulheres foram ouvidas por Geisa no Centro de Vitória, e outras 200 em Jardim da Penha e no campus de Goiabeiras da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). Os depoimentos foram colhidos nas ruas ou via online. A partir das informações, ela pode elaborar dois mapas com os pontos de alerta e agressões.
As situações de alerta, marcadas em amarelo, referem-se às situações em que as mulheres deixaram de frequentar alguns locais por medo do que a elas poderia acontecer. Ações adotadas a partir de relatos de outras mulheres ou por situações presenciadas pelas próprias mulheres. Já em vermelho, estão marcadas as agressões, sejam elas físicas, morais, emocionais, psicológicas ou patrimoniais, sofridas pelas vítimas.
Em cada um destes pontos foi afixado um adesivo com o relato do que ocorreu, uma frase dita pela vítima ou o sentimento que ficou após a agressão sofrida. "Evito andar em qualquer lugar da Ufes à noite", é dito em um adesivo. Outro traz o seguinte relato: "Fui espancada pelo meu ex-namorado aqui, em 2011, após uma discussão. Ele me chamou de piranha. Um colega de curso passou na hora e não fez nada. Tranquei o curso e sofri muitas consequências dessa violência", diz o depoimento assinado por uma mulher, artista e professora.
Segundo Geisa, a proposta do trabalho não era fazer só uma pesquisa. "Não somos só dados. Trago humanização para os números. O relato do que foi vivido, sentido, lembrado, sofrido. A arte vem humanizar e mostrar o lado da dor, do sofrimento. Tem ainda o objetivo de trazer uma reflexão sobre a condição da mulher na sociedade", explica a artista plástica, que é do Paraná, onde já realizou duas intervenções semelhantes.
O trabalho foi viabilizado a partir de um projeto da Secretaria de Estado da Cultura (Secult) e contemplava a realização de uma intervenção urbana. Iniciado em abril deste ano, levou seis meses para ser concluído.
Nesta sexta-feira (13) foi feita a intervenção colocação dos adesivos nos pontos de alerta e de agressão , em Jardim da Penha e no campus da Ufes. Na manhã deste sábado (14) o trabalho será realizado no Centro de Vitória. "A partir das 9 horas estaremos na pracinha da Rua Sete. Vamos apresentar o mapa da violência que produzimos para o Centro e colocar os adesivos. Quem desejar pode participar nos ajudando ou apresentando o seu depoimento", explicou.
Durante as entrevistas, chamou a atenção da artista o fato de que algumas mulheres nem conseguiam expressar os tipos de violência que sofreram. "Elas identificam a violência física, mas sentem dificuldade para falar da violência moral, psicológica, financeira, emocional", relata Geisa.
Também impressionou a artista a quantidade de situações que estão deixando de ser vividas pelas mulheres para evitar a violência. "Elas deixam de fazer muitas coisas por serem mulheres. Deixam de passar por ruas, visitar certos locais, de vivenciar e experenciar o que desejarem por serem mulheres. São muitas as estratégias que a mulher tem que criar para fugir de possíveis violências. Isto choca", relata Geisa.
Nas 400 entrevistadas, a artista encontrou apenas uma mulher que contava com medida protetiva. Em outros depoimentos ela ouviu mulheres que nunca tinham contado para outras pessoas a violência que haviam sofrido. "Uma delas me disse: 'Achei que esta história morreria comigo'. Outra me contou o quanto ficava impactada quando passava pelo local em que tinha sido agredida", relatou a artista.
Os mapas por ela produzidos vão ser entregues ao Centro de Psicologia, na Ufes, e à Delegacia da Mulher, no Centro.
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