O mercado de trabalho passa por uma constante transformação. Com a crise econômica, vários postos de trabalho foram fechados e os profissionais foram obrigados a se reinventarem para continuar na ativa. Para driblar o elevado número de desempregados, muitos optaram em investir no próprio negócio. De acordo com o administrador de empresas, autor de diversos livros sobre carreira e comentarista da Rádio CBN, Max Gehringer, empreender é a profissão do futuro.
Por outro lado, ele salienta que a instabilidade econômica trouxe danos irreversíveis para o mercado de trabalho, pois milhões de jovens deixaram de conseguir o primeiro emprego. Dificilmente conseguiremos reverter este quadro. O especialista esteve em Vitória para participar de um evento do Sindicato do Comércio Atacadista e Distribuidor do Espírito Santo (Sincades) e conversou com A GAZETA:
Estamos em um período em que o índice de desemprego é alto e as vagas de emprego estão menores. Como se adaptar a essa nova realidade?
A diferença desta para as outras crises que já tivemos no Brasil é que ela é longa. Não é que a atual seja mais danosa financeiramente. Na verdade, isso não aconteceu. Antes, a recessão durava três ou quatro meses, no máximo, e seis meses às vezes, como foi na época do Collor. Sempre acontecia alguma coisa e a situação voltava a se equilibrar. A instabilidade da economia já dura quatro anos, praticamente. O grande dano que essa crise provocou é que uma geração inteirinha de jovens, que deveria entrar no mercado de trabalho, não encontrou o primeiro emprego. Por ano, cerca de 500 mil jovens fazem 18 anos no Brasil, ou seja, foram 2 milhões de pessoas que não conseguiram uma primeira oportunidade profissional nesse período. Isso é um desastre! Quando a gente fala em índice de desemprego não pensamos individualmente em cada pessoa que não está empregada. Entretanto, temos que lembrar dos jovens que hoje têm 23 e 24 anos e não conseguiram emprego até agora. Na minha opinião, essa crise causou um mal irremediável. Nós não vamos conseguir recuperar isso, a não ser que o PIB no Brasil cresça 4% ao ano durante cinco anos seguidos. Sabemos que isso não vai acontecer. Essa é a maior tragédia que já aconteceu no mercado de trabalho.
É possível ver um lado bom da crise?
O lado bom da crise é que quando uma situação ruim dura muito tempo, chega um momento em que as pessoas se convencem de que ela não vai mudar. Um profissional que está sem emprego já fez de tudo, falou com parentes e rezou uma missa, mas nada aconteceu. É durante a instabilidade que as pessoas descobrem que elas precisam fazer alguma coisa a respeito. Prova disso é que um monte de gente está abrindo o próprio negócio. Estamos dobrando o número de micro e pequenas empresas em cinco anos. Tínhamos cinco milhões de empresas e vamos passar para dez milhões. Se não tem emprego, não adianta ficar procurando, é preciso criar a própria oportunidade e isso é trabalhar por conta própria. Quando falo em abrir uma micro empresa não estou dizendo necessariamente ter um espaço físico. Pode ser prestação de serviço como um profissional que conserta computadores, que vai na casa do cliente ou nas empresas fazer os acertos. É o que os jovens e muitos desempregados estão fazendo hoje. Não adianta a gente achar que se tem uma vaga no mercado, mas há dez pessoas na disputa, que todas elas vão ficar contentes, até porque nove delas vão ficar sem emprego.
As pessoas tiveram que se reinventar nesse período de crise. Qual é a melhor forma de investir?
Conheço várias pessoas que um dia ficaram desempregadas, o marido se separou, com filho pequeno para criar, não tinha dinheiro para comprar comida. Sabe essa situação?! Hoje, elas são milionárias. São grande franqueadoras e têm perto de mil franquias pelo Brasil. Conheço duas mulheres que passaram por isso. Uma delas me contou certa vez que quando era pequena as pessoas lhe diziam que ela fazia doces muito bem. Ela constatou que, por meio dessas pessoas, Deus estava dando o recado de que era esse o caminho que ela deveria seguir, pois era o que essa empresária sabia fazer e era reconhecida por isso. Com 11 anos de idade, ela era uma ótima doceira. Então, a empresária foi estudar outras coisas, casou, teve filho e quando a situação se complicou, pensou: o que devo fazer? Doces. Hoje, ela tem a maior franquia de bolos do país. É preciso entender que a família, os vizinhos e os amigos, em algum momento da vida, nos dizem o que fazemos bem. E nós acabamos indo para a direção contrária ou seguimos o que todo mundo já faz. Cada um deveria pensar melhor no que é bom e investir nisso.
