Uma das ações mais efetivas na preservação do meio ambiente e, ao mesmo tempo, de estímulo à economia, a coleta seletiva de resíduos sólidos (papel, papelão, vidro, plástico, metal) ainda está longe de alcançar índices satisfatórios. Na Grande Vitória, nem 5% do lixo coletado pelas prefeituras é seletivo. Todo o resto vai parar em aterros sanitários.
Para o professor Renato Siman, chefe do laboratório de gestão e saneamento ambiental da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), um dos problemas é o custo para a realização do serviço, até quatro vezes maior que a coleta convencional, especialmente pela baixa produtividade. Isso porque os caminhões fazem longas rotas sem ter onde coletar material reciclável, tanto porque boa parte da população não separa o lixo seco do úmido, quanto pelo fato de os municípios não montarem estruturas suficientes para a coleta.
SERVIÇO
O município com o melhor índice é Vitória, mas registra apenas 2,3% de coleta seletiva, e o indicador mudou pouco nos últimos anos. Em 2013, era 1,87%, e a administração estimava que, agora em 2018, chegaria a 30%, conforme reportagem de A GAZETA naquele ano.
O atual secretário municipal de Serviços, Leonardo Gonçalves, explica que, ainda que Vitória aumentasse sua capacidade de coleta seletiva - hoje, são 230 toneladas por mês - as associações de catadores não teriam condições de fazer triagem de todo o material. São três que hoje atendem a cidade e há mais uma se organizando para também realizar o serviço, o que pode contribuir no aumento do volume coletado, mas ainda muito longe de alcançar os 30%.
Nossa meta é sempre aumentar, mas gradativamente. Não dá para, da noite para o dia, dobrar o volume de coleta. Essa é uma atividade que depende da capacidade das associações em fazer a triagem, e também de nossa capacidade financeira para executá-la.
Vitória tem coleta porta a porta, em condomínios, e ecopostos espalhados pela cidade, para onde a própria população deve levar o lixo seco.
Já em Cariacica o índice é de 0,67%, o segundo melhor do Estado, conforme apontou Henderson Barros Trancoso, coordenador de Saneamento Ambiental. Por lá, 11% da população é atendida pelo programa Cariacica Recicla com coleta porta a porta em 10 bairros, além do recolhimento de lixo em prédios públicos e na rede municipal de ensino. A média é de 50 toneladas de resíduos por mês, que são distribuídas para duas associações. Nossa meta é chegar a 60% da população até 2020, frisa.
Na Serra e em Vila Velha não há indicadores fechados, mas a estimativa também é de menos de 1% de coleta seletiva. Nossa meta é expandir quando a gente licitar o novo serviço de limpeza pública. Estamos em fase de estudos, conta Verginia Rocha, engenheira sanitarista da Secretaria de Serviços da Serra. Atualmente, o município tem 23 pontos de coleta nas ruas e outros 88 em escolas.
Embora nossa meta seja ousada - ampliar mais de 50% dos pontos de coleta até dezembro - o sucesso depende muito mais das pessoas do que da prefeitura, diz Marizete de Oliveira Silva, secretária de Serviços Urbanos de Vila Velha, onde há 170 pontos cadastrados de coleta porta a porta.
Viana não dispõe do índice, mas segundo a gestora de meio ambiente, Cintia Candido Matias Laures, a meta para este ano é universalizar os pontos de entrega voluntária.
O professor Renato Siman destaca, porém, que não adianta a qualquer município colocar vários pontos de entrega, sem capacitar a população. Alguns municípios falam de grande cobertura, mas nem todos os moradores fazem a coleta seletiva. Investir em educação é fundamental, e a maioria não cuida dessa parte.
ANÁLISE | Renato Siman, professor da Ufes
É preciso investir em educação
"É preciso que os municípios ampliem a cobertura, e não é simples. Primeiro, é preciso profissionalizar as secretarias de serviços, trabalhar com indicadores de metas, rendimento, incremento na produtividade, além de dar continuidade às ações, mesmo que mude a administração. Há prefeituras que alegam falta de recursos, mas, mesmo se tivessem dinheiro, não veem a coleta seletiva como serviço de primeira necessidade. A população não costuma dar importância; não vê que os resíduos que produz podem ser aproveitados. Se a população é bem esclarecida, com pouco dinheiro se faz muito. Então, é preciso investir em educação. Outro ponto é que a indústria não tem incentivo para comprar material reciclado, em vez de matéria-prima virgem. Assim, mesmo se a cobertura aumentar, não haverá para quem vender e o reciclado acaba voltando para o aterro sanitário. É preciso reduzir tributos, desburocratizar e a indústria passará a optar pelo reciclado, gerando emprego e renda."
Lixões ainda são realidade no interior
A falta de aterro sanitário licenciado prejudica descarte adequado no Norte
Além de não realizar a coleta seletiva a contento, muitos municípios fazem o descarte de seu lixo de maneira inadequada. Especialmente no Norte capixaba, cidades encontram dificuldades pela falta de aterro sanitário licenciado na região e, considerando que o aterro mais próximo para receber os resíduos fica na Grande Vitória, o custo do transporte é alto.
Diante desse cenário, o Ministério Público do Estado do Espírito Santo (MPES) e outros órgãos estão discutindo, junto às prefeituras, a possibilidade de aditar algumas cláusulas ainda não cumpridas do Termo de Compromisso Ambiental (TCA), assinado em 2013, dentro da realidade de cada local.
Ressalta-se que todas as pendências dos municípios são discutidas junto ao promotor responsável pela comarca, e, em meio às discussões são acordados prazos e/ou soluções que melhor se adequem para minimizar os impactos ambientais destas atividades, em consonância com a legislação ambiental vigente, informa o Ministério Público, em nota.
Entre as propostas, ainda segundo a nota, está a implementação de aterros em substituição aos lixões (em 18 municípios havia lixões ativos no ano passado, segundo o MPES).
SOLUÇÕES
Como possíveis soluções, alguns municípios propuseram construir e licenciar aterros sanitários de pequeno porte (permitido a municípios que geram até 20 toneladas por dia de resíduos), outros estão na espera de que um aterro sanitário privado, que está sendo construído em Linhares, inicie as operações até o final do ano.
Muitos municípios ainda não cumpriram com outro item do TCA, que é a elaboração e execução do Programa de Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) para as áreas contaminadas pelos antigos lixões. Segundo o MPES, alguns municípios alegam falta de conhecimento técnico e falta de disponibilidade financeira para contratação dos estudos necessários.
Para mudar um pouco essa realidade, o MPES está propondo parceria com o Tribunal de Contas para que passe a realizar auditorias sustentáveis das contas públicas municipais, fato que induziria que as matérias ambientais fossem tratadas com maior preocupação por parte dos gestores municipais, finaliza a nota.
O Tribunal, por sua vez, informou que o acordo está em fase de discussão, mas diz que o órgão já dispõe de um núcleo especializado, formado por seis auditores, com dedicação exclusiva para fiscalizações na área ambiental.
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