Ser empreendedor é uma boa saída então?
A grande profissão deste século é ser empreendedor e não empregado.
O técnico é um profissional bastante demandado?
É o que consegue emprego fácil e está em falta no Brasil. Os jovens preferem ir direto para a faculdade, pulando essa etapa importante. Só para se ter uma ideia da escassez deste profissional, uma metalúrgica precisa fazer um convênio com o Senai para capacitar esses trabalhadores. Desta forma, eles podem estudar e trabalhar no mesmo lugar. Quando ele se forma como mecânico permanece na empresa, por exemplo.
Então fazer um curso técnico seria uma saída?
Esse seria o caminho ideal. O pessoal está correndo demais para fazer a faculdade e está entrando na fila dos desempregados. Se tivesse feito curso técnico, teria conseguido um emprego. E, uma vez empregado, poderia fazer uma faculdade.
Como um profissional que continua empregado pode se destacar na empresa?
A crise é igual a uma canoa, você precisa de dez pessoas e só tem cinco. Um fica de pé dizendo que os outros estão remando errado, um rema na direção oposta dos outros e outro fica quietinho se sacrificando e se matando para a canoa não virar. Quando acaba a crise a empresa vai saber quem é essa pessoa. É claramente perceptível quem resolve os problemas e quem fica reclamando. Então, o que a pessoa precisa fazer é trabalhar, produzir e ter resultados acima do que se espera dela. Quando a crise acabar, esse colaborador será o primeiro a ser recompensado ou promovido. E o que ficava em pé na canoa é demitido.
Qual o melhor momento para se pedir aumento?
Nenhum. Sempre tem que pedir uma oportunidade para você receber um aumento. Uma boa dica é montar um acordo com o superior, para depois disso você receber mais por isso. Nunca peça aumento na hora que você está precisando. Peça oportunidade, não aumento. As pessoas sempre pedem reajuste pelo motivo errado ou porque está com dívidas ou porque está no cheque especial ou ainda quando tem mais um filho. A empresa não tem nada a ver com isso, é um problema pessoal. A companhia não vai dar aumento porque o empregado tem um problema. A companhia só vai dar aumento quando ela pode tirar benefício disso. Não adianta pedir aumento pelo motivo errado. A resposta será não.
O que fazer para não ficar sobrecarregado no trabalho?
Quando a empresa contrata um profissional ela paga um salário para que ele execute seu trabalho em oito horas diárias, por exemplo. Suponha que esse trabalhador não consiga fazer todas as suas tarefas e deixe acumulado para o dia seguinte. Com o tempo, precisa ter alguém para ajudar. Quanto tempo ele vai durar? Certamente vão colocar alguém que dê conta, pois sempre tem uma pessoa que consegue. Além disso, não adianta usar a desculpa de que um setor tinha cinco funcionários, mandaram dois embora e ficaram três. A empresa está pagando para trabalhar por oito horas e não por volume de trabalho. Se começar a pensar como dono, fica fácil entender.
E quem quer conseguir um emprego, como elaborar um currículo?
Antes de mandar um currículo, é necessário pesquisar a empresa, olhar o site e ramo de atuação. A partir daí o trabalhador manda um currículo. Se ele leu com atenção o item de responsabilidade social, por exemplo, pode dizer no documento que fez algum trabalho voluntário. Não adianta mandar o mesmo currículo para 20 companhias que ninguém vai contratá-lo. Se fizer um currículo de acordo com o perfil de cada empresa, aumenta a chance de você ser chamado para entrevista.
O que esperar do futuro do mercado de trabalho?
Não podemos esperar nada. Vamos pensar em um prazo de 15 anos, que é o tempo de um criança nascer até chegar a hora dela escolher o curso superior que quer fazer. Então, se em 2003 fôssemos fazer uma previsão de como seria o mundo em 2018, teríamos errado tudo. A gente não previa que teria uber, youtuber e blogueiro, por exemplo. Ao invés de tentar adivinhar o que o filho vai fazer quando crescer, é muito melhor ficar de olho nos talentos dele. Desta forma, é possível direcionar os melhores caminhos. Se essa criança fala, escreve, faz conta ou canta, então a encaminhe em direção do que ela gosta e faz bem e não fique preocupado se ela vai seguir para o ramo da tecnologia, por exemplo. As gerações anteriores influíram demais nas escolhas dos filhos e criaram pessoas infelizes, pois eles seguiram carreiras que não queriam.
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